Anulação de condenações de Lula influenciou na diminuição do negacionismo de Bolsonaro?
Ricardo Stuckert e Palácio do Planalto
Anulação de condenações de Lula influenciou na diminuição do negacionismo de Bolsonaro?

Ainda que não seja oficialmente um candidato à presidência nas eleições de  2022 , o ex-presidente Lula , após ter suas condenações anuladas na Lava-Jato por decisão do ministro Edson Fachin (STF) , tem influenciado o jogo político brasileiro. E acabou resvalando no comportamento do presidente Bolsonaro.

Desde o pronunciamento feito por Lula na última quarta-feira (12) , Bolsonaro tem mostrado postura menos negacionista, c hegando, inclusive, a usar máscara — medida de proteção por ele tão criticada e que não utilizava desde o início de fevereiro . Também deu declarações defendendo a vacinação em massa como estratégia para conter a pandemia, algo que nunca havia feito.

Além disso, Bolsonaro, que há um tempo negociava filiação com partidos para concorrer em 2022 — tendo cogitado até mesmo o  Partido da Mulher Brasileira, uma legenda de pouca expressão  — admitiu estar negociando  retorno ao PSL , um dos partidos com mais representantes no Congresso. Com isso, teria maior estrutura e mais tempo de televisão durante a campanha à reeleição.

Até mesmo a pauta "Terra plana" ganhou espaço na live do presidente em sua última live realizada nesta quinta-feira (12).  Um dia depois de Lula falar que Bolsonaro não sabe que a terra é redonda, o presidente tocou no assunto durante a transmissão (veja o vídeo abaixo), provocando o ex-presidente, chamando-o de "carniça".

Você viu?

"Aqueles que dizem que eu sou terraplanista... O carniça, ontem, falou que eu deveria procurar o Marcos Pontes (Ministro da Ciência e Tecnologia), que esteve no espaço, para ele dizer para mim que a terra é redonda", disse, na companhia de um globo terrestre que enfeitou sua mesa durante a transmissão.

Bolsonaro ameaçado?

Para Leandro Consentino , cientista político do Insper, a principal causa da mudança de atitudes do presidente da República é perceber que as eleições de 2022 não serão disputadas da mesma forma que seriam sem a presença de Lula. "Quanto mais o Bolsonaro percebe que o negacionismo cobra seu preço e lhe tira votos em determinadas camadas e setores da população, até do empresariado, sua postura vai se modificando".

"O Lula tem um peso bastante grande do ponto de vista de popularidade, sempre teve e as pesquisasa atuais mostram que ainda tem capital político importante. Quanto mais o Bolsonaro percebe que o negacionismo cobra seu preço e lhe tira votos em determinadas camadas e setores da população, até do empresariado, sua postura vai se modificando. Por outro lado, ele tem um dilema: precisa agradar, também, sua base "raíz", aquela que é contra as vacinas e as medidas de isolamento", avalia o professor do Insper.

Tamara Ilinsky Crantschaninov , mestra e doutora em Administração Pública e Governo pela FGV e professora de ciência política, acredita que, por ser um player  fundamental no cenário político, Lula acaba catalisando a mudança de discurso de Bolsonaro. Mas este não seria o único fator.

"Temos que considerar um cenário de completo descaso de muitos meses com a questão da pandemia e uma sinalização do governo federal, que já era pedida por governadores, prefeitos e pela sociedade civil em geral em relação à vacinação e aos cuidados frente à pandemia. Houve um processo de deterioração de suas estratégias frente à pandemia, e isso o faz mudar de atitude."

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