Bolsonaro e Doria brigam por vacina, mas eleição é pano de fundo; entenda
Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro e Doria brigam por vacina, mas eleição é pano de fundo; entenda

Era fim de agosto, e a negociação entre os governos federal e paulista sobre a vacina contra o coronavírus do Instituto Butantan estava começando. Embora rompido com o presidente Jair Bolsonaro, o governador João Doria (PSDB) acreditava que as diferenças políticas não prejudicariam as conversas sobre o imunizante.

"Guerra de narrativa", escreveu o governador a um interlocutor, em 26 de agosto, ao comentar uma notícia de que a Anvisa e a Fiocruz davam o primeiro passo para o registro da vacina inglesa, a preferida de Bolsonaro. A divulgação ocorrera no mesmo dia em que uma equipe do governo de São Paulo estava no Ministério da Saúde para pedir recursos para a produção da vacina chinesa pelo Butantan.

Dois meses se passaram desde então, e a corda esticou tanto que a vacina para a Covid-19 tornou-se o maior ponto de discórdia entre Bolsonaro e Doria. Os dois têm planos de disputar a Presidência em 2022.

"É coisa de lunático isso aí", disse o presidente na mais recente investida contra o governador, na noite de quarta-feira.

Doria, já menos esperançoso em um tratamento republicano, revidou em uma rede social: "Recomendo ao presidente Bolsonaro parar de me atacar e começar a trabalhar. O povo não quer briga, quer emprego. O Brasil não quer divisão, quer compaixão. O Brasil não quer um presidente que só pensa em reeleição".

Em outro capítulo recente, Bolsonaro afirmou que o governador de São Paulo havia aumentado impostos durante a pandemia. O troco veio pelas redes sociais. Doria disse que o presidente "seguia sendo um desinformado" e que a administração paulista havia feito a reforma administrativa, o que, segundo o governador, "Bolsonaro não teve coragem de fazer no plano federal".

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Nesta quinta-feira, veio de Brasília um novo sopapo para o governo paulista. O ministro da Economia, Paulo Guedes, sinalizou, durante uma audiência no Congresso, que o pedido de Doria por mais recursos para a viabilizar a vacina chinesa não deverá ser atendido.

"Já mandamos bastante dinheiro para São Paulo gastar com a saúde. Tomara que São Paulo encomende, pague sua vacina e vacine sua população", afirmou.

A declaração foi feita um dia depois de a Anvisa liberar a importação de produtos da China para a fabricação da vacina CoronaVac pelo Butantan. O imunizante do laboratório chinês Sinovac e o Butantan ainda esperam aprovação da Anvisa.

Na sede do governo paulista, cresce a cada dia a avaliação de que Doria terá que acionar seu plano B. Ele consiste em comprar a CoronaVac do Butantan com recursos estaduais, criar um plano de imunização para São Paulo e vacinar os paulistas.

Em outra frente, o governador cogita vender o imunizante para estados que queiram o imunizante chinês. A equipe de Doria tem esperança de que a CoronaVac será a primeira vacina a ficar pronta no país.

Para além das questões sanitárias, o imunizante do Butantan também representa para Doria uma "vacina política". O governador, que viu sua popularidade crescer no início da pandemia no estado, passou a sofrer arranhões em sua imagem por causa dos efeitos econômicos da quarentena que adotou no estado.

Ser o primeiro a conseguir viabilizar uma vacina contra a Covid-19 poderia levá-lo a não só recuperar a simpatia de parte dos paulistas, como obter projeção nacional.

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