'Eu fui incluído nesse grupo, não postava, mas agradecia', diz prefeito sobre Guardiões do Crivella
Fábio Motta / Agência O Globo
'Eu fui incluído nesse grupo, não postava, mas agradecia', diz prefeito sobre Guardiões do Crivella

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, assumiu durante pronunciamento nesta sexta-feira fazer parte do grupo de whatsapp "Gardiões do Crivella", um esquema montado com funcionários contratados pela Prefeitura do Rio para atacar jornalistas, pacientes e parentes que reclamam do péssimo atendimento da saúde no município. Crivella, no entanto, garantiu que não interagia na troca de conversas.

"Eu fui incluído nesse grupo, não postava, mas agradecia. Quando eu entrava, não via nada orquestrado contra a imprensa", afirmou.

O pronunciamento do prefeito — sem permitir questionamentos de repórteres — aconteceu cinco dias após a TV Globo denunciar como funcionava o esquema dos 'Guardiões do Crivella'. Durante vinte cinco minutos, Crivella atacou a imprensa, o Judiciário e a Polícia Civil. E defendeu o grupo de whatsApp.

"Esse grupo de whatsApp é comum. Assim como tantos outros", disse. O prefeito alegou que “se construíram uma narrativa fantasiosa sobre o grupo”.

"Como isso alcançou ações tão drásticas entre a magistratura, o Ministério Público é a Polícia Civil? Isso nos espanta".

Salário pago pela prefeitura

Os repórteres da TV Globo, no entanto, descobriram que o grupo Guardiões do Crivella obedece a uma rígida escala de serviço e ganha salário pago com dinheiro público — em torno de R$ 4 mil — para criar confusão na entrada de unidades de saúde e inviabilizar denúncias ao serviço público municipal.

Um denunciante revelou como funciona o esquema. Imagens obtidas pela TV mostram que, entre os integrantes do grupo de WhatsApp, há um telefone atribuído ao próprio Crivella. De acordo com o denunciante, “o prefeito acompanha no grupo os relatórios e, às vezes, ele escreve lá: ‘Parabéns! Isso aí!’”, disse.

A denúncia da TV Globo será analisada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que abriu inquérito civil para apurar supostos atos de improbidade administrativa por agentes da Prefeitura do Rio. As ações do grupo também levaram a pedidos de impeachment na Câmara dos Vereadores, rejeitados por 25 votos a 23 votos nesta quinta-feira, em plenário da Casa.

No começo do discurso, o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, inclusive, parabenizou os parlamentares da Câmara dos Vereadores

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"Agradeço aos vereadores que, ontem (nesta quinta-feira), na Câmara Municipal, derrubaram uma tentativa estapafúrdia de golpe em que não havia se quer um motivo defendido para a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar se Inquérito) e muito mais um processo de impeachment", começou festejando Crivella, que completou:

"Esse processo relâmpago e espetaculoso se deu a partir de uma reportagem. Não houve uma investigação prévia e as pessoas não foram ouvidas. Não há, absolutamente, nada que compre o processo legal (para a abertura de impeachment)".

Logo em seguida, em seu pronunciamento, Crivella passou a atacar a investigação e a decisão da Justiça em cumprir nove mandados de Justiça contra os principais líderes de uma organização criminosa, que para a Polícia Civil, foi formado para atacar a imprensa e evitar que os jornalistas noticiem a péssima qualidade da saúde do Rio.

"Em poucos minutos, horas, estava pronta uma representação feita por uma delegada que leva a juíza de plantão, que decide na mesma hora. Foram medidas duras e de impacto. Eu pergunto: essas coisas podem ser feitas no plantão judiciário? Não. Mas foi feito. O Ministério Público não é o fiscal da lei (para coibir excessos)? Pois é. Mas, não fiscalizou", afirmou Crivella.

O prefeito disse ainda que a juíza que determinou as buscas e apreensões contra servidores da Prefeitura “não tinha imparcialidade”. Já que segundo ele, a magistrada não foi sorteada para estar no caso.

Procurados, o Tribunal de Justiça do Rio disse que "não comenta opiniões a respeito de decisões de magistrados". E o MPRJ, que "não vai se manifestar a respeito das declarações".

De acordo com as denúncias, o pastor Marcos Paulo de Oliveira Luciano é apontado como o chefe da organização, que incitava os “guardiões” a não deixaram os jornalistas exercerem suas funções nas portas dos hospitais municipais. Luciano é assessor especial de Crivella e tem uma sala ao lado onde o prefeito despacha na Prefeitura. Apesar das images apresentadas pela reportagem, Crivella insistiu em desmentir.

"São construções fantasiosas. E um setor da Justiça está sendo influenciado para a construção de fatos. Quem defende a liberdade de imprensa deve suportar atos contrários. O bispo licenciado afirmou que “não se pode permitir esse tipo de ação”.

"Isso nos faz lembrar de operações do passado que oprimiam os mais simples. Sobre prestos malucos, pegam pessoas simples e buscam no constrangimento. O Marcos Luciano, que foi pastor comigo por muitos anos, foi levado coercitivamente. A intensão era no desespero ele dizer algo. Tenho uma chefe de gabinete há 20 anos. O que há contra ela? Todos que a conhece tem admiração. Qual é o crime que ela cometeu? É triste saber que um pequeno grupo do magistrado, de maneira desproporcional, dê essas decisões sobre pretextos frágeis", destacou.

Crivella salientou que “não existe organização criminosa”. No final do pronunciamento, O GLOBO questionou ao prefeito se ele achava correto a manutenção do grupo e porque ele nunca interviu para que seu assessor especial, o ML, não incitasse a violência. Segundo Crivella, não ele não "incentivava agressões".

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