Pastor Everaldo foi preso pela PF
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Pastor Everaldo foi preso pela PF

Agentes da Polícia Federal estão nas ruas para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra agentes públicos, políticos e empresários envolvidos no esquema de desvios na saúde liderado pelo governador Wilson Witzel, segundo a acusação, em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro do grupo liderado pelo governador. Entre os alvos de prisão está o presidente do PSC, Pastor Everaldo, o advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Witzel, e o médico e ex-prefeito de Volta Redonda Gothardo Lopes Netto.

Há mandados de prisão também contra os empresários Mário Peixoto e os sócios Alessandro Duarte e Cassiano Luz, porém, eles já se encontram presos alvos da operação Favorito, realizada em maio.

As semelhanças e confluências entre o esquema desbaratado na operação Calicute, que prendeu Sérgio Cabral, e o de agora na operação Feitiço do Tempo, indicam que assim como o ex-governador, Wilson Witzel se cercou de integrantes de dentro e de fora do governo para dar continuidade ao esquema de corrupção, a exemplo de seu antecessor.

Vejam quem é quem no escândalo:

Helena Witzel

Conhecida pela postura linha dura e de pouco trato como funcionários e servidores dos Palácios Guanabara e Laranjeiras , Helena Alves Brandão Witze costuma participar de de quase todas as decisões do marido.

A PGR sustenta que Witzel usou o escritório de advocacia da mulher,para receber dinheiro desviado por intermédio de quatro contratos simulados no valor aproximado de R$ 500 mil - cerca de R$ 15 mil mensais de cada uma das quatro.

Ao contrário da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, contudo, Helena Witzel tinha uma discreta e recente atuação da advocacia. Os investigadores concluíram que ela tinha casos praticamente inexpressivos antes de ver o marido tomar posse, em janeiro de 2019. Em seguida, quatro contratos com empresas ligadas a Mario Peixoto (três) e Gothardo Lopes Neto (um), ex-prefeito de Volta Redonda, passaram a render à primeira-dama R$ 60 mil mensais.

Um email escrito por Witzel, apreendido pela PGR, orienta os interessados a redigir o contrato com o escritório de Helena. Chamou também a atenção dos investigadores a participação da primeira-dama em um processo de execução fiscal da família do médico Gothardo Lopes Netto, ex-prefeito de Volta Redonda e ex-deputado estadual, dona do Hospital Infantil e Maternidade Jardim Amália Ltda (HINJA), maior unidade de saúde privada do município.

O processo, que tramita na Justiça Federal de Volta Redonda, já tinha como advogado Lucas Tristão, ligado ao esquema, porém, no decorrer da ação, a primeira-dama entrou com uma petição para avisar que estava ingressando na mesma causa e passando a advogar para o hospital. É quando, segundo as investigações, passou a receber os R$ 15 mil mensais apenas por esse serviço. Não há nenhum outro documento no âmbito desse processo que tenha justificado o vultoso pagamento opor apenas uma petição.

A advogada e o ex-juiz se conheceram na faculdade, quando Witzel dava aulas em Vila Velha, no Espírito Santo.

Pastor Everaldo

Com mais de 30 anos de atuação nos bastidores da política nacional, o Pastor Everaldo aprendeu a se movimentar entre partidos de direita e esquerda com desenvoltura, principalmente no Rio, seu domicílio eleitoral, onde transitou pelos governos de Leonel Brizola, Benedita da Silva, Anthony Garotinho e Sérgio Cabral. Foi colado no ex-deputado Eduardo Cunha e o partido do qual é presidente, o mesmo PSC de Witzel, abrigou por anos a família Bolsonaro.

Para além de sua ligação com a religião, sua maior aventura na política foi disputar a Presidência em 2014 ficando na quinta colocação, com 780 mil votos. Já sua grande cartada até então havia sido a invenção do “poste” Witzel na surpreendente eleição de 2018, quando contrariando todas as pesquisas eleitorais o ex-juiz derrotou Eduardo Paes.

Pastor da Assembleia de Deus em Madureira, chefiada pelo Bispo Manoel Ferreira, Everaldo ganhou fama no meio político por ser considerado pragmático, organizado e tenaz. Ele se filiou ao PSC em 2003 e fez crescer exponencialmente o número de deputados eleitos depois de ter assumido o comando da legenda.

Como dono do partido, ele comprou a ideia da candidatura de Witzel quando ela era tratada como uma piada e aparecia com apenas 1% das intenções de voto. Hoje se tornou um articulador da relação com o Legislativo do Rio.

Com espaço amplo na gestão de Witzel, o presidente do PSC tem influência no Detran e ainda emplacou o filho, Filipe Pereira, como assessor especial do governador. Também é responsável pela indicação de Carlos Braz., filho de um obreiro da igreja para a diretoria do Interior da Cedae, responsável pelas obras da Chison.

De um tempo para cá, após as operações que miraram o entorno do governador, Everaldo tem tomado distância do Palácio Guanabara e causou suspense em comentários nas redes sociais dando indiretas com mensagens bíblicas para Witzel, como mostrou “Época”.

Um dos motivos das rusgas entre Everaldo e Witzel teria como pivô o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Lucas Tristão, também alvo da Lava-Jato. Considerado braço direito do governador desde os tempos em que dividiam o mesmo escritório de advocacia, Tristão demitiu indicados do pastor no governo. Ele foi exonerado após as investigações da Lava-Jato indicarem ligação entre ele e Mário Peixoto, um dos cabeças do esquema de desvios na saúde.

Gothardo Lopes Nettto

A investigação apurou que negociações paralelas, envolvendo créditos de organizações sociais da área de saúde, foram conduzidas por Gothardo Lopes Netto, médico, ex-prefeito de Volta Redonda e ex-deputado estadual. Ligado ao advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Witzel, ele é frequentador assíduo do Palácio Guanabara. O governador já esteve em sua casa em Volta Redonda, assim como Tristão.

Em novembro de 2013, o então deputado “Dr. Gothardo” concedeu Medalha Tiradentes a Wilson Witzel. Na justificativa, Gothardo disse que “essas quase três décadas dedicadas ao serviço público do Estado do Rio de Janeiro e à população fluminense tornam o Dr. Wilson José Witzel, sem sombra de dúvidas, merecedor da homenagem ora proposta”.

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Gothardo é sócio oculto da GLN Serviços Hospitalares e Assessorias Ltda, que tem contratos com o governo fluminense e com a prefeitura de Volta Redonda. Sua família é dona do maior hospital privado de Volta Redonda, o Hospital Infantil e Maternidade Jardim Amália Ltda (HINJA).

Tristão, por sua vez, advogou em defesa do HINJA em ações de execução fiscal que tramitaram na Justiça Federal em Volta Redonda. Em um desses processos, aparece uma petição assinada pela primeira-dama, Helena Witzel, ingressando na causa.

Gothardo também está por trás da Associação de Proteção à Maternidade e a Infância de Mutuípe (Apmim), a organização social que opera o Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda. Este ano, o governo estadual lançou edital, com dispensa de licitação, para aumentar os leitos da unidade na adaptação do Zilda Arns para virar referência para o tratamento do novo coronavírus.

A própria Apmim foi selecionada para esse novo contrato de seis meses, no valor de R$ 58 milhões. Este contrato está sendo questionado pelo TCE.

Lucas Tristão

Na época em que era advogado, Witzel recebeu R$ 284 mil do escritório do advogado Lucas Tristão para a análise de uma petição de 14 páginas, ajuizada pela empresa Atrio Rio, que pertenceu até março à família do empresário Mário Peixoto, para tentar anular uma licitação da Secretaria Estadual de Educação do Rio em 2018.

Nessa época, período da disputa eleitoral para governador, Witzel tinha deixado a magistratura e disputava o Palácio Guanabara. Além disso, na campanha, Witzel negava relações com o empresário Mário Peixoto, mas recebeu o pagamento de R$ 284 mil apesar de a Átrio ter atribuído à causa no Tribunal de Justiça do Rio apenas R$ 1 mil.

Obtida pelo GLOBO, a petição de 14 páginas fundamentou um mandado de segurança pedido pelo Atrio Rio para tentar anular uma licitação vencida pela empresa Agile Corp Serviços Especializados.

Ambas disputavam a prestação de serviços terceirizados de limpeza e manutenção de escolas da rede pública estadual do Rio. A licitação pela modalidade de pregão eletrônico, na qual a Atrio ficou em segundo lugar, foi dividida em seis lotes, no valor total de R$ 85, 6 milhões por um ano de contrato. O pedido da Atrio, porém, não foi atendido pelo Tribunal de Justiça do Rio.

A Atrio é outra empresa que aparece em restos a pagar, recebendo um total de R$ 24 milhões.

Na delação do ex-secretário de saúde Edmar Santos, que possui pelo menos 33 anexos, ele disse que Ramon de Paula Neves, ex-subsecretário de Desenvolvimento Rural da Secretaria Estadual de Agricultura, indicou Mariana Scardua como subsecretária na Saúde. Ainda segundo ele, Ramon é ligado ao empresário Mário Peixoto e ia pessoalmente na Secretaria de Saúde pressionar pela contratação das suas empresas, além de reclamar do controle exercido pelo Pastor Everaldo, presidente do partido de Witzel, na secretaria.

Ramon Neves e Witzel são amigos de antes do governo, conheceram-se quando Witzel fazia doutorado e Ramon mestrado.o governador lavou as mão.

José Carlos de Melo

Pró-reitor administrativo da Universidade Iguaçu (Unig), instituição privada na Baixada Fluminense, é mencionado no Termo de Depoimento n° 33 do ex-secretário Edmar Santos. Ele teria como operador financeiro Carlos Frederico Loretti da Silveira, o Kiko, e é ligado ao ex-chefe de Gabinete da Casa Civil, o advogado Cássio Rodrigues Barreiro. O escritório de Cássio atuou em processo no qual a Unig reivindicava a oferta de ensino a distância.

Na delação, Edmar cita o apart hotel Wyndham Rio de Janeiro Barra Hotel, na Avenida Lúcio Costa, 3150, Barra da Tijuca, como sendo o local onde ocorreu uma reunião do dia 12 de novembro de /2019 com José Carlos de Melo. Edmar também reconhece a Cafeteria Delta Expresso, no Bossa Nova Mall, como o local onde encontrou, entre agosto de 2019 e novembro de 2019, com Marcos Pinto da Cruz, em pelo menos quatro oportunidades.

Em ligação feita para o colaborador, José Carlos de Melo indicou o advogado Manoel Messias Peixinho a Edmar, como alguém qualificado para defendê-lo. De acordo com Edmar, Peixinho seria ligado a Cássio.

A revista "Veja", em perfil sobre Melo, afirma que o pró-reitor teria ligações com bicheiros, especialmente com a família e os aliados de Anísio Abrahão David, o Anísio. Ex-jogador de futebol nos anos 1980, Zé Carlos “faz, por exemplo, a intermediação de contratos milionários entre empresários e o Palácio Guanabara e indicações em cargos estratégicos”, afirmou a revista.

Melo mora em Itaperuna, onde fica o mais rentável curso da Unig, a escola de medicina, cuja mensalidade se aproxima dos R$ 10 mil. Com atuação discreta no poder, o pró-reitor foi apresentado a Wilson Witzel por Pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC, nas eleições de 2018, por indicação do ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Bornier.

Alessandro Duarte

Ao lado do sócio Cassiano Luiz, Alessandro figura como procuradores de conta bancária da Atrio Rio Service com movimentações suspeitas. Ambos são vistos como sendo pessoas de extrema confiança de Peixoto e que ocupam posição imediatamente inferior ao líder desse braço da organização criminosa.

Alessandro Duarte e Cassiano Luiz são sócios de várias empresas interligadas ao grupo empresarial, responsáveis pela gestão financeira de grande parte dos negócios do empresário, estando a frente dos negócios do grupo empresarial ao menos desde 2012, época da contratação do IDR pela SES-RJ.

Na denúncia da Favorito, o MPF sustenta que as interceptações telefônicas demonstraram que no âmbito da organização criminosa, Alessandro exerce contato com agentes públicos, o que foi corroborado pelas mensagens identificadas em seu telefone celular apreendido na Operação Favorito, onde constam, por exemplo, trocas de mensagens com Ramon De Paula Neves, Subsecretário de Estado de Agricultura, pecuária pesca e abastecimento do atual governo.

Já Juan Elias de Paula desempenhava a função de contador e era sócio de diversas empresas vinculadas ao grupo criminoso.

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