Em meio à tentativa de distanciamento de Jair Bolsonaro do seu amigo Fabrício Queiroz, preso na semana passada, o Palácio do Planalto se recusou a responder um questionamento do GLOBO sobre se Frederick Wassef atua ou já atuou como advogado do presidente. Queiroz foi encontrado pela polícia na última quinta-feira em uma casa de Wassef em Atibaia, no interior de São Paulo.
"O Planalto não comentará o assunto", respondeu a Secretaria de Comunicação (Secom), no fim da tarde da segunda-feira. A reportagem questionou o Planalto na manhã da última sexta-feira, um dia após a prisão do ex-policial militar e ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. Wassef também foi procurado, por ligação e mensagem, mas não respondeu.
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Contrariando Wassef, que representava Flávio e declarava ser advogado também de seu pai, a advogada Karina Kufa divulgou uma nota na quinta-feira afirmando que o seu escritório é responsável por todas ações envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, incluindo a ação penal que investiga a facada sofrida pelo presidente na campanha eleitoral, em 2018.
"Todas as ações do senhor Jair Messias Bolsonaro, sejam elas cíveis, criminais ou eleitorais, em curso no poder judiciário, exceto aquelas de competência da AGU, estão sob a responsabilidade deste escritório, cuja única sócia é sua fundadora, Karina Kufa. O advogado Frederick Wassef não presta qualquer serviço advocatício em nenhuma ação em que seja parte o senhor Jair Messias Bolsonaro e não faz parte do referido escritório, não constando seu nome em qualquer processo", escreveu Karina.
No dia 19 de dezembro do ano passado, no entanto, o próprio presidente Bolsonaro afirmou que se reuniu com Wassef porque ele atuava como seu advogado no caso da facada.
"Tive (uma reunião). Ele é meu advogado no caso Adélio. Mais alguma coisa? Mais alguma coisa? Ele é meu advogado no caso Adélio", declarou Bolsonaro, após ter sido questionado se havia discutido o caso de Flávio com Wassef.
Antes, em 30 de setembro, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, também o havia citado como representante de Bolsonaro no processo. Sobre este caso, Wasseff concedeu longa entrevista à Band no dia 11 de maio deste ano e, dias depois, divulgou nota na qual disse ser advogado presidente desde 2014, rebatendo manifestação do delegado da PF que investigou o atentado.
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“Sou advogado do presidente Jair Bolsonaro desde 2014, como também sou advogado do seu filho o senador Flávio Bolsonaro. Em setembro de 2019 , após várias reuniões entre mim e o presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada (...) o presidente me acionou para atuar no caso. No dia 21 de setembro o presidente assinou minhas procurações. Não fui a TV Bandeirantes para dar furo jornalístico, mas ao contrário, fui convidado a dar entrevista em nome do Presidente", afirmou.
Em outra ocasião, no dia 29 de outubro, o advogado foi orientado pelo presidente a dar entrevista ao Jornal Nacional em seu nome para comentar o depoimento de um porteiro do condomínio em que morava, no Rio, no caso da vereadora do PSOL Marielle Franco, assassinada em 2018. Em uma transmissão ao vivo pelo Facebook, Bolsonaro declarou:
"Ligaram em cima da hora pro advogado, o sr. Fred, em cima da hora, foi correndo pra TV pra falar alguma coisa. Foi gravado. Eu falei pra ele 'fala ao vivo, pô, fala ao vivo'. Falei pra ele o que eu sabia, o processo está em segredo de Justiça, eu não tive acesso ao processo."
Na segunda-feira, o GLOBO mostrou que o histórico formal em processos de Wassef é praticamente inexistente antes de assumir a defesa de Flávio Bolsonaro.
Na noite de domingo, Wassef anunciou que deixará a defesa de Flávio no processo em que o parlamentar é investigado por movimentações financeiras suspeitas. Em entrevista ao canal CNN Brasil, o advogado voltou a dizer que não fez nada de errado, mas está deixando a causa porque, segundo ele, a mídia tem se aproveitado da situação para atacar o senador e o pai.
"Assumo total responsabilidade e estou saindo do caso, substabelecendo (o processo) para outro colega. Ficarei fora do caso para que não me usem", disse.
Embora Wassef tenha dito que abandonará a causa por vontade própria, o GLOBO revelou no sábado que a família Bolsonaro decidiu pela substituição. No sábado, Wassef deu entrevistas informando que era advogado de Jair e de Flávio Bolsonaro. À CNN, o advogado pediu desculpa a ambos por “todo e qualquer dano que tenha causado”.
"Eu assumo total responsabilidade, eu estou saindo do caso. Faço isso para que não me usem, para que não continuem a atacar criminosamente o presidente da República e o senador Flávio Bolsonaro. Ainda que eu não tenha feito nada de errado, por todo e qualquer dano que eu tenha causado de imagem, eu peço desculpa ao presidente e ao senador e assumo aqui total responsabilidade. O dia que eu falar verão que nada tem a ver com o que estão me acusando e tentando destruir minha vida na televisão e na mídia nacional", declarou.
Na mesma entrevista, ele classificou como "antiética" a atitude de Karina Kufa de ter divulgado uma nota afirmando que ele não é advogado de Bolsonaro