mulher de cabelo liso e vestes claras
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Deputada Bia Kicis afirmou que situações devem ser consideradas diferentes

Medida "absurda", "ditatorial" ou "interferência" indevida. Essas foram algumas das reações de deputados bolsonaristas à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ao suspender a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal (PF). Esses mesmos parlamentares, no entanto, comemoraram efusivamente na ocasião em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi impedido pela Corte de assumir o Ministério da Casa Civil no governo Dilma Rousseff. Ambas as decisões foram justificados por magistrados pela suposta violação de princípios constitucionais, como o da moralidade e da impessoalidade.

O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, anunciou nesta terça-feira que recorreria da decisão do ministro do STF. Há menos de quatro, entretanto, foi às ruas para comemorar uma liminar que barrava a nomeação de Lula. Antes de ser impedido de ocupar o cargo pelo ministro Gilmar Mendes, também do STF, o juiz Itagiba Catta Preta, da 4ª Vara Federal de Brasília, deferiu liminar no mesmo sentido. O Judiciário considerou que houve "desvio de finalidade" na indicação de Dilma no momento em que havia pressão para frear a Lava-Jato.

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Em frente ao Congresso, Bolsonaro comemorou: "Lula liminarmente já não é ministro. Mas os problemas do Brasil são enormes. Logicamente não merece essa facção petista que está no poder. É questão familiar, é questão da inflação, desemprego, descaso com a saúde, corrupção generalizada e corrupção ideológica", criticou Bolsonaro.

Na última sexta-feira, o ex-ministro Sergio Moro, ao expor as razões de sua demissão, citou a pressão de Bolsonaro para interferir politicamente na corporação. No mesmo dia, ao Jornal Nacional, da TV Globo, Moro apresentou reprodução de conversa por Whatsapp com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP). No diálogo, a aliada do presidente da República pede que Moro aceite Ramagem como novo chefe da PF. Ela se oferece também para tentar junto a Bolsonaro um compromisso de futura indicação ao STF.

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Na decisão de Moraes, o magistrado diz que a escolha de Bolsonaro pode não ter respeitado os princípios que norteiam os atos da administração pública.

Zambelli considerou a decisão judicial "absurda". Em março de 2016, quando Lula foi impedido de assumir o cargo, ela estava, ainda como ativista, atuando no Congresso reagir à nomeação. À época, afirmou ter o apoio de 11 mil empresários para fazer uma "paralisação geral" caso o ex-presidente fosse empossado na Casa Civil. Em vídeo postado no Facebook do movimento "Nas Ruas", Zambelli diz que "o povo saiu às ruas" para protestar.

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"É uma questão de justificativa. A justificativa para barrar a indicação do Ramagem é absurda. O próprio Moro disse que o Ramagem era um bom nome, respeito", escreveu a deputada nas redes sociais.

Da mesma forma, Bia Kicis defendeu à época e continua sustentando que Lula deveria ter sido afastado em 2016 por "obstrução de Justiça" e "desvio de finalidade claro".

"Tem gente já comparando com o caso do Lula, que foi impedido por decisão judicial de tomar posse como chefe da Casa Civil. São situações completamente diferentes. Porque neste caso se alegou a violação do princípio da impessoalidade porque ele seria amigo íntimo do presidente. Não existe isso de ser amigo íntimo. Ele trabalhou para o presidente. Esteve em eventos com o presidente, mas não é amigo íntimo. É da confiança do presidente", disse Bia Kicis.

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Já o deputado Marco Feliciano (PODE-SP) usou as redes sociais para comparar a decisão de Alexandre de Moraes a um ato de uma ditadura. Ele foi além: lembrou frase de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) contra o Supremo, quando sugeriu que só era preciso "um cabo e um soldado" para fechar a Corte.

"O sistema viu que não vai conseguir tirar o presidente Jair Bolsonaro pela via legislativa e por isso agora apela para a via judicial. Já avisei que se ousarem tentar, não vai precisar de cabo e nem de soldado. O povo não vai ficar quieto!", escreveu Feliciano.

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Em março de 2016, o então deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi à tribunal para parabenizar a Justiça.

"Vou aproveitar e parabenizar a Justiça Federal de Brasília por ter lavado a alma dos brasileiros e ter suspendido a nomeação desse criminoso chamado Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil. Juiz Federal Catta Preta, os brasileiros têm orgulho do senhor, assim como têm orgulho do Juiz Sergio Moro. Lugar de vagabundo é na cadeia, e não no Ministério. Como já disse o ex-Presidente Lula: 'Quando um pobre rouba, vai para a cadeia; quando um rico rouba, vira Ministro'", disse Eduardo.

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