Líderes do Congresso reagiram à declaração do presidente Jair Bolsonaro, na manhã desta quarta-feira (25). Ele repetiu pontos do pronunciamento da noite de ontem, reforçando que apenas idosos deveriam ficar isolados, e disse que a crise pode levar o país a sair da "normalidade democrática". Para parlamentares, "ou o mundo inteiro está errado e Bolsonaro está certo ou ele está prestando um desserviço à nação".
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A frase acima é do líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), que, apesar do rompimento com filhos do presidente em meio ao racha no partido, ainda se considera aliado de Bolsonaro e defende medidas dele no Congresso.
"As manifestações dele são contrárias a tudo que se diz no mundo inteiro. Se ele tiver certo, adiaram a Olimpíada, por causa de uma gripezinha; a Índia colocou em isolamento um bilhão de pessoas, por causa de uma gripezinha; os Estados Unidos suspenderam voo, por causa de uma gripezinha, que só contagia velho, que não afeta ex-atletas. Ou mundo está errado e o presidente certo ou ele está prestando desserviço à nação. Continuo pedindo: acreditem 100% nas declarações do ministro Mandetta e fiquem em casa", diz Olímpio.
Para ele, os últimos pronunciamentos de Bolsonaro lembram o Sai de Baixo, programa da Globo: "quando o personagem Caco Antibes, de repente, levantava e gritava: 'Cala a boca, Magda'. Sintetiza o meu pensamento, com muita tristeza, porque sou aliado de primeira hora dele".
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A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Simone Tebet (MS) diz que Bolsonaro "errou no timing, na forma e no conteúdo".
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"Agora, é hora de ficar em casa para salvar vidas. Enquanto isso, estamos votando projetos que liberam dinheiro extra para a saúde e subsídios para as empresas, a fim de proteger os mais vulneráveis e garantir empregos", avalia a senadora.
Para o líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a fala da manhã é "insana": "ele aposta no conflito. Temos de ser firmes e não cair no que ele fala. Tocar o Brasil, apesar dele. Bolsonaro passou de todos os limites da racionalidade, da humanidade. Não é mais um presidente da República. É um candidato a genocida".
Líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), diz que "Bolsonaro falou para outro Brasil": "o Brasil que eu vejo é onde as escolas estão fechadas, do comércio que aceitou se trancar para reduzir a curva de contágio. Ele quis comparar com a linha do Trump, mas o Trump fez uma programação para reduzir o "lockdown" pela páscoa. Faltou isso, o Bolsonaro construir com o gabinete de crise dele a ideia de fazer uma volta progressiva. Da forma como foi feita, ele foi contra as orientações do próprio governo".
Líder do MDB na Câmara, o deputado Baleia Rossi (SP) reforçou a necessidade de seguir orientações do Ministério da Saúde e de especialistas: "fiz uma declaração ontem no meu Twitter e a mantenho. Acho que temos que continuar seguindo as orientações do Ministério da Saúde, que são embasadas em técnicos da área e médicos renomados e da Organização Mundial da Saúde. Temos que seguir as orientações daqueles que estudaram a vida inteira para esse tipo de enfrentamento".
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Líder do PDT no Senado, Weverton Rocha (MA) diz que "o presidente precisa de parar de fazer política e começar a usar os recursos que foram autorizados pelo Congresso, quando aprovamos o decreto de calamidade pública no Brasil, para socorrer as pessoas e as empresas".
"O coronavírus é um inimigo real e o presidente tem os instrumentos para combater e salvar vidas. Mas prefere matar pessoas que abrir os cofres públicos", afirmou Rocha.