O presidente Jair Bolsonaro compartilhou por WhatsApp vídeo convocando a população para atos anti-Congresso no dia 15 de março. Amigo do presidente, o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) confirmou a informação ao Globo.
O próprio Fraga disse ter recebido o vídeo de Bolsonaro . Os atos foram marcados por apoiadores do presidente em defesa do governo, dos militares e contra o Congresso. A mobilização ganhou força na semana passada, após o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, ter atacado parlamentares, acusando-os de fazer “chantagem”.
No filme de um minuto e meio compartilhado pelo presidente não há menção ao Congresso ou ao Supremo Tribunal Federal ( STF ). São exibidas imagens de protestos em Brasília na época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ( PT ). Com o Hino Nacional ao fundo, um narrador pergunta logo no início: “Por que esperar pelo futuro se não tomarmos de volta o nosso Brasil ?”. Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência informou que não vai se manifestar.
A narração segue com imagens da posse de Bolsonaro, do momento da facada , durante a campanha eleitoral, em Juiz de Fora (MG), e de suas passagens pelo hospital. “Basta”, diz o narrador em outro trecho. “O Brasil só pode contar com você. O que você pode fazer pelo Brasil? O poder emana do povo. Vamos resgatar o nosso poder. Vamos resgatar o Brasil.”
Embora não haja referência ao Congresso ou ao STF no vídeo, a peça deixa explícita a chamada para os atos do dia 15 que têm sido convocados também como protesto contra as duas instituições. “Dia 15 de março mostre que você é patriota”, conclui o vídeo.
A divulgação do vídeo pelo presidente foi noticiada no início da noite de ontem pelo jornal “O Estado de S.Paulo”. O ex-deputado federal Alberto Fraga confirmou que Bolsonaro “encaminhou o vídeo”, mas disse que o presidente não está convocando a população para a manifestação : "ele sabe que não é conveniente fazer isso, mas não tem como evitar que as pessoas façam".
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À noite, o presidente postou em suas redes sociais uma imagem assistindo a um filme de faroeste com o ator Clint Eastwood. “Uma boa noite a todos! Clint na tela!”, escreveu.
Na semana passada, O Globo revelou que, em solenidade na frente do Palácio da Alvorada, o ministro-chefe do GSI reclamou do Congresso e disse que o Executivo não poderia aceitar “chantagem” no processo de negociação para aprovação do Orçamento da União.
Em áudio captado em transmissão ao vivo da Presidência pela internet no dia 19, Heleno avaliou que o Executivo não pode aceitar “chantagens” do Parlamento o tempo todo e disse a ministros: "nós não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Foda-se".
Na reunião do Conselho do Governo, no Palácio da Alvorada, o ministro do GSI expôs novamente o incômodo do presidente em permitir que o Congresso derrube seus vetos e controle R$ 30 bilhões no Orçamento de 2020. A preocupação de Bolsonaro, segundo aliados, é de que começará a governar em um sistema de parlamentarismo. Durante o evento com ministros, Heleno deu voz à irritação do presidente, afirmou que o governo não pode ficar “acuado” às pressões do Congresso e que, se preciso, o povo deve ir às ruas se manifestar.
A Câmara dos Deputados e o Senado chegaram a discutir na última semana a possibilidade de chamar o general Heleno para explicar suas declarações.
Reação
Anteontem, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo do governo Bolsonaro, se manifestou sobre o uso de imagens de militares nas postagens que convocam para o ato anti-Congresso, no dia 15. Santos Cruz considerou a montagem irresponsável. Em sua conta no Twitter, o general escreveu que o Exército é uma “instituição de Estado”.
“Irresponsabilidade. Exército Brasileiro - instituição de Estado, defesa da pátria e garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. Confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas é usar de má-fé, mentir, enganar a população”, escreveu Santos Cruz.
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Parlamentares e lideranças políticas de diversos partidos reagiram ontem com críticas a Bolsonaro. O ex-presidente Fernando Henrique classificou o episódio como “uma crise institucional de consequências gravíssimas”. “Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto se tem voz”, publicou em seu perfil no Twitter.
O ex-presidenciável e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) ressaltou que é “criminoso” incitar a população com “mentiras contras as instituições democráticas” e pediu reação do Congresso. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que é “extremamente grave” que altas autoridades civis e militares estejam apoiando atos políticos contra os Poderes Legislativo e Judiciário.