O policial militar Diego Sodré de Castro Ambrósio, que pagou uma prestação de mais de R$ 16 mil do apartamento do senador Flávio Bolsonaro, disse ao G1 que fez o pagamento em outubro de 2016 por ser amigo do parlamentar, mas que não se lembra como foi ressarcido.
"Eu sei que eu paguei a conta, isso eu sei. Agora como eu fui ressarcido, eu não lembro. Que ele me pagou, ele me pagou. Por ironia do destino, eu pedi os extratos a partir do ano de 2015. Nas primeiras folheadas, eu achei o ano de 2016. Eu fui logo no mês de outubro e achei o pagamento da cobrança. Aí eu vi que eu ressarci minha conta com transferência da minha empresa, ou seja, ele não transferiu para minha conta, entendeu? Então eu subentendi que ele me pagou em dinheiro", afirmou.
Ao descrever as maneiras como Flávio Bolsonaro teria lavado o dinheiro supostamente arrecadado com a prática de "rachadinha" em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o Ministério Público do Rio (MP-RJ) cita a ajuda do sargento da Polícia Militar do Rio Diego Sodré de Castro Ambrósio.
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Ele pagou, em 2016, um boleto no valor de R$ 16,5 mil em nome da mulher de Flávio, referente a uma parcela da compra de um imóvel do casal. À época em que pagou essa parcela, Ambrósio recebia como cabo da PM remuneração líquida de R$ 4,7 mil, menos de um terço do valor do boleto.
O PM, que diz que é amigo de Flávio há 10 anos, afirma que irá ao MP para prestar esclarecimentos, se for notificado.
"O pessoal está fazendo um carnaval, parece que eu pagava contas mensais do cara. Eu paguei uma conta, pô. O cara tá implicado numa investigação, e qualquer fato que se relacione a ele tem que ser investigado, e entendo perfeitamente isso. Mas eu tenho todas as respostas para dar", disse o PM.
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Segundo Diego, atualmente 3º Sargento da Polícia Militar, o pagamento do boleto ocorreu em um churrasco de final de campanha.
"Ele pediu para gente sair, para passar num banco, pagar, porque ele estava sem o aplicativo, ou o aplicativo dele estava apagado, alguma coisa aconteceu que ele não ia conseguir pagar a conta e ele não queria pagar juros. Aí eu paguei a conta e ele me devolveu o dinheiro depois", disse ele, alegando desconhecer o esquema que ficou conhecido como "rachadinha".
"Eu nunca me vinculei profissionalmente por ele, nenhum dinheiro da assembleia. Não tinha porque me envolver com assunto de rachadinha, que história de rachadinha é essa? Se eu nunca recebi dinheiro da Alerj trabalhando com ele".
O endereço do policial foi um dos alvos da operação do Ministério Público, realizada na quarta-feira. O PM afirmou ainda que era impossível conhecer o Flávio e não conhecer o ex-assessor Fabrício Queiroz. "A minha intimidade com o Queiroz vinha da minha intimidade com o Flávio. Ele era o único motorista do Flávio."
Na entrevista, Diego também confirmou que comprou panetones da loja de chocolates de Flávio para distribuir a clientes, amigos e familiares, como havia explicado Flávio Bolsonaro. O MP identidicou, entre 2015 e 2018, depósitos em cheque e transferências bancárias do próprio Diego e de sua empresa, a Santa Clara Serviços, para a conta corrente da loja de chocolates de Flávio. Ao todo, o policial teria gosto R$ 21 mil na loja.
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O MP investiga se a compra dos panetones foi uma forma de lavagem do dinheiro do esquema que seria chefiado por Flávio. A loja também foi alvo de mandado de busca e apreensão.
"Eu faço uma compra só, no final do ano, e é mais fácil. Todo mundo gosta, todo mundo consome. Quando o Ministério Público fez a apreensão no meu escritório, eles levaram o meu papel de distribuição, uma lista com 80 nomes, 100 nomes", disse Diego. "Se todo mundo que comprou um panetone na loja do Flávio for inserido nesse processo porque ajudou ele a lavar dinheiro é complicado, né, cara?", questionou o PM.