O jornalista Augusto Nunes agrediu nesta quinta-feira (7) Glenn Greenwald , diretor do The Intercept Brasil . Os dois participavam ao vivo do programa Pânico, da rádio Jovem Pan. A justificativa utilizada por Nunes para agredir Greenwald foi que, diante da situação, essa seria a atitude que ‘qualquer homem tomaria’. O caso despertou comentários a respeito do que seria ' o papel do homem ' . Políticos como Tabata Amaral (PDT-SP), Arthur Do Val (DEM-SP) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP) disseram o que pensam sobre o assunto.
Para a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), a sociedade passou a discutir de maneira recente as consequências do conceito de ‘masculinidade tóxica’ para os próprios homens. “O episódio da briga é absurdo e condenável. Nos mostra o quanto a masculinidade é frágil. Se porque uma pessoa aponta um dedo pra você, o gesto coloca em dúvida o que é ser homem, significa que os homens também sofrem com a pressão da masculinidade”.
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A deputada reforçou, contudo, que apesar dos homens sofrerem com as pressões externas e internas relacionadas a provas da hombridade por meio de atitudes agressivas, as mulheres e as comunidades LGBTs continuam sendo as mais prejudicadas por esse sistema.
“O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres em crimes de ódio, o que a gente chama de feminicídio. O país também é o que mais mata pessoas trans e certamente isso é uma consequência da definição de ‘ser homem’ atrelada a agressão e a violência. Na minha visão, a única forma de ensinar valores diferentes, a importância sobre o respeito e o direito das outras pessoas é na escola. E, claramente, o Brasil ainda não aprendeu”.
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A agressão foi vista como ‘uma armadilha’ da prova de virilidade para o deputado estadual Arthur Do Val (DEM-SP). “As pessoas não gostam do Glenn . Eu, particularmente, não acho que ele é jornalista, ele é um militante que se traveste de jornalista. Usa inclusive fontes de criminosos para tocar a sua escrita. Mas acho que a violência e a truculência nunca são o melhor caminho pra você desmoralizar ou mostrar a hipocrisia do seu adversário num debate ou numa guerra de narrativas”, explicou.
O deputado também disse que Augusto Nunes agiu de maneira precipitada. “Ainda que a ciência ligue o número de testosterona masculina como um fator de maior competitividade e agressividade, isso não é parâmetro pra dizer o que é ou não o papel da mulher e do homem na sociedade. Os indivíduos são mais do que o rótulo de gênero ou da sexualidade. É uma coisa complexa que vai além da dualidade”.
Na perspectiva da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), a sociedade brasileira naturaliza comportamentos masculinos que são nocivos. “Acho que figuras públicas deveriam ser os primeiros a dar exemplo de civilidade e respeito. Se a cena que ocorreu não for repudiada pela sociedade e pelos demais veículos de comunicação, significa que é desse modo que os conflitos devem ser resolvidos. Sendo que não é”.
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A psolista comentou que a agressão desta quinta-feira (7) entre os jornalistas deve servir como uma reflexão maior, para que situações como essa não voltem a se repetir. “E que os homens também reflitam que ser agressivo não é ser homem. É somente ser violento e mostrar pouca capacidade em diálogo e comportamento em público”, complementou Sâmia.
Motivo da briga
O diretor do The Intercept só descobriu que dividiria o programa com Nunes ao chegar no estúdio, mas afirmou que não teria problema em dialogar. A agressão aconteceu após Glenn recordar que Nunes disse que um juiz de menores deveria investigar os filhos do jornalista do Intercept. Nunes disse que se tratava de uma piada humorada e que por ser estrangeiro, Glenn não entenderia. Na sequência, Glenn chamou Nunes de covarde diversas vezes. Augusto Nunes, então, golpeou Greenwald no rosto. Glenn tentou se proteger e a briga logo foi separada pelos produtores do programa.