O presidente Jair Bolsonaro (PSL) desistiu de impor ao ministro da Justiça, Sergio Moro, a troca do diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Numa entrevista nesta quarta-feira (18), o porta-voz da presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, disse que, para Bolsonaro, deliberações sobre cargos na Polícia Federal estão à cargo de Moro.
"O presidente me deixou claro o seguinte ponto: diretamente nunca fez nenhum tipo de restrição ao doutor Valeixo, reconhece o seu trabalho e reforça que decisões relativas
diretamente à Polícia Federal são de responsabilidade do ministro Sergio Moro
", disse Barros.
Numa entrevista coletiva na saída do Palácio da Alvorada, no último dia 22, Bolsonaro anunciou que, se não pudesse indicar o novo superintendente da PF
no Rio de Janeiro,
trocaria o diretor-geral da instituição.
"Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um Estado para ir para lá, “está interferindo”. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral ", afirmou.
Bolsonaro chegou a dizer que trocaria Valeixo porque ele, como presidente da República, é quem manda, não o ministro da Justiça. "Se eu trocar (o diretor-geral da PF) hoje, qual o problema? Está na lei que eu que indico, e não o Sergio Moro. E ponto final", ressaltou.
A confusão começou quando Bolsonaro, numa outra entrevista também na saída do Alvorada, disse que o superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, seria afastado do cargo por problemas de "gestão" e "produtividade". A vaga de Saadi seria ocupada por Alexandre Saraiva, superintendente da PF no Amazonas.
Numa nota, divulgada pelo Ministério da Justiça horas depois das declarações de Bolsonaro, Valeixo confirmou que Saadi deixaria, sim, a superintendência do Rio, mas por vontade própria. O delegado seria substituído por Carlos Henrique Oliveira Sousa, superindente da PF em Pernambuco.
A tentativa de Bolsonaro de interferir na troca de superintendente no Rio, cargo de segundo escalão da PF, provocou forte reação. A Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal disse que Bolsonaro tem a prerrogativa de indicar o diretor-geral, mas não pode escolher superintendentes um cargo administrativo.
A associação também cobrou uma reação enérgica de Moro contra a ameaça de demissão de Valeixo. No decorrer da crise, surgiu o nome do secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres , como provável sucessor de Valeixo. Ele foi longamente elogiado pelo secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira.
Numa entrevista a Folha de S. Paulo
, no último dia quatro, Bolsonaro voltou a falar sobre troca do comando da PF, mas mudou de tom em relação a Moro, o ministro mais popular que
o próprio presidente. “Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar (Maurício Valeixo) quando quiser”, disse Bolsonaro.
Na semana passada, o quadro começou a mudar a favor. A crise, que levou a ameaça de demissão de Valeixo, teria começado com a inclusão indevida do nome do deputado Hélio Negão (PSL-RJ), numa investigação sobre fraude previdenciária no Rio de Janeiro. O "erro" faria parte uma manobra para desestabilizar a gestão de Saadi.
Moro
pediu que a própria PF investigue a suposta fraude. Foi a partir do surgimento do nome do deputado no inquérito que Bolsonaro teria começado a pressionar pela saída de
Saadi. O delegado, de fato, deixou o comando da PF no dia seis deste mês. Até agora não houve a nomeação do substituto.