Após conseguir nesta quinta-feira (12) progressão de pena e permissão para deixar a prisão domiciliar — depois de ficar quase dois anos detido em casa —, Marcelo Odebrecht não teve dúvidas do primeiro destino: a sede do grupo baiano que já comandou, na Marginal Pinheiros, em São Paulo. O ex-executivo circulou ontem por vários andares do prédio, abriu um discreto sorriso ao ser aplaudido por parte dos funcionários e encarou o olhar surpreso da maioria, que até aquele momento não imaginava que ele poderia sair de sua mansão no Morumbi.
Leia também: Sexta Turma do STJ nega liberdade a Dario Messer, 'o doleiro dos doleiros'
No tour de uma hora pela empresa, Marcelo Odebrecht se deparou com um cenário bem diferente do que deixou em 2015, quando foi alvo da Lava Jato. Em quatro anos a Odebrecht reduziu 80% o quadro de funcionários, perdeu 20% da receita bruta e entrou em recuperação judicial. O ex-presidente do grupo nunca negou que sonha em voltar ao comando da companhia que presidiu por sete anos e despontar como o salvador dos negócios. O ex-executivo tem permissão para trabalhar na Odebrecht, desde que não assuma cargos de gestão e que não tenha contato com integrantes do poder público.
Pelas regras de seu acordo de delação, Marcelo só poderia progredir para o regime semiaberto em 2020, mas uma cláusula que só existe na sua delação possibilitava a antecipação da progressão: mostrar-se um colaborador efetivo à força-tarefa da Lava Jato . Entregar os supostos crimes de Maurício Ferro, ex-vice-presidente jurídico da Odebrecht, garantiu ao herdeiro da Odebrecht sair de casa oito meses antes do previsto.
Leia também: Indicado à PGR, Aras defende "Ministério Público Moderno"
Conflito familiar
A visita do herdeiro foi interpretada pelo alto escalão da empresa como mais uma afronta ao seu pai, Emílio Odebrecht, com quem está rompido. Como informou o colunista do GLOBO Lauro Jardim, pai e filho não se encontraram durante a passagem do executivo pela sede. O patriarca havia deixado o local pouco antes de Marcelo aparecer. Ambos não se falam desde que Marcelo estava preso em Curitiba. Em um dos últimos encontros na Polícia Federal paranaense, quase foram às vias de fato.
Leia também: Lula será ouvido pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos
A relação azedou de vez quando o herdeiro saiu da prisão e abriu artilharia contra Ferro, que é marido de sua irmã, Mônica. Marcelo Odebrecht entregou uma série de e-mails que acusavam Ferro de crimes como corrupção e obstrução à Justiça. Emílio não se conformou com a postura do filho de acusar o genro e pai de seus cinco netos. No mês passado, Ferro foi preso diante de toda família.