O ex-governador Sérgio Cabral afirmou nesta terça-feira (27), em depoimento à Justiça Federal, que seu vice-governador, Luiz Fernando Pezão, se beneficiava do esquema de propina na Secretaria de Obras junto com ele. O emedebista declarou ainda que o próprio Pezão, assim como o ex-secretário de Obras Hudson Braga, davam ciência a ele quando terceiros eram beneficiados. Cabral não quis citar quem eram essas pessoas porque há entre elas políticos com foro privilegiado.
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"(Pezão) Participava. Era beneficiado junto comigo, me dava ciência da situação de beneficio de terceiros. ( Pezão ) Se beneficiava pessoalmente", declarou Cabral.
O Ministério Público Federal (MPF) afirma que era cobrado 1% em propina nos contratos da Secretaria de Obras do estado, a chamada taxa de oxigênio.
"Ele (Hudson Braga) era uma das pessoas que me prestavam contas, em tese junto com o vice- governador Pezão, que era meu secretário de Obras, o que fariam com os recursos, benefícios tanto pessoal quanto para terceiros", salientou Cabral.
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O advogado de Pezão, Flávio Mirza, afirmou que o cliente sempre negou e continua negando que tenha recebido propina.
Hudson Braga foi subsecretário de Obras enquanto Pezão acumulava a vice-governadoria e a função de secretário de Obras. Depois que o vice-governado deixou a pasta, Hudson assumiu.
O processo em que o ex-governador depôs nesta terça-feira é fruto de uma denúncia feita em 19 de dezembro de 2017 e que acusou Alex Sardinha da Veiga e Geraldo André de Miranda Santos, da empreiteira Oriente, Sérgio Cabral, Hudson Braga e Wagner Jordão, ex-assessor da secretaria, de atos de corrupção envolvendo a construtora na contratação de serviços de asfaltamento na Baixada Fluminense e em obras emergenciais em municípios do interior do estado, entre outros. Uma das obras da qual a Oriente participou foi a do programa de asfaltamento de ruas chamado Bairro Novo. Com ele, o então candidato à reeleição, Pezão, percorria municípios do estado para se tornar mais conhecido. Cabral disse no depoimento que o programa ajudou eleitoralmente o emedebista.
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Cabral disse que sua relação era maior com as grandes empreiteiras, enquanto o contato da secretaria era feito com as médias construtoras. O ex-governador disse que Pezão e Hudson demandavam que empresas iam assumir quais obras.
"Era uma regra (a propina). Acho que esse percentual, dependendo das obras , era maior do que 1%", afirmou o emedebista.
Cabral disse ainda que soube por um assessor seu, chamado Paulo Fernando, que Pezão e Hudson pediram para que R$ 6 milhões fossem guardados na empresa de transporte de valores Trans-Expert.
Segundo a depor, Hudson Braga negou que cobrasse a taxa de oxigênio.
"Eu nunca pedi dinheiro para ninguém, não criei taxa de oxigênio, não pedi 1% pra ninguém nunca", disse o ex-secretário.
Hudson disse que foi determinado a ele, em uma das obras do PAC Favelas, por Cabral e Pezão que fosse cobrado 1% do valor do contrato "para complementar os salários das pessoas".
"Isso foi determinado pelo governador e vice, que criaram isso (a taxa), sob alegação de que tinha um grupo de pessoas que acompanhavam as obras e tinham salários baixos".