SÃO PAULO - Três anos depois do PT deixar o poder, filiados do partido começam a entrar em movimentos de renovação política como o RenovaBR . Ao contrário da primeira edição, petistas estão entre os aprovados no processo seletivo do movimento de renovação criado pelo empresário Eduardo Mufarej para formar e qualificar novos políticos. O foco dessa edição são interessados na disputa de cargos nas eleições municipais de 2020.
O grupo não divulga os dados de filiação partidária dos seu ingressantes, mas o GLOBO conversou com três petistas que passaram pelo processo seletivo e já começaram o curso. Não havia integrantes do PT no primeiro curso do RenovaBR realizado em 2017.
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Entre os 1400 aprovados no RenovaBR estão filiados a mais de 30 partidos, incluindo o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e até mesmo partidos de extrema-esquerda, como o PSTU, e liberais como oNovo. Contudo, a entrada dos petistas chama a atenção pela distância que a sigla manteve desse tipo de movimento até as eleições do ano passado. Internamente, alguns dos filiados admitem que sofrem críticas de alas mais tradicionais da legenda, que enxergam no curso alguma forma de cooptação externa. O RenovaBR, por sua vez, afirma que a presença de pessoas das mais diferentes matizes ideológicas é uma demonstração de diversidade. No curso os alunos estudam temas como estratégias para montar a própria campanha e o funcionamento do sistema político no Brasil.
Entre os filiados do PT que participam do curso estão sobrenomes conhecidos, como Karla Coser, filha do ex-prefeito de Vitória (ES), JoãoCoser, mas também um líder da juventude do Jardim Ângela, na periferia de São Paulo, Isaac Faria, e o estudante na Universidade de São Paulo (USP), Luciano Queiroz. Todos já participaram das primeiras aulas do RenovaBR. Além da participação nas aulas, os estudantes recebem uma bolsa.
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Apesar das origens diferentes, todos concordam que, para superar o seu pior momento na história, o PT precisa renovar o discurso e, principalmente, as práticas. Os filiados, no entanto, estão de acordo com algumas das principais pautas do partido, como a oposição à Reforma da Previdência aprovado na Câmara e a defesa do ex-presidente Lula.
Nos 13 anos em que ficou no poder, o partido se envolveu em dois grandes escândalos de corrupção. O primeiro foi o Mensalão, que envolvia a compra de votos no Congresso, e o segundo foi a Lava-Jato, que envolveu as grandes construtoras do país e a Petrobrás e acabou levando à condenação de integrantes do partido, inclusive o ex-presidente Lula.
De acordo com Karla Coser, o partido tem feito a chamada autocrítica internamente para que o partido não volte a cometer os mesmos erros. Para ela, contudo, o futuro do PT é se movimentar mais à esquerda, evitando acordos que fez no passado com partidos mais conservadores, como o MDB.
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"O mais inovador que o PT pode ser agora é dialogar. Nossa inovação vai ser dialogar", explica Luciano Queiroz, que coloca a luta pela ciência como uma de suas prioridades na política.
A busca por novas formas de comunicação também é cobrada por Isaac Faria. Um ano antes da prisão do ex-presidente Lula, ele conta ter participado de um evento na presença do petista, quando criticou oexcesso de personalismo no partido e questionou o que seria do PT se oex-presidente morresse. Segundo Isaac, no entanto, o ex-presidente desconversou.
"O que o RenovaBR diz, na verdade, é que a política não se faz mais do mesmo jeito. Hoje a informação é muito mais rápida, muito mais veloz", afirmou.
Para os petistas que fazem o curso do RenovaBR, a forma como o PT se organiza não é mais eficiente como era na fundação da legenda.
"Não é só estar na periferia. É como estar na periferia. Tem assessores de parlamentares do PT que fazem política há 30 anos do mesmo jeito", explica Isaac Faria.