O presidente da República, Jair Bolsonaro, rebateu neste domingo (4) reportagem do Globo que mostrou que ele e seus filhos políticos empregaram 102 pessoas com laços familiares. Ele defendeu a nomeação de parentes e destacou sua intenção de indicar Eduardo Bolsonaro para o cargo de embaixador brasileiro em Washington.
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"Que mania que todo parente de político não presta? Eu tenho um filho que está para ir para os Estados Unidos e foi elogiado pelo Trump. Vocês massacraram meu filho, a imprensa massacrou, (chamou de) fritador de hambúrguer", disse Bolsonaro .
O presidente inicialmente rebateu o levantamento, dizendo nem ter 102 parentes, mas quando os repórteres o alertaram de que a reportagem trata de familiares de funcionários também, o presidente disse ter nomeado parentes seus apenas antes do STF proibir tais nomeações. A reportagem mostrou que Bolsonaro já empregou em seu gabinete na Câmara seus ex-sogros.
"Já botei parentes no passado, sim, antes da decisão de que nepotismo seria crime. Qual é o problema?", afirmou o presidente.
Bolsonaro lembrou o fato de que sua atual esposa, Michelle, já era funcionária da Câmara em outro gabinete quando começou o relacionamento. Disse que questionou a Casa se deveria "renunciar" ou se ela deveria se demitir. Por fim, após um tempo lotada no gabinete do próprio Bolsonaro, ela deixou a função.
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Após deixar o Palácio do Alvorada, Bolsonaro foi à Igreja Fonte da Vida, em Brasília, onde participou de um culto. A cerimônia religiosa é realizada pelo apóstolo César Augusto, que visitou Bolsonaro após o atentado a faca que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. O presidente foi chamado de "mito" pelos fiéis e se emocionou ao abraçar César Augusto.
Durante o discurso na igreja, Bolsonaro citou a reportagem: "a imprensa diz muito que eu ainda estou no palanque. Eu devolvo: a imprensa ainda está na oposição. Por muitas vezes não leio jornal nenhum para não começar o dia envenenado".
O levantamento, na verdade, mostra que o presidente e seus filhos empregaram, em seus gabinetes, mais de uma centena de funcionários com parentesco ou relação familiar entre si – e não com a família Bolsonaro –, e que vários deles têm indícios de que não trabalharam de fato nos cargos para os quais foram nomeados.
Sem dar detalhes, o presidente afirmou que ministro pode ter parentes empregados em funções públicas. O Globo informa que o atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Antonio Francisco de Oliveira, também teve familiares empregados nos gabinetes dos Bolsonaro. Foram três — pai, mãe e tia — em períodos distintos entre 2001 e 2015.
"Se você for procurar, com certeza tem ministro que tem parente empregado por aí", disse Bolsonaro.
O presidente reclamou de a matéria ter levado em conta nomeações desde quando ele entrou para a vida pública. Disse ainda que, no caso de uma de suas ex-mulheres, Ana Cristina, os parentes teriam sido empregados antes de seu casamento. O levantamento mostra, no entanto, que os parentes de Ana Cristina estiveram empregados em gabinetes do clã Bolsonaro enquanto ela e o presidente estavam juntos e também depois.
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"Vocês foram procurar funcionária que eu empreguei em 89. Faz as contas aí. 30 anos. E outra coisa: quando eu botei os parentes da Ana Cristina , eu não era casado com ela. Casei uns 10, 9 anos depois. E aí? Vou devolver o salário de todo mundo?", questionou.
Bolsonaro afirmou ser natural substituir funcionários por parentes destes: "é natural quando alguém vai embora do meu gabinete... Quando morre, no velório já tem dez pedidos de emprego de quem está do meu lado. E é natural você colocar quem está do seu lado".