O procurador federal Deltan Dallagnol disse à rádio CBN nesta sexta-feira (26) que sempre reconheceu a invasão em sua conta no Telegram, assim como a possibilidade de hackeres terem extraído informações verdadeiras do aplicativo. Dallagnol, no entanto, reiterou que não reconhece a autenticidade das mensagens publicadas pelo site The Intercept Brasil e outros veículos de imprensa.
O coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba ainda fez referência às fichas criminais dos quatro suspeitos presos na última terça-feira (23) pela Operação Spoofing e se defendeu em relação à reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal "Folha de S. Paulo" com a informação de que fez palestras para uma empresa citada em delação da Lava-Jato.
“Várias análises mostraram que os diálogos são falseáveis. A origem são pessoas acusadas de crimes, inclusive de falsificação, e quem tem o documento com os diálogos não o apresentou para verificação”, disse o procurador, em alusão à condenação de Walter Delgatti Neto, o principal suspeito, por estelionato e à prisão do DJ Gustavo Henrique Elias Santos por receptação e porte ilegal de arma.
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Dallagnol chegou a exemplificar fatos incluídos nos diálogos já divulgados como exemplo de possíveis alterações. Ele pontuou que não seria possível comparar as informações veiculadas com os dados de seu próprio celular, já que teria recebido orientações institucionais para excluir sua conta no Telegram , e isso teria eliminado os registros.
“Os diálogos falam de uma denúncia contra venezuelanos que nunca aconteceu. Falam de um pedido de mandado de busca e apreensão contra Jaques Wagner (senador pelo PT-BA) que não aconteceu. Quiseram dizer que o objetivo era influenciar no resultado eleitoral, mas as mensagens são de dois dias úteis das eleições, seria impossível fazer o pedido, o juiz decidir e a polícia se programar”, afirmou.
Ainda durante a entrevista, o procurador repetiu que não se lembra dos detalhes das mensagens trocadas com outros procuradores sobre a Lava-Jato.
“São cinco anos intensos de Lava-Jato, trocamos centenas de milhares de mensagens, é impossível lembrar dos detalhes. A inserção ou troca de uma palavra muda totalmente o contexto”, justificou Dallagnol .
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Sobre a relação com o ministro da Justiça, Sergio Moro , responsável pelos processos da Lava-Jato quando era juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Dallagnol tentou afastar a ideia de que existia proximidade entre os dois, conforme indicaram as reportagens do The Intercept que acusaram ambos de agir em conluio.
“A alegação de que somos amigos íntimos não tem base na realidade. Nunca frequentamos a casa um do outro, não fomos a aniversários um do outro, nunca discutimos assuntos de foro íntimo ”, defendeu o procurador.
Sem culpa
Ao ser questionado pelos jornalistas da CBN se houve descuido de sua parte que tivesse facilitado o ataque cibernético, Dallagnol comparou a situação ao tratamento dado às vítimas de estupro:
“Nunca se coloca a culpa do estupro na pessoa que foi estuprada ou na roupa que ela estava usando. Se a pessoa age de forma legal, correta, não é culpada se alguém comete um crime contra ela”, disse.
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O procurador mencionou que considerou a ação criminosa soficistada, apesar da percepção dos peritos da Polícia Federal (PF). Até agora, segundo o procurador, ele não entendeu completamente como funcionou o método "spoofing".
Em relação à reportagem da "Folha" sobre a palestra feita para a empresa Neoway em 2018, por R$ 33 mil, Dallagnol repetiu a mesma versão divulgada pelo Ministério Público em sua defesa. O convite para que ele palestrasse aconteceu dois anos depois de a empresa ter sido citada em um acordo de delação premiada.
“É uma atividade legal, legítima, que leva a discussão sobre o combate à corrupção para a sociedade. Não dou palestras a empresas investigadas ou vítimas da Lava-jato, como já recusei em várias ocasiões. Quando tomei conhecimento da citação da Neoway, em meados de 2018, informei a todos os colegas, me declarei suspeito do caso”, explicou Dallagnol.