Apesar do perfil conciliador, Rêgo Barros não conseguiu ficar imune às críticas
Isac Nóbrega/PR
Apesar do perfil conciliador, Rêgo Barros não conseguiu ficar imune às críticas

Conhecido pela postura moderada e gosto pela leitura, o porta-voz Otávio do Rêgo Barros — general que comandou a comunicação do Exército na gestão de Eduardo Villas Bôas — atribuiu-se a missão de melhorar a relação entre Jair Bolsonaro e a imprensa, além de unificar as divulgações do Executivo como um todo. Ele, contudo, tem encontrado obstáculos pelo caminho.

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As críticas diretas recebidas do deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) no fim de semana (“porta-voz serve para proteger, não para expor”) e as indiretas proferidas pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC) na sexta-feira (“por que o presidente insiste no tal café da manhã semanal com ‘jornalistas’?”) já ecoam nos corredores do Palácio do Planalto há alguns meses.

No gabinete de Fabio Wajngarten, novo secretário de Comunicação do governo, as críticas aos cafés da manhã são frequentes desde sua entrada no cargo, em abril. A avaliação é de que a estratégia, elaborada por Rêgo Barros , é ineficaz em melhorar a imagem do presidente e transmitir a ideia de que é Bolsonaro quem lidera os esforços para o país avançar. Wajngarten nunca participa dos cafés e mantém relação distante com o porta-voz.

Ainda que Bolsonaro tenha defendido o general dos ataques de Feliciano e Carlos, afirmando que Rêgo Barros o trata “com muito zelo, muita preocupação”, não são raras as vezes em que o presidente chama a atenção do subordinado por discordar do tom de algum pronunciamento. Também já ocorreram situações em que, no meio de um briefing de imprensa, Bolsonaro muda de opinião sobre um determinado tema, deixando Rêgo Barros em saia justa. Exemplo disso ocorreu no início de junho, quando o presidente havia cancelado uma viagem à região de Barra dos Garças, em Mato Grosso, mas recuou justamente no momento em que Rêgo Barros anunciava a mudança de planos.

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Em outro episódio, no final de junho, Rêgo Barros anunciou que Bolsonaro não recuaria dos três novos decretos sobre a flexibilização da posse de armas. Preparou o briefing com a informação e, enquanto fazia esse anúncio, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , costurava um acordo para revogar os três textos recém-publicados. O porta-voz foi pego de surpresa.

As idas e vindas e as tensões no Palácio do Planalto têm impactado a saúde do general. Rêgo Barros submeteu-se, no ano passado, a uma cirurgia para colocar uma prótese nos quadris. Por isso, deveria se dedicar a sessões frequentes de fisioterapia — rotina que não tem conseguido cumprir em razão do tempo escasso. Sua alimentação, fundamental para o controle do peso, já que não pode se exercitar, também piorou.

A ida do general para o governo também lhe custou um preço alto no aspecto profissional. Ao ingressar no Palácio do Planalto, ele estava prestes a passar pelo último filtro do Exército para se tornar um general quatro estrelas, título que o alçaria ao restrito Alto Comando da instituição. Caso não fosse promovido, iria para a reserva. Como a função de porta-voz traz uma exposição política não desejada pelo Exército, sua estada no governo Bolsonaro contribuiu para que, em junho, Rêgo Barros saísse da ativa com três estrelas. Ou seja, acabou não sendo promovido.

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Além de Rêgo Barros, Carlos Bolsonaro e Feliciano coincidem em outros ataques a quadros do Executivo. Os ex-ministros Gustavo Bebianno e Carlos Alberto dos Santos Cruz, além do vice-presidente Hamilton Mourão , foram alvos no passado. Bebianno e Santos Cruz caíram. Mourão se recolheu, reduzindo as declarações controversas em público.

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