O presidente Jair Bolsonaro mencionou a nomeação de um ex-deputado federal do PT pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir a Embaixada do Brasil em Cuba, em 2003, ao justificar a intenção de indicar seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para chefiar a missão diplomática brasileira nos Estados Unidos.
“Por exemplo, olha só: o Tilden Santiago não foi reeleito em 2002, foi ser embaixador em Cuba. Ninguém falou nada”, declarou o presidente Bolsonaro na manhã desta quinta-feira (18), na saída do Palácio da Alvorada, sua residência oficial.
Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, pelo qual foi deputado federal entre 1995 e 2002, Santiago se candidatou ao Senado naquele ano, mas ficou em terceiro lugar, sendo indicado por Lula para a Embaixada em Havana no ano seguinte.
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Desde sua saída do posto, em 2007, apenas diplomatas de carreira se tornaram embaixadores do Brasil. Em 2010, o ex-parlamentar foi eleito segundo suplente na chapa de Aécio Neve s (PSDB-MG) ao Senado.
Bolsonaro mencionou ainda o caso de Osvaldo Aranha, no final dos anos 1940, como uma "indicação política". E comentou que, por exemplo, a idade mínima para uma pessoa ocupar o cargo de ministro de Estado é de 21 anos - quatro a menos que a necessária para portar uma arma-, em referência aos pré-requisitos para ocupar um cargo público.
O presidente também foi questionado sobre o levantamento divulgado nesta quinta pelo Paraná Pesquisas, segundo o qual 64,9% dos entrevistados discordam da indicação de Eduardo, e desmereceu o instituto, sem citá-lo.
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“A mesma fonte que disse que eu não estaria no 2º turno”, comentou Bolsonaro , provavelmente confundindo a empresa que fez a pesquisa.
Ao contrário do que disse o presidente, todos os levantamentos do instituto apontaram que ele estava em primeiro ou segundo lugar durante o 1º turno das eleições do ano passado.
Pressão
Em sua fala à imprensa, Bolsonaro apresentou uma série de perguntas e respostas que, segundo ele, expõem a simplicidade da indicação do filho para a Embaixada em Washington.
“Você tem que ver o seguinte: é legal? É. Tem algum impedimento? Não tem impedimento por ser meu filho. Atende o interesse público? Qual o grande papel do embaixador? Não é o bom relacionamento com o chefe de Estado daquele outro país? Atende isso? Atende. É simples o negócio", declarou.
O presidente concluiu sua manifestação, a mais recente de repetidas defesas da ideia desde a quinta-feira da semana passada, quando a possibilidade veio a público, questionando o motivo do que classificou como "pressão" sobre seu filho.
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“Por que essa pressão em cima de um filho meu? Ele é competente ou não é competente? Dentro do quadro das indicações políticas, vários países fazem isso, e é legal fazer no Brasil também. Tá certo?”, indagou Bolsonaro .
Na sexta-feira da semana passada, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, também saiu em defesa de Eduardo , a quem chamou de "um jovem preparado" .
Ramos argumentou que a nomeação do deputado é legal e lembrou que outros políticos já foram indicados para para o posto diplomático , como o ex-presidente Itamar Franco (1930-2011), nomeado embaixador em Portugal pelo então presidente Fernando Henrique, e o de Tilden Santiago.
“Não contraria a lei. Já houve no passado indicação de políticos. O Eduardo é político”, disse Ramos.