Ao defender a indicação do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a embaixada brasileira nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro justificou sua decisão afirmando que, desde 2003, todos os embaixadores do Brasil em Washington "não fizeram nada de bom." Bolsonaro voltou a reforçar que deseja aproveitar a proximidade de Eduardo com a família do presidente americano, Donald Trump.
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"Ele ganhou notoriedade, tem rodado o mundo todo, tem uma amizade com a família Trump (...) Imagine se o filho do Macri (Maurico Macri, presidente da Argentina) fosse embaixador no Brasil, ligando para mim, querendo falar comigo, quando ele seria atendido? Amanhã, semana que vem, ou imediatamente? É essa que é a intenção. Se vocês pegarem de 2003 para cá, o que os embaixadores nossos, que tivemos do Brasil nos Estados Unidos , fizeram de bom para nós? Nada", criticou Bolsonaro .
A declaração foi dada em entrevista coletiva na 54ª Cúpula do Mercosul, em Santa Fé, na Argentina. Ao se aproximar dos jornalistas, Bolsonaro apresentou o filho Jair Renan , de 20 anos, como "embaixador mirim". Foi a primeira viagem internacional do 04 com o pai.
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"Tô com o embaixador aqui do meu lado (com o filho mais novo). Vem cá, embaixador. Gostaram do embaixador aqui? Embaixador mirim. Está aprendendo", disse, em tom de brincadeira, o presidente.
Bolsonaro acredita que não haverá problemas da parte dos Estados Unidos em receber as credenciais de Eduardo Bolsonaro. Segundo ele, um simples telefonema para Trump resolveria a questão.
"Eu acho que já foi feito o comunicado com os Estados Unidos. Então, um telefonema simples meu para o Trump, que franqueou a palavra... Nem precisa falar isso pra ele. Eu tenho certeza que ele dará o sinal positivo", disse.
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Na noite de terça-feira, o chanceler Ernesto Araújo confirmou que o Itamaraty preparou uma minuta com o pedido de agrément do governo dos Estados Unidos. Segundo Araújo, a consulta será enviada tão logo o presidente Bolsonaro determinar.
O rito para a nomeação de um embaixador prevê que o país que vai recebê-lo aprove a indicação antes mesmo de ela ser formalizada — o mecanismo foi estabelecido pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e normatizado no Brasil por meio de um decreto de 1965.
O presidente voltou a reforçar que a indicação de Eduardo carece também da aprovação do Senado. Ele disse que os parlamentares que têm se posicionado contra a nomeação "não conhecem a vida" do seu filho. Bolsonaro disse ainda que se quisesse poderia indicar Eduardo para o cargo de ministro das Relações Exteriores, no lugar do chanceler Ernesto Araújo. Neste caso, ele oferecia o posto nos Estados Unidos para Araújo.
"Não é decisão minha apenas, passa pelo Parlamento. Você quer ver uma coisa? Eu posso chegar para o Ernesto agora: "Dá licença, meu filho vai ser o ministro das Relações Exteriores e você vai para Washington. Meu filho continuaria sendo deputado, teria ascendência sobre uma centena de embaixadores fora do Brasil. É uma realidade", afirmou.
Ao ser questionado se essa hipótese havia sido considerada, Bolsonaro disse que "não."