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Mais uma vez, na semana passada, presenciou-se um tiroteio verbal e o primeiro disparo veio de Carlos Bolsonaro
Reprodução/Twitter
Mais uma vez, na semana passada, presenciou-se um tiroteio verbal e o primeiro disparo veio de Carlos Bolsonaro

Quando se vê paz no front envolvendo Carlos Bolsonaro e oficiais da reserva que integram o governo de seu pai, os brasileiros já aprenderam que ela é apenas aparente — e a bandeira branca logo é rasgada. Mais uma vez, na semana passada, presenciou-se um tiroteio verbal, e é imprevisível saber qual será o seu derradeiro desdobramento. O primeiro disparo… que dúvida?!… é claro que foi dado por Carlos, vereador no Rio de Janeiro, como ocorreu anteriormente.

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O alvo agora foi o general Augusto Heleno, ofendido por Carlos de forma gratuita e sem o menor sentido — diga-se, aliás, que também sentido algum habita a cabeça de seu guru, o filósofo de internet Olavo de Carvalho, que mesmo com a boca fechada e distante do Planalto segue a oferecer munição para aqueles que, como o vereador, compõem a ala ideólogica do poder, mantendo público desprezo pelos militares.

Carlos entrou na parada assim que uma página bolsonarista no Twitter postou um vídeo no qual acusa o Gabinete de Segurança Institucional, comandado por Heleno , e a Força Aérea Brasileira de serem cúmplices no caso do sargento preso na Espanha com trinta e nove quilos de cocaína na bagagem. O vídeo armou Carlos, inflou Carlos, atiçou Carlos.

Ele então escreveu: “Por que acha que não ando com seguranças? Principalmente aqueles oferecidos pelo GSI ? Sua grande maioria (…) está subordinada a algo em que não acredito (…). O site atacou de frente o general Heleno, dizendo: “a culpa é dele”. Como se disse, não há sentido algum. As Forças Armadas até podem subir o grau de rigor em aeronaves de apoio à comitiva oficial (o episódio se deu na viagem de Jair Bolsonaro ao G-20), mas é preciso explicar ao filho predileto que não compete funcionalmente aos agentes do GSI exercer essa fiscalização. É trabalho da Polícia Federal. E mais: ficou claro que Carlos está vasculhando um velho desentendimento da época de campanha, quando Heleno abateu a sua proposta de criar um órgão paralelo à Agência Brasileira de Inteligência.

“Pau–mandado”

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Bolsonaro e Heleno são colegas de farda, embora haja entre eles um abismo de patentes (capitão e general, respectivamente) e outro abismo no campo da intelectualização. Heleno é bem mais culto. Eles são, também, amigos pessoais, e isso há muito tempo. Não sem razão, portanto, Bolsonaro demonstrou publicamente apoio ao colega, e, com certeza, o mais marcante foi mantê-lo ao seu lado na tribuna do Mineirão ao assistir a vitória da seleção brasileira diante da Argentina. Dois fatos, no entanto, têm de ser levados em consideração. O primeiro: caiu mal no meio militar o comportamento do filho do meio. O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, membro da Comissão de Anistia do governo federal, comprou a briga e chamou Carlos de “pau-mandado de Olavo”. Prosseguiu no revide: “se o pai chama os estudantes vermelhinhos de idiotas úteis, e eu concordo, para mim, o filhinho dele é um idiota inútil, ou útil para os esquerdistas”.

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Segundo ponto: a curta história de Bolsonaro no poder já mostrou que, aos quarenta e seis do segundo tempo, ele acaba se curvando ao filho. Veremos o fim de sua amizade com Heleno? Ele, o pai, começou defendendo o general, mas, até aí, nada a ser muito considerado, porque opiniões na mente do presidente são serrote em madeira — vivem de vai e volta. Quem sabe ajude nessa nova crise o Band-Aid que Eduardo, irmão mais novo de Carlos, tentou colocar na ferida: “ele não falou que desconfia do general Heleno ”. Viva a esperteza!!! Viva!!! Descobriu-se que o vigoroso velhinho de 71 anos de idade não é traficante!!!

Uma recente curvatura do pai frente aos caprichos do filho foi mandar para casa um dos homens mais eficientes (internacionalmente respeitado por suas campanhas de paz no Haiti e no Congo). Trata-se do general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secom. Carlos e a ala olavista o criticaram durante os seis meses em que esteve no governo, interessados em dominar esse setor oficial.

Outro embate detonado por Carlos foi com o vice-presidente Hamilton Mourão: vinte postagens em quarenta e oito horas no Twitter. Quando o vice lamentou que o ex-deputado federal Jean Wyllys estivesse deixando o Brasil devido a ameças de morte, Carlos escreveu: “Caiu no colo de Mourão algo que jamais plantou. Estranhíssimo seu alinhamento com políticos que detestam o presidente (…)”. Mourão, bem mais velho e bem mais sábio, colocou o vereador em seu lugar com perfeita estratégia: ignorou as provocações. É o que Heleno vem e deve continuar fazendo.

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O pai começou defendendo o general, mas, até aí, nada a ser muito considerado. Opiniões na mente do presidente são serrote em madeira — vivem de vai e volta.

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