Uma iniciativa vista como gesto de aproximação do governo com o mundo político foi rechaçada na última sexta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro ao mesmo tempo em que ele mudou de mãos a articulação política do Palácio do Planalto. Para o presidente, a ideia de criar um conselho com dirigentes de partidos foi “natimorta”.
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O governo acabara de entrar no quarto mês quando Bolsonaro, cobrado pela falta de interlocução com as siglas e em busca de apoio para a aprovação da reforma da Previdência, deu início a uma série de reuniões com dirigentes e lideranças de diversas legendas, em 4 de abril. Na ocasião, fez um convite para que os chefes das legendas integrassem um conselho que se reuniria mensalmente, para levar propostas ao Executivo. Os primeiros convidados foram representantes de PRB, PSD, DEM, PP, PSDB e MDB.
A intenção era que o grupo servisse como “aconselhamento para o governo”, nas palavras do ministro-chefe da Casa Civil, então articulador político do Planalto, Onyx Lorenzoni . Sem qualquer sinal de que a iniciativa seria concretizada, o presidente foi questionado sobre o conselho na última sexta-feira, dois meses após o convite.
"Natimorto. Não deu certo. Vimos depois do anúncio que ia apenas burocratizar e não daria certo", respondeu Bolsonaro , sem dar detalhes sobre a desistência, durante entrevista coletiva em Brasília.
Outra iniciativa que poderia azeitar a relação de Bolsonaro com o mundo político foi exposta em fevereiro pela primeira vez, mas até agora não andou. Proposta pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, a assinatura de um “pacto de entendimento e metas” entre os chefes do Executivo, Legislativo e Judiciário foi encampada por Bolsonaro. Inicialmente, o texto incluía cinco pontos: reforma da Previdência, reforma tributária, pacto federativo, segurança pública e desburocratização da máquina.
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A Casa Civil da Presidência ficou responsável por fazer uma nova versão e apresentá-la aos possíveis signatários, o que ocorreu no último dia 28 de maio, durante café da manhã no Palácio da Alvorada, a Bolsonaro, Toffoli e aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Na saída do encontro, Onyx afirmou que o pacto foi “praticamente validado por todos” e estimou para o dia 10 desse mês — duas semanas atrás — o ato para formalizar a assinatura. A iniciativa, no entanto, encontrou resistência entre lideranças na Câmara e também entre ministros do STF, sendo adiada indefinidamente.
Ao ser indagado no sábado se o pacto ainda estava nos seus planos, Bolsonaro destacou a necessidade de diálogo , mas minimizou a importância da assinatura de um documento conjunto.
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"Com todo o respeito, nem precisava ter um pacto, isso tem que ser do coração teu, do teu sentimento, da tua alma. Temos que conversar entre nós, sim, até o Judiciário também entra nessa conversa. A questão é que tem que vir de um sentimento nosso", declarou o chefe do governo .