Está em curso nos meios políticos em Brasília um movimento para convencer o presidente Jair Bolsonaro a declarar apoio à recondução de Raquel Dodge antes mesmo das eleições para a escolha da lista tríplice para o comando da Procuradoria Geral da República (PGR).
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A articulação começou com integrantes da equipe de Raquel Dodge , ganhou força no Congresso Nacional e chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi repassada ao Globo por um por um procurador e repetida, em diferentes situações, por duas outras fontes, uma do Ministério Público e outra do Congresso Nacional.
A sugestão para a indicação de Dodge antes mesmo da lista tríplice já chegou a Bolsonaro. O Globo conversou com duas fontes com acesso ao gabinete do presidente. Um deles disse que Bolsonaro ouviu as explanações sobre Dodge e respondeu que não se compromete com a lista tríplice. Mesmo assim, não faria indicação de Dodge ou de qualquer outro nome antes do dia 18, data da eleição para a escolha dos três nomes pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
Uma outra fonte, com proximidade ainda maior com o presidente, disse que Bolsonaro, nos últimos meses, mudou de opinião em relação a procuradora-geral. "Muita coisa aconteceu desde o início do ano. Hoje não existe mais o veto ao nome dela", disse o interlocutor do presidente.
Na linha de frente desse silencioso movimento está o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e um expressivo número de parlamentares do centrão. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, também já fez uma enfática defesa da recondução de Dodge numa conversa com o presidente Jair Bolsonaro, conforme revelou Época há duas semanas .
Predicados positivos
Toffoli não chegou a dizer explicitamente que Dodge deveria ser indicada imediatamente. Mas para pessoas próximas ao ministro, esse detalhe estava implícito na forma como o presidente do STF caprichou nos elogios à "racionalidade e ao equilíbrio" da procuradora-geral no comando do MPF.
A iniciativa de Toffoli conta com o respaldo de Gilmar Mendes e outros ministros do tribunal. Na busca pela indicação o mais cedo possível de Dodge estão o vice-procurador-geral Luciano Maia e o secretário-geral, Alexandre Camanho, dois dos principais auxiliares da procuradora-geral.
No último dia 27, Camanho, um dos procuradores com mais contato no Congresso, se reuniu com o presidente da Câmara. Durante a reunião, Camanho pediu um gesto público de Maia em favor de Dodge, segundo disse ao Globo um interlocutor dos dois. O presidente da Câmara é um apoiador de primeira hora de Dodge. Mas, para o grupo dela, era importante que Maia fizesse um movimento que deixasse claro a simpatia dele pela procuradora-geral.
No dia seguinte, o presidente da Câmara participou de uma solenidade em que Dodge empossou Marília Siqueira da Costa e Silva, recém aprovada em concurso, como procuradora da República em Guanambi, interior da Bahia. Pelo histórico da casa, só comparecem a esse tipo de cerimônia familiares do empossado e dirigentes da ANPR. Afinal de contas, se trata de um servidor público em início de carreira. Mesmo assim, Maia esteve lá e não deixou de chamar a atenção por sua presença.
"Nenhum presidente da Câmara participa desse tipo de evento. A procuradora empossada nem era do Rio, estado do deputado. Ele (Maia) foi lá como uma forma de explicitar apoio a indicação imediata dela", disse um frequente interlocutor de Dodge. "Sim, foi um sinal de apoio", confirmou um amigo de Maia.
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Procurado pelo Globo , por intermédio de sua assessoria de imprensa, Maia não se manifestou. Camanho disse, pela assessoria de imprensa, que a conversa com o presidente da Câmara "foi sobre o projeto de lei que trata da possibilidade de remanejamento dos valores que haviam sido reservados para o pagamento do auxílio-moradia para verba de custeio. Este projeto recebeu uma emenda recente que preocupa o Ministério Público". A reportagem tentou, mas não conseguiu falar com Luciano Maia.