Jair Bolsonaro chegou a 100 dias no Palácio do Planalto
Marcelo Casal Jr/Agencia Brasil
Jair Bolsonaro chegou a 100 dias no Palácio do Planalto

Eleito com 55,13% dos votos nas eleições de 2018, Jair Bolsonaro passou 100 dias tumultuados no Palácio do Planalto. O reflexo veio na última pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo (7), que apontou que o presidente tem apenas 32% de aprovação, enquanto 30% dos eleitores consideram o mandato do capitão reformado ruim ou péssimo.

Acesse: Tudo que você precisa saber sobre os 100 primeiros dias do governo Bolsonaro

Presidente em primeiro mandato com a pior avaliação desde a redemocratização, Bolsonaro teve como principais obstáculos a truculência na articulação política, os atritos entre as diferentes "alas" da base do governo e as redes sociais. Grande arma do então candidato do PSL na campanha presidencial, as declarações polêmicas do presidente e de seus filhos na web geraram muita controvérsia.

Com um discurso anti-establishment e focado em mudanças, o presidente teve uma agenda internacional intensa nos primeiros meses do mandato. Motivado a mudar a imagem do Brasil internacionalmente, ele fez duras críticas aos governos anteriores, classificados por ele como "de esquerda socialista".



Caso Queiroz, o primeiro escândalo

O ex-assessor Fabrício Queiroz foi o pivô do primeiro escândalo do governo Bolsonaro
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O ex-assessor Fabrício Queiroz foi o pivô do primeiro escândalo do governo Bolsonaro

Ainda antes de assumir a cadeira do Palácio do Planalto, o nome da família de Bolsonaro acabou envolvido em um grande escândalo: Segundo um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão responsável por identificar movimentações financeiras, Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar do então senador eleito e filho mais velho do presidente Flávio Bolsonaro (PSL), recebia sistematicamente transferências bancárias e depósitos feitos por oito funcionários que trabalharam ou ainda trabalham no gabinete do deputado na Alerj.

Entre as movimentações financeiras atípicas registradas pelo Coaf, há também a compensação de um cheque de R$ 24 mil pago à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, além de saques fracionados em espécie no mesmo valor dos depósitos suspeitos feitos nas respectivas vésperas.

Leia também: Do relatório do Coaf ao STF: entenda caso Queiroz e relação com Flávio Bolsonaro

Ao prestar depoimento por escrito, Fabrício Queiroz disse seu objetivo era “ampliar a rede de colaboradores” de Flávio Bolsonaro para aproximar o deputado de sua base eleitoral. O ex-assessor afirmou ainda que Flávio não sabia da prática.

“Por contar com elevado grau de autonomia no exercício de sua função, resultante de longeva confiança que nele depositava o deputado, o peticionante nunca reputou necessário expor a arquitetura interna do mecanismo que criou ao próprio deputado e ao chefe de gabinete”, diz a petição entregue ao MP-RJ.

Queiroz afirmou que não considera a prática ilícita pois o dinheiro não era usado em benefício próprio ou de terceiros, e sim para “multiplicar e refinar os meios de escuta da população por um parlamentar”. Durante o período em que a investigação esteve em evidência, Bolsonaro afirmou que o filho "deveria pagar caso tivesse errado".

Após o depoimento, o caso arrefeceu, mas, no dia 20 de março, um novo relatório do   Coaf  enviado ao Ministério Público do Rio (MP-RJ) mostra outras movimentações consideradas atípicas feitas por Nathalia Melo de Queiroz para o pai dela, Fabrício Queiroz, quando a jovem trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.

De acordo com o relatório,  a jovem repassou 80% do salário que ganhou na Câmara para a conta do pai entre os meses de junho e novembro de 2018. Foram R$ 29,6 mil dos R$ 36,6 mil que recebidos. 

A Promotoria acredita que Queiroz tenha comandado uma pratica conhecida como "rachadinha", onde funcionários repassam uma parte de seus salários de volta para os parlamentares. Ainda há a suspeita que a jovem teria sido "funcionária fantasma" na Câmara, uma vez que, enquanto estava lotada no gabinete do agora presidente, ela também estava contratada para dar aulas de educação física do Rio de Janeiro por 40 horas por semana.

Recuperação após atentado atrasa agenda

Bolsonaro ficou internado por 18 dias logo no início do mandato
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Bolsonaro ficou internado por 18 dias logo no início do mandato

O início do governo Bolsonaro foi marcado pelo processo de recuperação do presidente da República, que levou uma facada quando participava de um comício na cidade de Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018.

Quando assumiu a Presidência, o capitão da reserva ainda estava com a bolsa de colostomia, que foi inserida durante as cirurgias após o ataque. Ele voltou a ser internado no Hospital Albert Einstein no dia 27 de janeiro para a retirada da bolsa e a reconstrução do trânsito instestinal.

Bolsonaro foi liberado 18 dias após o procedimento e, apesar de montar um "gabinete" dentro do quarto do hospital, a agenda do presidente foi prejudicada pela internação, que durou mais tempo do que os médicos esperavam. Os especialistas ainda pediram para que o presidente falasse o menos possível para evitar complicações.

Sem a presença de Bolsonaro logo no início da gestão, o vice-presidente, Hamilton Mourão e alguns dos ministros ficaram responsáveis pela articulação do governo, o que acabou atrasando a agenda do PSL.


"Laranjal" derruba Bebianno, mas não Marcelo Álvaro

Enquanto ainda estava internado, o presidente deu início a primeira grande crise interna no governo, que culminou na exoneração do então secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno.

Uma denúncia feita pelo jornal Folha de São Paulo no início de fevereiro informou que o PSL repassou verbas públicas para uma candidata a deputada federal em Pernambuco e quatro em Minas Gerais, suspeitas de serem candidatas laranjas, ou seja, candidatas que não fizeram campanha efetivamente.

Gustavo Bebianno foi o primeiro ministro a cair no governo Bolsonaro
Rafael Carvalho/Governo de Transição
Gustavo Bebianno foi o primeiro ministro a cair no governo Bolsonaro


Os repasses teriam sido autorizados pelo ex-secretário-geral da Presidência que foi presidente do partido durante o período eleitoral. Depois de ser acusado, o advogado tentou afastar os boatos de que estava mal visto pelo presidente afirmando que ambos conversavam com frequência. "Só hoje falei com o presidente três vezes", disse no dia 12 do fevereiro.

No dia seguinte, no entanto, o filho do presidente e vereador do Rio de Janeiro, Carlos  Bolsonaro, divulgou um áudio do pai afirmando que era uma "mentira absoluta" que ele teria conversado com o então ministro. A publicação foi repostada pelo presidente. Desde então, começou a pressão no Palácio do Planalto pela demissão de Gustavo Bebianno , o que só aconteceu segunda-feira seguinte, dia 18.

"O excelentíssimo senhor presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, decidiu exonerar nesta data, do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência . O senhor presidente da República agradece sua dedicação à frente da pasta e deseja sucesso na nova caminhada", disse o comunicado, que evitou dar os motivos da exoneração do ministro.

Bebianno também desejou sucesso para o governo, mas acabou divulgando arquivos de áudio provando que, de fato, havia conversado com o presidente por mensagens.

Apesar do discurso anti-corrupção, Bolsonaro deixou claro que só puniria membros do governo acusados de atos ilícitos após "provas robustas". No caso do titular da pasta do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, o presidente vem cumprindo sua promessa.

Acusado por três supostas candidatas-laranja de comandar um esquema de desvio de verbas em Minas Gerais, o ministro segue firme no cargo. Por conta da diferença de tratamento entre Bebianno e Marcelo Álvaro, a oposição acusa Bolsonaro de ter demitido o ex-secretário geral da Presidência pelo desentendimento com o filho.

Discursos internacionais ditam tom do governo

Bolsonaro e Trump fizeram reunião na Casa Branca
Divulgação/Planalto
Bolsonaro e Trump fizeram reunião na Casa Branca


Uma das mudanças mais latentes da gestão de Bolsonaro para os governos anteriores são os posicionamentos do Brasil na comunidade internacional. Em seu primeiro compromisso fora do País, ele fez o discurso de abertura no Fórum Mundial Econômico em Davos, na Suíça. No pronunciamento, ele ressaltou o combate à corrupção e a Operação Lava Jato e se disse animado para apresentar o "novo Brasil" para o resto do mundo.

Ferrenho crítico do ditador venezuelano Nicolás Maduro, Bolsonaro colocou o Brasil em posição de liderança no Grupo de Lima, que é formado por onze países latino-americanos e denuncia o governo da Venezuela.

O Brasil foi, inclusive, um dos primeiros a reconhecer o autodeclarado presidente intereno do país vizinho, Juan Guaidó, que hoje tem o respaldo de quase toda a América Latina, dos Estados Unidos, do Canadá e da União Europeia.

Na segunda quinzena de março, o presidente brasileiro foi para os Estados Unidos e se reuniu com Donald Trump na Casa Branca. Após a conversa, os dois discursaram e o norte-americano garantiu que "os dois países nunca estiveram tão próximos" e ainda parabenizou o brasileiro pela "improvável" vitórias nas eleições.

Quando chegou sua vez de discursar, Bolsonaro fez questão de antagonizar os governos anteriores: "Depois de décadas de presidentes 'anti-americanos', o Brasil mudou a partir de 2019. Temos muito a conversar e muito a oferecer aos nossos povos. Tenho muita coisa em comum com o senhor Donald Trump . Podem ter certeza que, a partir de hoje, o Brasil estará muito mais engajado com os Estados Unidos", disse o presidente brasileiro.

Após uma rápida passagem pelo Chile onde países sul-americanos anunciaram o fim do Unasul e a criação do Prosul, segundo os líderes, "um grupo sem viés ideológico", como seria o primeiro, o brasileiro rumou para Israel e se encontrou com o primeiro ministro, Benjamin Netanyahu.

O anúncio da criação de um escritório oficial brasileiro em Jesusalém desagradou países árabes , mas o presidente voltou a reiterar a mudança de posicionamento do país e a atacar as gestões anteriores. "O Brasil deu uma guinada, a questão ideológica deixou de existir em nosso governo, buscamos ampliar nossos negócios no mundo todo. Queremos fazer com que o Brasil se aproxime cada vez mais com o que há de melhor no mundo", disse o capitão.




"Despetização" e Ficha Limpa para servidores públicos

Com promessa de desinchar a máquina pública e combater a corrupção, o governo anunciou o que chamou de uma "despetização" logo nos primeiros dias da gestão. Mais de 3.000 servidores foram exonerados por conta da medida.

Já no dia 18 de março, um decreto estabeleceu critérios para a ocupação de cargos em comissão e funções comissionadas na administração federal direta, incluindo autarquias e fundações.

A medida atinge os mais de 24,5 mil cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores (DAS) e das Funções Comissionadas do Poder Executivo (FCPE). Hoje, cerca de 3,7 mil ainda estão vagos, à espera de nomeação.Os critérios gerais para a ocupação dos cargos e funções são idoneidade moral e reputação ilibada; perfil profissional ou formação acadêmica compatível; e não estar impedido de acordo com a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº 64/1990).

Alguns dias depois, o governo confirmou que a regra será retroativa, ou seja, servidores que não cumprirem com os requisitos serão exonerados de seus cargos .

Previdência x pacote anticrime e os problemas na articulação política

Atrito entre Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia atrapalha tramitação da reforma
Marcos Corrêa/PR
Atrito entre Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia atrapalha tramitação da reforma

Vista como necessária pelos partidos do chamado "Centrão" e pela ala técnica do governo, a reforma da Previdência proposta pelo ministro da Economia Paulo Guedes foi colocada como prioridade do governo federal assim que Bolsonaro assumiu o cargo. No entanto, o "pacote anticrime" criado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública  Sergio Moro ganhou espaço dentro do governo por agradar a base aliada e o eleitorado mais vocal do presidente.

Ao reclamar da falta de espaço para votar o pacote de leis na Câmara dos Deputados, Moro despertou a ira do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM). "Moro está desrespeitando acordo meu com o governo. Nosso acordo é priorizar a reforma da Previdência. Espero que ele entenda que hoje ele é ministro de Estado. Ele está abaixo do presidente. Eu já disse a ele que esse projeto vai ser posterior à Previdência", disse Maia.

A resposta de Maia gerou críticas de Carlos Bolsonaro, que ironizou o presidente da Câmara pelas redes sociais. O parlamentar não gostou e sinalizou que deixaria a articulação da reforma. Bolsonaro colocou panos quentes, dizendo que "nunca havia falado mal de Maia", mas o deputado voltou a responder com rispidez, dizendo que a obrigação de aprovar a nova Previdência era do governo.

No final de março, o presidente da Câmara selou a paz com Sérgio Moro durante um café da manhã promovido pela líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP). O que ficou acordado entre os dois é que o pacote anticrime circularia primeiro no Senado, enquanto a Câmara seguiria focada na Previdência.

Logo depois, Bolsonaro minimizou o atrito com Maia. Para mim, isso foi uma chuva de verão. O sol está lindo e o Brasil está acima de nós. Um abraço para o Rodrigo Maia. O Brasil está acima de tudo. É uma chuva de verão. Outros problemas acontecerão com toda a certeza", disse o presidente.

Crise no MEC expõe atrito interno

Vélez Rodríguez foi o pivô da maior crise interna do governo Bolsonaro
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Vélez Rodríguez foi o pivô da maior crise interna do governo Bolsonaro

Ricardo Vélez Rodríguez foi pivô de maior crise ministerial do governo Bolsonaro. A pasta de Educação sofreu com constantes exonerações e já se envolveu em polêmicas que desagradaram a base do governo, a oposição e até o eleitorado de Bolsonaro.

A última queda importante foi a de Bruno Garschagen, assessor especial e um dos integrantes mais próximos ao ministro Ricardo Vélez, e o chefe de gabinete do MEC. O presidente do Inep,  Marcus Vinicius Rodrigues, também caiu por adiar avaliação sobre alfabetização de alunos do ensino básico em dois anos sem consultar outros membros da pasta.

O cargo de secretário-executivo da pasta, ou seja, o "número dois" do ministério, é um dos mais emblemáticos. Membro do Centro Paula Souza, Luís Antônio Tozi assumiu o cargo logo no início do governo. Após críticas de Olavo de Carvalho, guru ideológico do presidente Jair Bolsonaro, Tozi foi demitido junto com outros atacados pelo filósofo. No mesmo dia, alunos de Olavo que ocupavam cargos na pasta também pediram exoneração, por orientação do professor.

Colega de Tozi no Paula Souza, Rubens Barreto da Silva foi anunciado para a posição, mas Vélez voltou atrás e desistiu da nomeação de Barreto, que também era um dos criticados por Olavo de Carvalho. Dias depois, o ministro indicou Iolene Lima, favorita da ala evangélica, para o cargo. Oito dias depois, no entanto, a própria Iolene foi às redes sociais para dizer que foi demitida logo depois de assumir o cargo.

Quem acabou ficando com a vaga foi o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira, o que enfraqueceu ainda mais Vélez, aumentando os rumores da demissão do ministro. 

Olavo de Carvalho, por sua vez, rompeu de vez o ministro após criticá-lo nas redes sociais. "Conheci o prof. Velez por seus livros sobre a história do pensamento brasileiro, publicados mais de vinte anos atrás. Nunca tomei conhecimento das suas obscenas tucanadas e clintonadas, que teriam me prevenido contra o seu comportamento traiçoeiro. Não vou fazer nada contra ele, mas garanto que não vou lamentar se o botarem para fora do ministério", escreveu o filósofo.

O rompimento com o guru ideológico do presidente foi a gota d'água, e Vélez Rodríguez acabou sendo demitido na última segunda-feira (8). Quem assume o ministério é o economista Abraham Weintraub. O nome foi aprovado por todas as alas do governo e foi escolhido justamente para amenizar a crise na pasta.

Apesar de se descolar de Vélez, Olavo seguiu atacando os militares do governo Bolsonaro, incluindo o vice-presidente Hamilton Mourão nas redes sociais. O filósofo já chamou o general de "idiota" e insuniou, por diversas vezes, que o vice trama tomar o cargo de Bolsonaro.

O vice-presidente disse que não acredita que o filósofo tenha "tanta influência com o presidente. O filósofo também comprou briga com Santos Cruz ao afirmar que o general "não presta". Como resposta, o militar chamou Olavo de Carvalho de "desequilibrado".

Apesar das constantes trocas de xingamentos e da queda de braço no MEC, Bolsonaro negou, na última semana, que existiria uma "disputa entre 'olavetes' e militares" dentro do governo.

Ideologia marca presença

Material disponibilizado pelo Palácio do Planalto exaltou o a ditadura militar
Reprodução
Material disponibilizado pelo Palácio do Planalto exaltou o a ditadura militar

Apesar de pregar um estado sem "amarras ideológicas", o governo Bolsonaro foi alvo de críticas da oposição por algumas posições. O próprio Ministério da Educação causou alvoroço ao orientar escolas a gravarem os alunos cantando o hino nacional.

O documento ainda contava com uma carta do ministro, que deveria ser lida aos alunos, terminando com o slogan usado por Jair Bolsonaro em sua campanha: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. A repercussão negativa fez o ex-ministro Vélez recuar.

Quem também foi criticada foi a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves ao ser flagrada em vídeo afirmando que uma "nova era" começou no Brasil. Afinal, agora "meninos vestem azul e meninas vestem rosa".

Ela também deu outras declarações consideradas sexistas. A ministra sugeriu que meninas deveriam "fugir do Brasil" por conta da violência e disse que o governo iria ensinar meninos a "levar flores e a abrir porta para mulheres" para evitar casos de violência doméstica.

No entanto, nenhum ministro do time de Bolsonaro deu tantas declarações ideológicas quanto o chanceler Ernesto Araújo. O diplomata se autointitula um "anti-globalista" e é mais um indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho.

Araújo já relacionou a estagnação comercial do Brasil à parceria comercial com a China e afirmou que a nação não "venderia" a alma para exportar para o país oriental. Ele também bateu de frente com a Rússia ao "exigir" a retirada das tropas de Vladimir Putin da Venezuela.

Em sua mais recente polêmica, Ernesto Araújo foi alvo de críticas de historiadores e especialistas ao afirmar que nazismo e fascismo foram fenômenos de esquerda. Após a controvérsia, o ministro não recuou e voltou a defeder a posição em um texto.

"Eu opinei que o nazismo é de esquerda , e imediatamente a esquerda (junto com o mainstream por ela dominado sem o saber) chegou correndo com seus extintores de incêndio", debochou o chanceler.

"Livres dessa inibição, podemos facilmente notar que o nazismo tinha traços fundamentais que recomendam classificá-lo na esquerda do espectro político. O nazismo era anti-capitalista, anti-religioso, coletivista, contrário à liberdade individual, promovia a censura e o controle do pensamento pela propaganda e lavagem cerebral, era contrário às estruturas tradicionais da sociedade. Tudo isso o caracteriza como um movimento de esquerda", argumentou.

Questionado sobre o caso, o presidente Jair Bolsonaro concordou com o chanceler, apesar de não elaborar muito. Ele apenas lembrou que o partido do qual fazia parte o ditador Adolf Hitler se chamava Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

O presidente não fica atrás do restante do ministro das Relações Exteriors nos discursos ideológicos. Além das constantes críticas à partidos e políticos de esquerda, ao socialismo a conceitos como "ideologia de gênero", o capitão da reserva gerou uma das maiores controvérsias de seu mandato ao autorizar e pedir para que as Forças Armadas comemorassem o aniversário do golpe militar no último dia 31 de março.

Questionado, Bolsonaro minimizou e disse que o evento seria para "rememorar" a data. "Não foi comemorar, foi rememorar, rever o que está errado, o que está certo e usar isso para o bem do Brasil no futuro", afirmou Bolsonaro. 

Um dia antes, em entrevista à TV Bandeirantes , Bolsonaro negou que o Brasil tenha vivido um período de ditadura entre os períodos de 1964 e 1985 e que o que chamou de “revolução” livrou o País de uma grande ameaça do regime comunista.

A celebração do golpe chegou a ser proibida pela Justiça, mas acabou sendo liberada. Os militares acataram a ordem do capitão, mas optaram por relembrar a data do início da ditadura "em silêncio ".

A polêmica persistiu até o próprio dia 31, quando o Palácio do Planalto divulgou um vídeo de exaltação à ditadura militar em seu canal oficial no aplitivo de mensagens WhatsApp.

No material, um ator na casa dos 70 anos argumenta que pessoas que estão na mesma faixa de idade se lembram do "tempo que nosso céu não tinha mais estrelas" ."Era, sim, um tempo de medo e ameaças, ameaças daquilo que os comunistas faziam onde era imposto sem exceção, prendiam e matavam seus próprios compatriotas", diz o homem. Que ainda pede para que os mais jovens "pesquisem para saber que isso é verdade".

"Foi aí que, conclamado por jornais, rádios, TVs e, principalmente, pelo povo na rua, povo de verdade, pais, mães, igreja que o Brasil lembrou que possuía um Exército Nacional e apelou a ele. Foi só aí que a escuridão, graças a Deus, foi passando, passando, e fez-se a luz", continua o ator.

O vídeo foi compartilhado nas redes sociais do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. Após críticas e ameaças de denúncias por improbidade administrativa, o governo negou a autoria do material e disse que ele apenas foi compartilhado pela equipe de comunicação do Planalto. Alguns dias depois, um empresário admitiu a autoria do vídeo com recursos próprios.

Descontrole nas redes sociais

Em clima de campanha, presidente Bolsonaro não achou o tom nas redes sociais
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Em clima de campanha, presidente Bolsonaro não achou o tom nas redes sociais

Principal arma da campanha de Jair Bolsonaro, as redes sociais se transformaram em um pesadelo para o governo nos primeiros 100 dias. Além de publicações polêmicas no próprio perfil, Bolsonaro tem tido dificuldade para segurar as postagens dos filhos, que geraram crises através da web.

Quase todas as crises protagonizadas pelo governo Bolsonaro tem pelo menos um capítulo importante que transcorreu nas redes sociais. A demissão de Bebianno se desenrolou a partir de uma postagem de Carlos Bolsonaro. Foram posts do segundo filho de Bolsonaro também que desencadearam o atrito do governo com Rodrigo Maia.

As pesadas críticas de Olavo de Carvalho aos membros do governo que culminaram na crise no MEC foram todas feitas através das mídias sociais. Foi também na web que se espalhou o vídeo enviado pelo governo que defendia a ditadura militar.

Outros casos emblemáticos também aconteceram nas redes: em um dos mais famosos, o presidente postou um vídeo no Twitter com imagens pornográficas para criticar o "que está acontecendo em muitos blocos de rua do carnaval brasileiro". Nas imagens, dois homens estão dançando em cima de um ponto de táxi, em um bloco de rua no Carnaval de São Paulo. Em um dado momento, um dos foliões coloca o dedo no próprio ânus. Mais tarde, esse mesmo homem se abaixa para o outro urinar na sua cabeça. A publicação  foi alvo de muitas críticas, inclusive de veículos internacionais.

A postura combativa do presidente em suas contas também é um fator. Sempre crítico à oposição e àqueles que ele classifica como "de esquerda", Bolsonaro utilizou seu alcance para criticar políticos, celebridades e, principalmente, a imprensa.

Logo na primeira semana de mandato, o presidente assinou um decreto autorizando assessores a cuidar dos perfis de Bolsonaro nas redes. No entanto, as contas seguiram sendo utilizadas pelo presidente e por Carlos Bolsonaro.

Com o desgaste, a queda de popularidade e o clamor da ala mais técnica do governo e de base aliada, Bolsonaro escalou o coronel Didio Pereira de Campos para cuidar das redes sociais. Desde a mudança, os perfis do presidente passaram a tratar com mais frequência de projetos relacionados ao governo.

No entanto, a postura ríspida do presidente nas redes ainda se faz presente. No último domingo, pouco após a divulgação da pesquisa de popularidade do Datafolha, Bolsonaro, que já chegou a afirmar que as pesquisas de opinião são fraudulentas, foi ao Twitter para debochar do resultado do levantamento.

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