Na semana em que o governo Bolsonaro completa 100 dias, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodrigues, foi exonerado do cargo e é o segundo a cair desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência. Polêmicas que desagradaram o governo e o eleitorado e a crise profunda em meio a disputas entre militares, técnicos e seguidores do filósofo e guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, marcaram a queda do ministro.
Há um tempo, o colombiano vem sendo o pivô da crise ministerial do governo e sua exoneração já era esperada desde a semana passada, quando Bolsonaro anunciou que o futuro do ministro seria decidido nesta segunda-feira (8). Nesta manhã, o anúncio da saída de Ricardo Vélez foi feito por meio da conta do Twitter do presidente, que indicou o professor Abraham Weintraub como substituto do colombiano .
Exonerações
Os indícios da queda de Vélez, que foi indicado ao cargo pelo guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho , começaram com as sucessivas exonerações na pasta. As últimas mais importantes foram a de Bruno Garschagen, assessor especial de Vélez, e a de Josie de Jesus, chefe do gabinete do Ministério da Educação (MEC), também próxima ao ministro.
O presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues, também caiu por adiar a avaliação sobre alfabetização de alunos do ensino básico em dois anos sem consultar outros membros da pasta. Além disso, a exoneração do 'número dois' do ministério, ou seja, o ocupante do cargo de secretário-executivo da pasta foi um dos mais emblemáticos.
Após críticas de Olavo de Carvalho, Luíz Antônio Tozi foi demitido junto com outros atacados pelo filósofo. No mesmo dia, ex-alunos de Olavo que tinham cargos na pasta também pediram para sair, após o professor orientar que seus ‘pupilos’ deixassem o governo.
Para ocupar o lugar de Tozi, Vélez indicou Iolene Lima, favorita da ala evangélica, para o cargo. Oito dias depois, no entanto, a própria Iolene foi às redes sociais para dizer que foi demitida logo depois de assumir o cargo.
O tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira foi quem acabou ficando com a vaga, enfraquecendo, ainda mais, o colombiano, o que aumentou os rumores de sua exoneração.
Polêmicas
Além das demissões, a gestão de Vélez também foi marcada por recuos e polêmicas. A de maior destaque foi o pedido feito pelo ministro, por meio de uma carta, para que as escolas filmassem os alunos cantando o hino e para que o slogan do governo – Brasil acima de tudo, Deus acima de todos – fosse lido pelos alunos. Diante da repercussão ruim, o colombiano pediu desculpas e retirou o pedido.
No começo de abril, Vélez ainda afirmou que os livros didáticos de História passariam por uma revisão para que as crianças "pudessem ter a ideia verídica, real, do que foi a sua história" e citou como exemplo o golpe de 1964, que classificou como constitucional, e a ditadura militar, que disse ter sido "um regime democrático de força".
Outro recuo no último mês foi a decisão de alterar a portaria que retirava crianças a partir de sete anos da prova do Sistema de Avaliação de Educação Básica (Saeb), limitando o exame aos últimos anos do Ensino Fundamental. O Ministério da Educação ainda havia anunciado que adiaria a avaliação da alfabetização das crianças para 2021, decisão sobre a qual o ministro também deu um passo para trás.
A falência da gráfica responsável por imprimir as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no dia 1º de abril, também marcou as complicações da pasta junto com um problema no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que impede que os estudantes ingressem nas faculdades para as quais foram admitidos, já que eles não têm acesso ao financiamento via Caixa Econômica Federal.
Críticas
Apesar de ter indicado o ministro ao cargo, Olavo de Carvalho cortou relações com Vélez , após criticá-lo nas redes sociais. "Conheci o prof. Velez por seus livros sobre a história do pensamento brasileiro, publicados mais de vinte anos atrás. Nunca tomei conhecimento das suas obscenas tucanadas e clintonadas, que teriam me prevenido contra o seu comportamento traiçoeiro. Não vou fazer nada contra ele, mas garanto que não vou lamentar se o botarem para fora do ministério", escreveu o filósofo.
Olavo é conhecido por ter grande influência sob as decisões do presidente Jair Bolsonaro e por tecer repetidas críticas ao militares que estão no governo. Apesar das constantes trocas de xingamentos e da queda de braço no MEC, Bolsonaro negou, na última semana, que existiria uma "disputa entre 'olavetes' e militares" dentro do governo.
Além do filósofo, o colombiano recebeu críticas da deputada Tábata Amaral (PDT-SP), que cobrou o ministro a tomar medidas além de uma “lista de desejos”. “É uma completa perda de tempo em um país em que os alunos não sabem fazer uma conta”, afirmou a deputada, criticando a ideologia da Escola sem Partido.
Apesar dos indícios, a queda de Ricardo Vélez aconteceu apenas 12 dias após Bolsonaro negar uma informação da jornalista Eliane Cantanhêde, que anunciou ao vivo que o governo havia decidido exonerar o ministro. “Sofro fake news diárias como esse caso da ‘demissão’ do ministro Vélez”, escreveu o presidente. Apesar disso, ainda antes de embarcar para Israel, no final do mês passado, o presidente admitiu que precisava "resolver" a situação do MEC.