O ex-ministro Antonio Palocci afirmou em um trecho de sua delação premiada que a empresa Andrade Gutierrez realizou, em 2010, pagamento de pesquisa eleitoral, do Vox Populi, como parte de acertos de propinas em contratos com o governo federal. Naquela época, a candidata do PT, Dilma Rousseff, foi eleita sucessora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A ilicitude residia no pagamento de custos da campanha pela Andrade Gutierrez junto ao Vox Populi, dando-se portanto aparência de legalidade aos pagamentos feitos pela empresa”, diz trecho da delação de Antonio Palocci ao qual o jornal Estado de S. Paulo teve acesso.
No depoimento, o ex-ministro ressalta que o esquema não envolvia tentar fraudar as pesquisas, e sim ocultar recursos de corrupção em serviços que eram de interesse da campanha petista. “As pesquisas realizadas pelo Vox Populi não foram compradas para alteração dos resultados”, explica Palocci. De acordo com ele, “o partido desejava a produção das melhores pesquisas, pois eram utilizadas pela própria coordenação da campanha para orientação da forma de atuação”.
Palocci, que era coordenador da campanha de Dilma em 2010, disse que “as pesquisas que não eram favoráveis ao PT eram mantidas sigilosas, ao passo que pesquisas favoráveis eram amplamente divulgadas ao público”. Naquele momento, Palacci diz que o “PT buscava a expansão das pesquisas, pois estavam na iminência de se iniciar o período de propaganda eleitoral na televisão”.
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O ex-ministro afirmou ainda que o aviso sobre o pagamento das pesquisas pela Andrade Gutierrez foi feito por Giles de Azevedo, um ex-assessor de Dilma. “Foi lhe informado que a Andrade Gutierrez preferia efetivar os pagamentos para o PT, à título de caixa dois. mediante depósitos para o Vox Populi.” O motivo seria que a empreiteira “já possuía grande contrato” e isso facilitaria a “dissimulação das ilicitudes das transferências”.
Parte da delação premiada de Palocci, homologada em junho pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), no âmbito da Operação Lava Jato, é usada no inquérito da Polícia Federal que investiga pagamentos de empreiteiras acusadas de corrupção e cartel em benefício de Lula .
Contratos da Andrade Gutierrez e Vox Populi e depoimentos de envolvidos foram adicionados ao inquérito, entre eles os delatores da empreiteira, Otávio Azevedo e Flávio Machado. “Otávio Azevedo narra que os contratos celebrados entre a Andrade Gutierrez e o Instituto Vox Populi nos anos de 2010 e 2012, num valor total de aproximadamente R$ 11,5 milhões, tiveram por finalidade precípua o custeio de pesquisas eleitorais encomendadas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na campanha presidencial de 2010 e nas campanhas municipais de 2012.”
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Na delação de Otávio Azevedo, ele confirmou a informação de Antonio Palocci de que os pagamentos de pesquisa Vox Populi era em benefício do PT e citou pedido do ex-tesoureiro João Vaccari Neto. “Otávio esclarecia que os pagamentos ao Vox Populi era a melhor forma que a Andrade Gutierrez tinha de dar apoio ao PT, pois a empresa já teria um grande contrato com o instituto de pesquisas”, registra Palocci. “Visava esconder o ilícito empresarial e eleitoral.” As defesas de Vaccari, Lula e Dilma negam as acusações.