Fernando Haddad afirma em entrevista que militará pela formação de frentes em defesa dos direitos sociais e civis
Joka Madruga/PT Nacional
Fernando Haddad afirma em entrevista que militará pela formação de frentes em defesa dos direitos sociais e civis

Ex-prefeito da capital paulista, o candidato derrotado em outubro, no segundo turno das eleições presidenciais, Fernando Haddad (PT), disse que, há dois anos, já previa o que chamou de ascensão da "extrema direita" no Brasil – o que considera corrente, devido à eleição do seu antagonista, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, à Presidência da República. 

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"Talvez tenha sido um dos primeiros a dizer: 'É muito provável que a extrema direita tenha espaço na cena política nacional'", diz Fernando Haddad . "Eu dizia: 'Existe uma onda que tem a ver com a crise [econômica] de 2008, que é a crise do neoliberalismo, provocada pela desregulamentação financeira de um lado e pela descentralização das atividades industriais do Ocidente para o leste asiático'", continua.

Para o candidato do PT , a elite econômica abriu mão de seu verniz ao eleger Bolsonaro. Ele disse ainda que não pretende dirigir o partido do qual faz parte hoje, nem sua fundação, mas que deve militar pela formação de frentes em defesa dos direitos sociais e dos direitos civis.

As declarações de Haddad foram dadas durante uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo , que foi publicada na manhã desta segunda-feira (26). Esta é a primeira grande entrevista do candidato após ter sido derrotado por 44,87% dos votos válidos, contra os 55,13% dos votos conquistados por Bolsonaro. 

Na entrevista, Haddad – que é bacharel em Direito , mestre em Economia e doutor em Filosofia – analisou o cenário político brasileiro atual como um "sistema híbrido". Afinal, segundo ele, no Brasil, o autoritarismo cresce dentro das instituições democráticas. 

"Ditadura e democracia eram conceitos bem definidos. Os golpes se davam de fora da democracia contra ela. Hoje, o viés antidemocrático pode se manifestar por dentro das instituições. Ele pode se manifestar na Polícia Militar, na Polícia Federal, no Judiciário, no Ministério Público", diz.

"O projeto Escola Sem Partido é um projeto autoritário que está nascendo dentro da democracia. O STF pode barrá-lo. Os pesos e contrapesos de uma República moderna vão operar? Se não operarem, você tem o modelo híbrido, com o autoritarismo crescendo por dentro. Estamos já vivendo em grande medida esse modelo", exemplifica. 

"Quando um presidente eleito vem a público num vídeo dizer que os estudantes brasileiros têm que filmar os seus professores e denunciá-los, você está em uma democracia ou em uma ditadura?", indaga o candidato derrotado. 

Para Haddad, porém, houve um erro de previsão. Ele acreditava que a pessoa que personalizaria o papel de "extrema direita" no Brasil seria João Doria (PSDB) – candidato que conquistou o governo de São Paulo neste ano, depois de ter derrotado Haddad nas urnas na disputa pela prefeitura em 2016.

O petista diz que, dado que Doria se projetava à disputa nacional, acreditava que ele seria a figura que tomaria o País para a direita. Mas suas previsões "falharam". 

"Eu imaginava [há dois anos] que o [João] Doria, que é essencialmente o Bolsonaro, fosse ser essa figura [que se elegeria presidente]. Achava que a elite econômica não abriria mão do verniz que sempre fez parte da história do Brasil", continua. "As classes dirigentes nunca quiseram parecer ao mundo o que de fato são – um PSDB bolsonarizado, mas com aparência tucana. Eu apostava nele" afirma.

Apesar de ter previsto essa guinada à direita política, Haddad reafirmou a sua crença no nome do líder petista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba.

"Está claríssimo que, se não tivessem condenado o Lula num processo frágil, que nenhum jurista sério reconhece como robusto, ele teria ganhado a eleição. Eu fiz 45% dos votos [no segundo turno]. Ele teria feito mais de 50%", alerta.

"O Lula tem um significado histórico profundo. Saiu das entranhas da pobreza, chegou à Presidência e deixou o maior legado reconhecido nesse País. Ele teria força para conter essa onda [de direita]", afirmou. 

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"Eu dizia: 'Tem que ver se vão deixar o Lula concorrer e como o Ciro vai se posicionar'. O Lula foi preso e o Ciro não soube fazer a coalizão que o levaria à vitoria, que só poderia ser uma coalizão com o PT", definiu Fernando Haddad , que encerra esperançoso: "Na política ninguém perde a guerra. Não existe a guerra, com começo, meio e fim. É só batalha. Uma atrás da outra".

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