Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Haddad é hoje a "grande liderança" do Partido dos Trabalhadores (PT) e será o "articulador" de uma frente de oposição ao governo Jair Bolsonaro (PSL). A afirmação em tom de anúncio foi feita pela presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), após a primeira reunião da Comissão Executiva Nacional do partido após a derrota de Haddad para Bolsonaro. A reunião do PT teve como objetivo avaliar o desempenho da legenda nas eleições de 2018 e foi realizada nesta terça-feira (30), em São Paulo.
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“O Fernando Haddad, no nosso entender, tem um papel muito relevante nesse processo. Um papel maior do que o PT porque ele sai depositário da esperança do povo e da luta pela democracia de diversos setores da sociedade”, disse Gleisi após a reunião do PT .
"O PT dará todas as condições para que Fernando Haddad possa exercer esse papel de articulador junto com outras lideranças sociais e de partidos políticos para consolidar essa frente de resistência”, acrescentou. "O papel do Haddad, agora mais do que nunca, é de extrema relevância em todo o cenário nacional […] A defesa da liberdade do ex-presidente Lula também seguirá no centro da nossa luta."
A presidente nacional do PT apontou como primeiro objetivo dessa "frente de resistência" o combate a uma "aliança" entre o presidente eleito, Bolsonaro, e o atual ocupante do Palácio do Planato, Michel Temer (MDB).
Segundo Gleisi, a frente liderada por Haddad visará evitar a "retirada de direitos da população brasileira", especialmente em relação à reforma da Previdência. “Já fizemos isso antes e faremos de novo porque consideramos que a reforma retira direitos do povo brasileiro. Ela não tem o apoio popular. A proposta não foi debatida pela população nem pelo Temer nem pelo Bolsonaro. Ela não está no programa de governo do candidato. Ela não foi levada a debate. Portanto não há legitimidade nem dele de Temer para aprovar uma reforma desta envergadura”, disse a senadora.
O PT anunciou ainda que pretende disponibilizar os advogados ligados ao partido para auxiliar pessoas que sofram perseguição ou agressões por motivação política.
“Vamos organizar todos os advogados do partido e todos aqueles que militam na área de direitos humanos, vamos fazer um convite a juízes pela democracia para que possamos ter a resposta pronta para denunciar violações aos direitos humanos e civis e também à liberdade de expressão”. [...] Nos preocupa muito a integridade física das pessoas pelos posicionamentos que tem o governo que foi eleito em relação a uma série de movimentos”, afirmou Gleisi.
Quanto à alegada violência manifesta por apoiadores do presidente eleito, a senadora petista reconheceu ainda temer pela vida do ex-presidente Lula, que está preso na sede da Polícia Federal em Curitiba.
“Nós nos preocupamos muito com isso. O último discurso do candidato eleito não tem a ver com os direitos das pessoas: ele disse que quer deixar Lula apodrecer na cadeia. Tememos até pela vida do ex-presidente. Ele tem que ter seu processo julgado de forma justa. Ninguém pode decidir o que fazer com ele antes do seu processo ser julgado de forma justa. É isto que vamos fortalecer em nossa luta."
Discuro pós-reunião do PT expande declarações dadas após derrota
A reunião desta terça-feira foi a primeira realizada pela cúpula petista após o processo eleitoral, que, se não resultou no retorno do PT à Presidência, foi suficiente para fazer do partido aquele que elegeu o maior número de governadores no País (quatro) e detentor da maior bancada na Câmara dos Deputados (56).
O discurso de Gleisi após o encontro expande o que a própria presidente nacional do PT havia dito tão logo a Justiça Eleitoral anunciou a vitória de Haddad. Em vídeo divulgado no domingo (28), a senadora afirmou ser necessário “erguer a cabeça” e manter a luta.
“Uma derrota eleitoral não pode significar a derrota da Constituição e democracia brasileira”, disse. “[Temos de] erguer a cabeça e lutar porque essa é a nossa trincheira”, continou.
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Por sua vez, o candidato derrotado Fernando Haddad afirmou, também nas redes sociais, ontem (29), que estava à disposição do País. Ele também pediu que as pessoas não tenham medo.
"Eu coloco a minha vida à disposição deste País. Não tenham medo, nós estaremos aqui. Nós estamos juntos. Nós estaremos de mãos dadas com vocês", disse. "Coragem, a vida é feita de coragem", afirmou. Também ontem, o candidato do PT felicitou o seu adversário, contrapondo as informações de que ele não o faria.
"Presidente Jair Bolsonaro, desejo-lhe sucesso. Nosso País merece o melhor. Escrevo essa mensagem hoje [ontem], de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós. Boa sorte”, publicou.
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Em entrevista à Rede Record nessa segunda-feira, Bolsonaro se disse disposto a dialogar com os candidatos derrotados nas últimas eleições. Porém, não se referiu a Fernando Haddad e nem comentou a reunião do PT nesta terça-feira.
* Com informações da Agência Brasil.