A relação de Bolsonaro com o Congresso vai passar pelas mais diversas pautas – e algumas serão mais fáceis que outras
Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados
A relação de Bolsonaro com o Congresso vai passar pelas mais diversas pautas – e algumas serão mais fáceis que outras

O candidato eleito Jair Bolsonaro (PSL) pode ter começado a sua campanha à Presidência da República no Brasil sem praticamente nenhum apoio partidário. No entanto, no decorrer da sua escalada na corrida presidencial – principalmente, após o primeiro turno das eleições de 2018 –, ele conquistou uma certa base parlamentar, o que vai ajudar na relação de Bolsonaro com o Congresso Nacional.

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Porém, embora o candidato do PSL tenha se mostrado conservador nos costumes, como grande parte dos parlamentares que foram eleitos no primeiro turno, seu posicionamento econômico liberal pode lhe ser desafiador. Afinal, a relação de Bolsonaro com o Congresso vai passar pelas mais diversas pautas – desde assuntos que tangem o comportamento dos brasileiros, até reformas polêmicas como a da Previdência.

"O que eu acredito que vai ser o grande desafio para ele é a agenda econômica", diz Maurício Santoro, analista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). "Isso porque, recentemente, ele tem apresentado uma agenda liberal. Mas o seu eleitor não é tão liberal assim", continua.

"Onde eu acho que Bolsonaro vai ter uma possibilidade melhor de negociação com o Congresso é em termos ligados às questões de comportamento, religiosas ou à revogação do Estatuto do Desarmamento, por exemplo", analisa Santoro, que aposta em um início de gestão pautado nessas agendas. "Acho que ele consegue aprovações precisas no começo do mandato".

O PSL, considerado nanico até este ano, garantiu a segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados eleitos. Em primeiro lugar, ficou o PT, com 56 parlamentares. Mas, embora grande, a bancada do PSL, sozinha, não é ampla o suficiente para aprovar projetos na Casa. "Em um Congresso hiperfragmentado, o partido dele vai controlar só 10%", diz Santoro. "Não vai ser fácil para ele", conclui o professor de Ciência Política na Uerj. 

A tal 'nova forma de fazer política' afeta a relação de Bolsonaro com o Congresso

Relação de Bolsonaro com o Congresso: ruralistas estão com Bolsonaro, assim como as bancadas da bala e evangélica
Divulgação/Jair Bolsonaro
Relação de Bolsonaro com o Congresso: ruralistas estão com Bolsonaro, assim como as bancadas da bala e evangélica

Nas últimas semanas, o presidente eleito fez, em nome da governabilidade , acenos ao Centrão. O grupo integrado por partidos como o DEM, PP, PR, Solidariedade, PRB, PSC e PTB, com 142 deputados eleitos, deve buscar por postos-chave, como a presidência da Câmara e a nomeação em ministérios, estratégia essa que o próprio Bolsonaro criticou durante sua campanha.

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"A maneira tradicional de fazer política é por meio da distribuição de cargos, que é exatamente o contrário do que o Bolsonaro disse que vai fazer. Ele disse que quer acabar com isso, criar um novo sistema, mas isso não existe", afirmou o analista político.

Para Santoro, o Congresso com quem Bolsonaro vai negociar é muito diferente daquele do passado, com os quais os outros presidentes tiveram que se relacionar. Pulverizado, ele conta com uma série de partidos e essas grandes alianças do PSL com o centro não vão ter o mesmo peso que tiveram em governos anteriores.

Indagado sobre uma possível negociação de "corpo a corpo", proposta por Bolsonaro, o analista político acredita em um sucesso inicial, mas não crê que tal estratégia seja sustentável por todo o governo Bolsonaro

"Isso é um método que foi utilizado pelo Eduardo Cunha (MDB), que travava conversas pessoais com os parlamentares, sem passar pelos caciques de alguns partidos... Isso funcionou bem em um primeiro momento, mas acabou mal, como podemos lembrar. Acho que também daria errado com o Bolsonaro", afirma. 

Para a cientista política Denilde Oliveira Holzhacker, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a aproximação de Bolsonaro com os partidos de centro e com bancadas como a ruralista, a evangélica e a da bala, com as quais ele tem mais afinidade, podem assegurar ao presidente eleito uma espécie de "lua de mel".

"Se ele tiver sucesso nessas aproximação, mais o peso do próprio partido dele, que conseguiu um número bastante expressivo, ele deve ter uma relação, em um primeiro momento, de uma certa lua de mel para algumas agendas", afirma Denilde. 

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"Grande parcela desse grupo tem como importante agenda a redução da maioridade penal , mas tem visões críticas com relação a algumas reformas", diz ela. "Ele precisa, de certa forma, calibrar essas questões. Se ele conseguir fazer isso, acho que vai ter um momento de boa condução do governo", analisa. 

"E essa lua de mel é sempre muito curta, todos os governos têm um período que é destinado a saber como vai ser a articulação política do novo presidente. Com esse cenário tão tencionado, com essa pressão por resultados rápidos na política econômica e social, a lua de mel deve ser mais curta ainda", conclui.

Como será a relação de Bolsonaro com o Congresso renovado – e inexperiente

Com Casas renovadas, relação de Bolsonaro com o Congresso passará pelo entrave da inexperiência dos parlamentares
Marcelo Camargo/Agência Brasil 13.12.2017
Com Casas renovadas, relação de Bolsonaro com o Congresso passará pelo entrave da inexperiência dos parlamentares

Ambos os cientistas políticos procurados pelo iG   ressaltaram o fato de que, além de pulverizado e reorganizado em questão de partidos, o Congresso que trabalhará durante o governo Bolsonaro também será repleto de "parlamentares de primeira viagem", o que pode ser um problema para o novo presidente. 

"No PSL, nós temos muitos deputados que estão estreando no Congresso . Em geral, os parlamentares de primeira viagem acham que têm muito mais poder individual do que realmente têm", afirma Santoro, que ressalta a importância da voz em conjunto na Câmara "mesmo quando ele ou ela [deputado ou deputada] vem com uma posição de celebridade na sociedade". 

"O grande obstáculo para o PSL é a falta de líderes experientes. Não tem ninguém no PSL com essa experiência de negociação", complementa o analista político da Uerj.

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Para a cientista política da ESPM, o grupo eleito, não só do PSL, mas de todo o Congresso, é "muito jovem" e inexperiente. "A renovação foi muito grande, há uma inexperiência muito grande. Eles vão precisar de mais tempo para se adaptar aos jogos políticos do Congresso", afirmou. Segundo ela,  relação de Bolsonaro com o Congresso  sofrerá tal dificuldade, pelo menos em um primeiro momento. 

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