Os candidatos ao Governo de São Paulo, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB) , protagonizaram debate acalorado no primeiro encontro entre os dois para o segundo turno da corrida eleitoral no estado. Em evento que durou duas horas, realizado pela TV Bandeirantes na noite desta quinta-feira (18), sobraram bate-bocas e faltaram propostas.
Os dois candidatos ao Governo de São Paulo seguiram à risca as linhas que vêm sendo adotadas em suas campanhas na televisão. Enquanto o ex-prefeito da capital focou, principalmente, em associar França ao Partido dos Trabalhadores (PT), o atual governador se concentrou em destacar alegadas "traições" de Doria dentro do PSDB e também no fato de o tucano ter abandonado seu mandato na Prefeitura de São Paulo.
O primeiro bloco do debate da Band concentrou o maior número de discussões entre os candidatos. Primeiro a responder, França deixou de lado questionamento sobre a geração de empregos para reafirmar que "não apoia o PT". Doria, por outro lado, promoveu sua proposta de estatização e se aproximou do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) ao afirmar que pretende implantar um programa "claramente liberal", à imagem do proposto por Paulo Guedes, o guru econômico de Bolsonaro.
Mas o súbito propositivo de Doria durou pouco. Logo em seguida, o tucano partiu para o ataque questionando Márcio França sobre seu partido. "Sou do PSB há muitos anos. Tenho muito orgulho. E, aliás, eu não traio as pessoas do meu partido. Diferente de você que, a cada oportunidade que teve, você fez isso. Isso é imperdoável", respondeu o atual governador, citando embate recente entre Doria e Geraldo Alckmin.
"O PSB é o Partido Socialista do Brasil. Você abrigou comunistas. Traidor é aquele que deixou a Secretaria de Turismo do Geraldo Alckmin para fazer a campanha de Fernando Haddad, como você fez em 2012", retrucou Doria, reforçando que França "foi conselheiro do Lula".
Após algumas menções a Bolsonaro por parte de Doria, França se mostrou incomodado com a estratégia do tucano em tentar se atrelar à imagem do presidenciável, que lidera as pesquisas de intenções de voto ao Planalto. "Meu partido não é o PT. Você está ficando doido com essa história do PT. E você não é o Bolsonaro. Você é o 'bolso seu'. Você se agarrou nesse Bolsonaro e está desesperado com isso. Larga o Bolsonaro e fala o que você quer fazer para São Paulo", desafiou o candidato.
Doria, então, trocou seu arsenal e decidiu atacar França por conta do codinome 'Paris', atribuído ao atual governador em planilha de executivos da Odebrecht. França não se intimidou: "Eu desafio você: encontra lá um depoimento que tem o meu nome que eu renuncio ao meu mandato. Encontra uma pessoa que me deu um centavo".
Confira como foi o debate entre candidatos ao governo em tempo real
Segundo bloco e novas trocas de acusações
No início do segundo bloco, o mediador do debate, Fábio Pannunzio, chamou a ateñção para as recorrentes manifestações da plateia, que pululava a cada declaração dos candidatos no púpito. O apelo, no entanto, teve pouca eficácia.
Houve uma ligeira brecha para a apresentação de propostas, com Doria prometendo despoluir o rio Tietê por meio de parcerias com o setor privado. A rodada de ataques, no entanto, logo foi reaberta. "O que você fez no seu período como vice-governador? Além de fazer política partidária, de atender as bandeiras do seu partido, o que mais você fez?", questionou o ex-prefeito.
"Eu sei o que eu não fiz: Eu não traí o Geraldo Alckmin", respondeu França. "Muito pouco para três anos e meio como vice-governador. Você disse, esses dias, que entregou 300 creches. Você não entregou. 295 foram entregues por Geraldo Alckmin. Você entregou cinco", retrucou Doria.
"Eu falei 'entregamos'. É que você não está habituado a trabalhar em conjunto. Quando a gente governa, governa em conjunto", devolveu o peessebista.
Questionado sobre elogios feitos no passado a França, Doria disse que tinha outra imagem de seu adversário, mas que percebeu que ele é "diferente para pior". "Ao longo de toda a minha trajetória, eu fui marcadamente contra o PT. Enquanto você apoiava os projetos do Lula, eu estava na Praça da Sé fazendo o movimento 'Cansei', contra o mensalão. Eu sempre fui contra o PT. E derrotei o Fernando Haddad, o fantoche que agora ser presidente da República. Toda minha vida foi marcada contra o PT. E é por isso que eu não tenho a menor hesitação: eu apoio o Bolsonaro. Os brasileiros não querem mais o PT, nem disfarçados de laranja, como é o seu partido."
Outro raro momento em que ideias foram discutidos veio quando Doria questionou França sobre seu posicionamento a respeito do controle do javaporco, animal que não tem predadores e que destrói plantações e compromete o desenvolvimento do agronegócio no Estado. "Eu apoio integralmente o agronegócio em São Paulo. São Paulo cresceu bastante por isso. Devemos controlar a violência no campo e dar apoio para as pessoas trabalharem", respondeu França, acrescentando que defende o controle da população do javaporco, mas sem "crueldade", posicionando-se contra a caça esportiva do bicho.
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Jornalistas obrigam candidatos ao Governo de São Paulo a falarem propostas
Somente no terceiro bloco, quando as perguntas foram feitas por jornalistas da TV Bandeirantes, é que as propostas passaram a ser regra, e não excessão no debate. A primeira pergunta foi direcionada a Doria e tratava do mau desempenho dos estudantes da rede pública de ensino.
"Temos que prestigiar os professores, melhorando o salário, oferecendo cursos de aprimoramento e condições adequadas. Vamos reformar as escolas, colocando-as em boas condições. E colocá-las no mundo digital. Nós temos que ensinar com tecnologia", respondeu o candidato tucano.
"Em primeiro lugar: 100% de vagas em creches. Vamos zerar a fila para creche em São Paulo porque é um momento fundamental para o desenvolvimento das crianças. E é importante para que os pais possam ir trabalhar, sabendo que seus filhos estão sendo bem cuidados. Depois, o ensino médio precisa ser incentivado. A gente precisa criar escola técnica e escolas com o padrão do Instituto Paula Souza", disse França, em sua vez.
Na sequência, a pergunta foi sobre o deficit de policiais civis no estado. "Desde que assumimos, abrimos 66 delegacias na capital. Queremos abrir em todo estado e já abrimos concursos para as vagas citadas. Também vamos separar as polícias para que a Polícia Civil trabalhe como a Polícia Federal. Foram anos e anos de desprestígio aos policiais. Os PMs estão comigo por causa disso. Fiz homenagem a uma policial que reagiu a um assalto e o João Doria criticou", disse França.
"O Márcio França prometeu aumento de 25% na força policial, mas mandou a peça orçamentária com apenas 7% e ainda diminuiu a verba da segurança. Nós não vamos separar as policias e sim, unificá-las", discordou Doria.
Sobre o crime organizado e o combate a facções criminosas como o PCC, que atuam de dentro dos presídios, o tucano foi o primeiro a falar. "Vamos ser duros com os criminosos e não iremos permitir celulares dentro das cadeias", disse Doria, voltando ainda a defender que, em seu eventual governo, os presos terão que trabalhar "para sustentar o custo". "Polícia nas ruas e bandidos na cadeia. Presos e trabalhando."
França reagiu à resposta de Doria afirmando que o candidato une "pedaços de Maluf", o ex-prefeito da capital, a "pedaços de Skaf", candidato do MDB derrotado no primeiro turno.
Para melhorar o atendimento no sistema público de saúde, Márcio França propôs a abertura de todos os ambulatórios do estado durante os fins de semana. O candidato garantiu que "fez as contas" e que "dá para fazer". "O Hospital do Câncer de Barretos tinha uma dificuldade grande porque as pessoas precisavam entrar com ação para conseguir remédios caros para o câncer. A gente autorizou que essas compras fossem feitas sem precisar entrar com ação. Se tiver diálogo, dá para fazer. Não precisa pagar para o setor privado. Atendendo aos fins de semana, você zera a fila de consultas e de exames."
Doria, por seu turno, defendeu a adoção de medidas que ele já havia colocado em prática no curto período em que esteve na prefeitura da capital paulista. "Vamos implantar o Corujão da Saúde. Os exames de imagem são necessários. E vamos utilizar hospitais particulares pagando pela tabela do SUS. Vamos valorizar as Santas Casas e manter o programa de construção dos hospitais regionais e colocar o Remédio Fácil para não faltar medicamentos."
Sem as perguntas de jornalistas, o quarto bloco do debate voltou a ter a configuração de confronto direto entre os candidatos. Doria perguntou sobre a criação de taxas, acusando o adversário de ter proposto a cobrança de imposto para propriedades beneficiadas por obras do Metrô e de rodovias.
"Eu não vou criar taxa nenhuma. Ela existe na Constituição há muitos anos. A diferença são as pessoas que compram terrenos para especular. As pessoas que, por exemplo, compram uma rua", respondeu França, citando o fato de João Doria ter anexado uma rua a uma casa de sua propriedade em Campos do Jordão (SP). "Nós temos que taxar. É errado as pessoas ficarem milionárias às custas dos outros. Devolve a rua para as pessoas, João!", acrescentou.
"Tudo o que eu tenho eu comprei com o meu dinheiro. O avião que eu tenho eu comprei com o meu dinheiro. Venha trabalhar um pouco para saber o que é o suor do seu esforço, do talento. O dinheiro que eu ganhei é um dinheiro limpo, honesto", defendeu-se Doria.
Em suas considerações finais, Márcio França citou a eleição presidencial e deu a disputa entre Bolsonaro e Fernando Haddad como "praticamente encerrada". "Com muito orgulho, eu chego a esse debate. Quero explicar para todos que estamos debatendo ideias. Eu não tenho nada contra o Doria como pessoa. Quero que ele seja feliz e gaste o seu dinheiro. Nós seguimos rumos diferentes. Eu segui no setor público, ele, no privado. Eu respeito. São Paulo pode muito mais, pode unir o Brasil. Foi São Paulo que conduziu o Brasil durante 500 anos. Nós não temos que acertar nossos ponteiros aos do Brasil. As eleições nacionais... Elas praticamente se encerraram. Eu serei governador de todos os paulistas. Quando você cria o ódio, você não produz o futuro. O Brasil é um país diferente. E São Paulo também foi assim: foi o núcleo central que permitiu o Brasil ter isso. Vote 40, vote na mudança em São Paulo."
João Doria , por seu turno, voltou a se aproximar de Bolsonaro ao fazer suas últimas considerações. "Quero desejar que você mantenha a confiança no Brasil. Eu defendo a livre iniciativa, defendo São Paulo, defendo a segurança pública. Defendo também a educação de qualidade. Saúde de qualidade com opções criativas e inovadoras, como fizemos na Prefeitura. Defendo a livre iniciativa para que você possa ter valorizado o seu trabalho com a micro-empresa. Defendo o estado menor. Defendo a transparência no setor público. E defendo, sim, Jair Bolsonaro para presidente do Brasil. Defendo o Brasil para os brasileiros. Chega do PT, chega de roubo. Nunca mais o PT. Jair Bolsonaro presidente, 17. João Doria governador, 45. Com Deus no coração."
Os candidatos a governador de São Paulo voltam a debater entre si nesta seta-feira (19), em evento marcado para as 13h30 na TV Record.