Enquanto as atenções dos eleitores se voltam para o 2º turno das eleições 2018 que ainda deverão definir o futuro presidente da República e o governador de 13 estados e do Distrito Federal que não encerraram a disputa na votação do 1º turno, pelo menos três deputados eleitos no último dia 7 de outubro já se candidatam abertamente e começam a campanha para o cargo mais alto do poder legislativo: a Presidência da Câmara dos Deputados.
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A eleição para a Presidência da Câmara é importante porque, após o presidente e o vice-presidente que ainda serão eleitos no dia 28 de outubro, o deputado que ocupar o cargo será o próximo na linha sucessória. Além disso, o líder da casa tem a palavra final sobre o que será ou não pautado e votado na Assembleia, portanto, uma posição de extrema importância para o interesse dos cidadãos brasileiros e dos próprios governantes.
Kim Kataguiri (DEM-SP) é um dos candidatos à Presidência da Câmara
E é justamente a questão da linha sucessória, um dos principais problemas da pré-candidatura do deputado eleito em São Paulo pelo Democratas, Kim Kataguiri . O novo congressista que tomará posse só a partir de janeiro do ano que vem tem apenas 22 anos de idade e já gera uma divergência de interpretação sobre se ele poderia ou não assumir o controle da casa já que a Constituição Federal afirma que um dos critérios para um candidato se eleger presidente da República é ter, no mínimo 35 anos.
O próprio deputado, porém, se apega numa interpretação diferente dada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para fortelecer sua candidatura. Na ocasião, em 2016, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB), se tornou réu de uma ação penal, condição na qual também não poderia ficar na linha sucessória, mas o STF determinou que ele poderia permanecer como presidente do Senado e que apenas não poderia ocupar o cargo de presidente da República, passando automaticamente para o próximo caso houvesse a necessidade.
Dessa forma, Kim Kataguiri afirma "há essa jurisprudência. Então, eu continuaria presidente da Câmara, mas fora da linha sucessória" e promete que, caso acabe eleito pelos demais parlamentares, pautará a Reforma da Previdência, vai rever as regras de tramitação de medidas provisórias que, atualmente, travam a pauta da Câmara se não forem votadas em até 120 dias após a data de publicação, além de criar uma CPI do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e dar prioridade para temas sobre corrupção.
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"Temos que tirar a sujeira do BNDES de debaixo do tapete. O que rola nos bastidores de Brasília é que seria um escândalo com um volume de dinheiro muito maior", explicou antes de confirmar que também levaria adiante propostas na área de segurança pública, como a reestruturação das polícias, o fim da saída temporária de presos e a revisão da progressão de pena, defendidas em plano nacional pelo candidato à presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Capitão Augusto (PR-SP) quer aproveitar crescimento da 'bancada da bala'
Também da bancada de São Paulo, a maior da casa com 70 deputados, vem o ex-oficial da Polícia Militar, o Capitão Augusto , que acaba de ser eleito para o seu segundo mandato e já está em campanha para ser o novo presidente da Casa. Ele afirma ter o apoio de seu partido e o aval dos deputados que são policiais e dos demais da bancada da segurança pública, a autointitulada “bancada da bala”, e da bancada religiosa.
Naturalmente, suas propostas são ligadas majoritariamente a questão da segurança pública e o endurecimento da legislação penal. Mas para também conseguir o apoio da bancada religiosa, ela afirma que "nada que for contrário ao Cristianismo eu vou pautar. A democracia é a vontade da maioria. Enquanto a maioria do povo brasileiro for cristã... quem não for, vai engolir, vai ter que respeitar”, afirmou Capitão Augusto em entrevista ao G1 .
Além disso, mesmo com filho do atual candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) eleito por São Paulo com mais de 1,8 milhão de votos, Eduardo Bolsonaro, Capitão Augusto espera obter o apoio do presidenciável por conta da afinidade de pautas.
Assim como o presidenciável do PSL, Capitão Augusto também afirma que não houve ditadura no Brasil de 1964 a 1985 e é conhecido por andar fardado no corredores do Congresso Nacional, hábito que ele afirmou que vai manter sendo eleito ou não.
Contrário ao projeto que tipifica como crime a homofobia, assim como Kataguiri ele também quer reformular o regimento interno da Câmara, nesse caso, porém, sua promessa é de diminuir os recursos disponíveis para a oposição fazer obstrução e impedir a votação das pautas que não são de seu interesse e definir a pauta com antecedência para os demais parlamentares conseguirem se inteirar do assunto. “Você acha que tem deputado que vota consciente? Não vota, porque não sabe do que se trata”, afirmou.
Atual presidente, Rodrigo Maia é o preferido da oposição
Outro integrante da 'bancada da bala', o deputado Delegado Waldir (PSL-GO) também já demonstrou interesse em disputar o cargo de presidente da Câmara do Deputados, mas o preferido da oposição é mesmo o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A ideia seria unir partidos de centro-esquerda como o PDT e o PCdoB, com setores do centrão e do PSDB, além de se unir com o PT em caso de derrota do partido na campanha presidencial para evitar que a presidência da Casa caia em mãos do grupo do candidato do PSL. Oficialmente, porém, as partes negam o assunto.
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Enquanto Rodrigo Maia simplesmente não responde às suposições, o vice-líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP) afirmou que a disputa pela presidência da Câmara ainda não foi discutida pela bancada e que o foco do partido está no 2º turno da eleição presidencial. “A nossa preocupação agora é em vencer a Presidência da República. Até porque, dependendo de quem for eleito, haverá reflexos aqui na Câmara”, afirmou o petista.