Carla Danielle Basson sorri com facilidade, tem um ótimo senso de humor, e possui um olhar engajante. Seu tom de voz é baixo, ela é muito comunicativa e alegre. Mas essas primeiras impressões não contam toda a história.
Até poucos meses ela era a Tenente Coronel que comandava o 11º Batalhão da Polícia Militar em Jundiaí, um cargo ocupado por muito poucas mulheres. Como se isso não fosse desafio suficiente, Carla Danielle Basson decidiu contribuir com a sociedade de outra forma, e possui chances reais de ser a nova Vice-Governadora do Estado de São Paulo.
Após 27 anos servindo a população na Polícia Militar, Carla se desligou do serviço ativo, e aceitou o convite de Paulo Skaf , líder nas pesquisas para o governo de São Paulo, para integrar sua chapa. Com 46 anos, ela é formada em Direito e possuí mestrado e doutorado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública.
Seu sólido perfil acadêmico e impecável carreira na Polícia Militar, que durante anos lhe permitiu ter um contato muito próximo com as necessidades de paulistas e paulistanos, fazem com que ela seja um nome forte para integrar a campanha de Skaf, num momento em que políticos tradicionais, envolvidos em escândalos de corrupção e mentiras, são fortemente rejeitados pelos eleitores.
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“O Policial sempre busca a excelência e o aperfeiçoamento do seu trabalho. Pessoalmente, sou muito exigente. O bom não está bom para mim, sempre busco o ótimo. Sempre procuro a excelência, me aprimorar na minha atividade, demando muito de mim mesma. É com esse espírito que decidi concorrer ao cargo de Vice-Governadora”, diz Carla. Conheça quem é, e o que ela pensa na entrevista abaixo.
Você já prendeu um criminoso?
Não.
Como assim?
Um criminoso não, já prendi e algemei muitos criminosos!
Como é uma mulher prender um bandido?
É exatamente da mesma forma que um Policial homem. Naquele momento você exerce o poder que o Estado lhe conferiu, você é o braço executor que faz a lei ser cumprida. Independente se o PM é homem ou mulher, os procedimentos operacionais são exatamente os mesmos e o infrator será preso da mesma forma. Como agente da lei, esse é meu dever e sempre o cumpri, não por satisfação pessoal, mas para o bem da sociedade.
Qua é a reação do marginal quando é preso por uma mulher como você?
Olha, eu não dou muita conversa, nem presto atenção no que o criminoso pensa ou deixa de pensar, minha ação sempre foi firme.
No início de carreira, essa é uma situação delicada, mas rapidamente você aprende com a realidade e isso se torna parte integrante do seu trabalho. Isso vale para o Policial homem ou mulher.
Quando você prende o infrator e o respeita, ele também te respeita, independente se o Policial é homem ou mulher.
Se o criminoso tomar a decisão errada de resistir e partir para confronto com a Polícia, sempre vai perder.
Quais ocorrências que mais te marcaram?
Acho que posso falar em nome de todos meus colegas da PM, que a melhor ocorrência é aquela em que você consegue salvar a vida de uma pessoa e devolvê-la para sua família, evitando um suicídio ou libertando um refém de sequestradores. Não existe maior satisfação na vida de um Policial. Essa é a razão da existência da Polícia, você vive para ajudar e servir a comunidade.
Há quanto tempo você é Policial?
Minha carreira foi de 27 anos. Fiz parte da terceira turma de mulheres que passaram por uma transição dentro da PM. Ingressei na Academia do Barro Branco em 1991, e quando me formei em 1993, éramos 15 mulheres numa turma de 173 formandos. Até 1989 as mulheres não andavam armadas na Polícia, sua atuação era restrita a serviços sociais e administrativos. Eu tive sorte, meu desejo sempre foi de ir para as ruas, queria patrulhar e combater o crime ativamente, atuando diretamente com a comunidade.
Em quais áreas da PM você atuou?
Sempre trabalhei em áreas operacionais, em várias cidades de São Paulo. Meu primeiro comando, como Tenente, foi o Policiamento de Trânsito em São Paulo, depois fui para Jundiaí e trabalhei nas áreas de inteligência, materiais e operações. Lá eu comandei a Força Patrulha, atuando no policiamento de ruas, estádios de futebol e até na segurança da cadeia pública local. Em 2000 fui promovida à Capitão e fundei a Força Tática no 49º Batalhão de Jundiaí, com responsabilidade operacional em várias cidades da região. Nessa época eu comandava cerca de 200 Policias. Quando fui promovida à Major, fiquei responsável pela coordenação operacional do Batalhão, com 400 PMs sob minha responsabilidade. Em 2015 fui promovida à Tenente Coronel e passei a comandar meu primeiro Batalhão, o 35º de Campinas. Meus cerca de 650 policiais patrulhavam um terço da cidade, além de Valinhos e Vinhedo. Meu último comando, em 2018, foi o 11º Batalhão da Polícia Militar responsável pelos municípios de Jundiaí, Itupeva e Cabreúva.
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Por que entrar para a política?
Pelos mesmos motivos que escolhi seguir a carreira de Policial. Não sou de ficar quieta. Quando vejo algo errado, que não concordo, eu não apenas falo, mas atuo para que seja corrigido, não me omito. Isso gera todo tipo de consequências, mas para mim agir de acordo com meus princípios é a única opção, e essa postura me ajudou a vida inteira. Veja onde consegui chegar, uma mulher Comandante de Batalhão, e que agora recebe um convite incrível, de intensa responsabilidade, do Paulo Skaf
, um homem que admiro muito pelos seus princípios e suas realizações. Tomei a decisão de sair da minha zona de conforto, fazendo o que sempre amei, e num momento muito positivo na minha carreira, pois senti que essa seria uma oportunidade de continuar cumprindo meu dever de cidadã de servir à sociedade, mas em outra arena, aplicando os mesmos valores, do que é certo e justo, que usei na minha trajetória na Polícia Militar.
Como você conheceu o Skaf?
É incrível como tudo se encaixou nessa história. Em 1978, quando eu tinha 6 anos de idade, entrei no pré do SESI de Jundiaí e cursei até a oitava série. Minha vida seguiu, entrei para a PM, trabalhei em várias cidades, e em dezembro de 2017 voltei para Jundiaí. Em maio de 2018, já como Tenente Coronel, fui convida para comandar do 11º Batalhão de Jundiaí, o mesmo que eu havia começado minha carreira como Tenente em 1995. Essa foi a realização de um sonho: comandar o mesmo Batalhão onde eu havia iniciado minha carreira, e na minha cidade, um presente de Deus! Mas Ele ainda reservava outro. Logo após assumir esse comando, fui convidada para representar a PM num evento na escola local do SESI de Jundiaí, a mesma que eu havia estudado na minha infância. Eu já conhecia o trabalho do Paulo Skaf, mas foi nesse evento que o conheci pessoalmente.
Se eu entendi bem, você virou comandante do 11º Batalhão de Jundiaí, o mesmo que você iniciou como Tenente há 23 anos, e durante um evento na escola do SESI de Jundiaí, a mesma que você estudou 40 anos antes, você conheceu o presidente do SESI?
Foi isso mesmo, só pode ter sido a mão de Deus!
E seu contato com o Skaf como se deu?
Ele estava cumprimentado as pessoas, e quando se aproximou de mim disse: “Então Coronel, nossa segurança pública tem jeito?” Eu sabia que ele era pré-candidato e então pensei que este seria um bom momento para dizer minha opinião. Respondi: “Claro que tem, é só colocar gente competente que quer trabalhar, valorizar a área de segurança, de saúde e educação e você vai ver com tem jeito!”. Ele parou um pouco, me olhou e continuou cumprimentando as pessoas, mas aí decidiu voltar algumas vezes e me fazer algumas perguntas mais específicas, e assim fomos conversando. Antes de ir embora ele disse que gostaria de conversar comigo e me convidou para encontra-lo. Não levei muito a sério, mas algumas semanas mais tarde a assessoria dele me contatou e tivemos nossa primeira reunião. Hoje sou candidata a vice-governadora dele.
Como foi o convite?
Ele me fez perguntas sobre vários assuntos, como educação e saúde, mas nesse encontro o foco foi em segurança publica, queria saber minha opinião sobre a desvalorização dos nossos profissionais de segurança, da criminalidade, presídios, etc. Em determinado momento me perguntou por que eu era Policial. Respondi que sou legalista, que acredito que o Policial é um agente modificador da sociedade, ele consegue mudar um ambiente conturbado e trazer a ordem, é a barreira entre a paz e caos social. Foi aí que perguntou: “A senhora já pensou em ser política?”. Respondi que não, que sou Polícia. O Skaf me olhou e disse: “A Senhora me disse que é uma idealista. Como Vice-Governadora não acha que poderia fazer ainda mais para a sociedade?”. Parecia que eu estava sonhando, não acreditava. Esperamos a vida toda para fazer a diferença e meu momento havia chegado. A chance que eu queria para contribuir com a mudança dessa realidade havia chegado. Vi no Skaf uma pessoa de verdade, ele acredita no que fala, ele tem um passado de construção, de dedicação social e de ética, ele tomou isso como uma bandeira pessoal. Sinto que ele vê o governo de São Paula da mesma forma, por isso aceitei o convite. Temos tudo para São Paulo ser melhor.
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Você sempre foi determinada assim?
Essa é uma característica minha. Nunca tive papel decorativo na minha vida. Casei, separei, crio meu filho, pago as minhas contas, sempre fui à luta. É com essa determinação que vou ajudar o Skaf. Precisamos de gente que faça, em todas áreas. Nunca fui uma Policial decorativa, sempre lutei pela minha Tropa, sempre atuei de forma determinada nas operações Policiais que participei. Se é para fazer mais ou menos, não faço.
Como você enxerga a segurança pública em São Paulo?
Esse problema não pode ser tratado de forma simplista, como vários leigos fazem. O principal problema é de gestão, de competência e de coragem. O Primeiro ponto é a valorização e reconhecimento da nossas Polícias Militar, Civil e a Técnico- Cientifica, que estão sucateadas. A sociedade precisa entender o papel desses homens e mulheres, verdadeiros heróis, e apoiá-los. Diariamente esses agentes da lei prestam serviços incríveis para nossa sociedade e isso precisa ser reconhecido. Este problema passa pela questão salarial, equipamentos e condições de trabalho. Enquanto o crime está equipado com fuzis de combate de guerra de alto poder ofensivo, e usando carros blindados que são roubados, nós contamos apenas com a coragem do Policial, um colete de nível balístico não adequado, e uma pistola .40. Isso está errado e tem que mudar. Sabemos o que precisa ser feito: gestão voltada para o interesse coletivo. Outro ponto crítico é o investimento e fortalecimento da área de informações e inteligência, que possui um grande poder de evitar e minimizar as ocorrências criminais no seu nascedouro.
Você é a favor de separ da Policia Militar e Civil em duas Secretarias de Estado diferentes?
Sou totalmente contra. Não precisamos de mais divisões e temos que parar de pensar nos interesses de grupos. O único interesse que vale é o coletivo, o que é melhor para sociedade. Sou pela integração das Policias, as duas devem continuar no atual modelo de cooperação e complementaridade, já que suas competências são diferentes. Cada uma deve fazer bem feito o que está previsto constitucionalmente. A Polícia Militar possui função de patrulhamento ostensivo para prevenir o crime, e também de repressão ao crime. A Polícia Civil, possui o papel de investigar o crime. Separar as Polícias em duas Secretarias não. Devemos integrá-las, mas talvez não numa Secretaria, temos que pensar em um modelo mais adequado do que o atual.
Como assim?
A segurança pública deve estar nas mãos dos verdadeiros especialistas, eles devem ouvidos. O Comandante Geral da PM conhece bem a Tropa dele e as necessidades da sua instituição, o Delegado Geral, idem. Eles devem ser fortalecidos. Precisamos de uma administração que conheça as Polícias efetivamente. Quem conhece o funcionamento das Polícias, é a própria Polícia e não os teóricos. É assim que eu penso.
Qual sua opinião sobre boletins de ocorrência serem feitos pela Polícia Militar?
Novamente precisamos pensar o que é mais útil para a população. Se queremos mais Policias nas ruas fazendo patrulhamento ostensivo e prestando serviços para a comunidade, não faz sentido uma equipe de PMs se dirigir para uma Delegacia e ficar esperando por horas para fazer o registro de uma ocorrência. Para cetos tipos de crimes, o Policial Militar pode fazer o boletim de ocorrência no local da infração, e transmiti-lo eletronicamente para a Delegacia. Isso já acontece em alguns Estados, já acontece com a nossa Polícia Militar Ambiental. O próprio cidadão faz boletins de ocorrência pela internet. O registro eletrônico fora da Delegacia não é uma novidade e sou a favor de sua rápida expansão. A tecnologia otimiza nossos processos, e nesse caso irá liberar o PM para sua função primordial: patrulhamento ostensivo e preventivo.
O que você acha da audiência de custódia?
É um instrumento que assegura o direito de um criminoso preso em flagrante ser ouvido por um juiz, mas discordo da forma como é utilizada. Para a segurança pública, ela está traz prejuízos, na medida em que dificulta muito a resposta de tranquilidade que o Policial pode dar para a sociedade.
O Policial se empenha, se arrisca, cumpre seu dever, prende o criminoso que invadiu uma casa, cometeu barbaridades, e no dia seguinte ele é solto durante a audiência de custódia. Isso é frustrante, passa a impressão de que a Polícia não está agindo, não está trabalhando direito.
Eu presenciei o caso de um ladrão que, em seis meses foi preso e solto 21 vezes por furto. Há poucos dias, um indivíduo alcoolizado atacou um Policial e conseguiu pegar sua arma. Ele efetuou vários disparos, atingindo o rosto do PM e a perna de um cidadão. Após ser ouvido por uma juíza, ela conclui que não houve intenção de morte, e que tiro havia sido de raspão. Em menos de 24 horas o agressor foi liberado. Essa situação causou tanta revolta e ruído nas redes sócias, que outra Juíza revogou essa ordem e determinou a prisão preventiva do criminoso.
Além da segurança, quais são as outras áreas você considera prioridade?
Saúde e educação. Existem pesquisas que demonstram que saúde, educação e segurança formam o tripé que afeta o funcionamento das demais engrenagens sociais. Eu estudei no SESI, venho dessa base de excelência no ensino, que sempre foi referência de qualidade, e que agora está ainda melhor. A qualidade é padronizada, crianças possuem alimentação adequada, controlada por nutricionistas, e o ensino é integral do primeiro ao quinto ano, com café da manha, almoço e lanche da tarde. O resultado é que no fim do curso, os alunos do SESI conseguem com mais facilidade uma boa colocação profissional. Esse é o padrão que vamos usar. A falta de educação e saúde sempre afunilam em problemas de segurança publica.
E tua família, o que pensa de tudo isso?
Estão orgulhosos e felizes, mas um pouco preocupados com a mudança. São os valores da minha família que me deram a base para chegar até aqui. Tenho a felicidade de ter uma família maravilhosa. Meu pai foi da antiga Força Pública, que depois se transformou na Polícia Militar. Ele trabalhou na ROTA, foi para a Polícia Civil e mais tarde para o Exército. Tenho dois irmãos, um é comerciante e o outro Policial Civil. Mas é minha mãe quem está por trás de tudo. Ela me conta que quando eu tinha um ano, tentaram entrar em casa. Ela não teve dúvida: pegou uma arma que meu pai guardava em casa, e gritou que se entrassem ela iria se defender. Eles foram embora. Nem sei por que minha mãe não é Polícia, mas dizem que mulher de Polícia, Polícia é! Já o meu filho, a benção da minha vida, não poderia ser diferente. Ele está cursando Direito, quer entrar para a Polícia Federal, mais uma agente da lei na família!
Um Oficial da PM, que conhece Carla Danielle Basson desde seu primeiro dia na PM, e acompanhou de perto sua carreira, tem o seguinta a falar sobre ela: "Todos que já trabalharam com Carla a adimiram e sempre pontuam seu idealismo e dinamismo, sua inquietação em corrijir erros e melhorar processos, sua capacidade em reconhecer o valor dos seus subordinados e sempre lutar por eles. Isso é um fato e todos que a conhecem na Polícia comentam isso. O 35º Batalhão de Campinas que ela reiniciou, é o melhor Batalhão da Polícia Militar. Lá fica claro a preocupação que Carla teve em querer o melhor, sempre com foco nas pessoas".