“Foi um incidente imprevisto que terminou de forma problemática por causa de discordâncias em certos pontos ... pretendíamos dar uma resposta, um susto”, frase de Adélio Bispo de Oliveira, durante sua audiência de custódiano dia 7 de setembro.
É com essa simplicidade e candura que o criminoso descreve sua tentativa frustrada de assassinar Jair Bolsonaro , canditado isolado na liderança das pesquisas à presidencia do Brasil, cravando uma faca com lâmina de 30cm, no seu abdômen. Para Adélio Bispo de Oliveira , o atentado foi apenas um incidente, um imprevisto, quase que sem querer.
Provavelmente com o intuito de evitar mais violência, e por ainda não ter informções suficientes, o Ministro Raul Jungmann se apressou a dizer que tudo indicava para o fato de Adélio ser um lobo solitário, uma pessoa que agiu sózinha sem apoio e coordenação de nenhum grupo. No entanto, a vasta quantidade de fatos e indícios pontuados a seguir, fazem com que a possiblidade de uma alcateia, e não apenas um lobo, deva ser seriamente investigada.
Quem é Adélio?
Adélio Bispo de Oliveira nasceu em 6 de maio de 1978, na cidade de Montes Claros (MG), numa família muito simples. Em 1997 ele decide sair de casa em busca de emprego, e passa a viajar para outras cidades e estados. É nessa fase que ele inicia sua aproximação com a religião. Segundo a família, desde então, ele raramente voltou para sua cidade natal.
Em 2013 ele é processado por crime de lesão corporal, ao se desentender com um parente e arrombar sua casa. Foi filiado ao PSOL por sete anos, de 2007 a 2014, com desejo de entrar para política como deputado. Solteiro, nos último sete anos passou por doze empregos e em nenhum permaneceu mais do que três meses. Atualmente está desempregado.
Durante sua audiência de custódia, em 7 de setembro, Adélio se declarou “um autor da esquerda moderada” e que “defende a ideologia de esquerda”. Seu Facebook indica e reforça essas convicções politicas.
Em sua página encontram-se ataques contra Jair Bolsonaro , a Maçonaria, Michel Temer, o MBL, Geraldo Alkmin, a Senadora Ana Amélia, Deltan Dallagnol e até contra os personagens do desenho animado “Tom e Jerry”, lançado em 1940 nos Estados Unidos, em que Adélio alega ter encontrado mensagens subliminares.
Ainda no Facebook, ele defende o regime Venezuelano e Lula, denuncia perseguições ao número 13 (número eleitoral do Partido dos Trabalhadores) e difunde teorias de conspiração sobre os ataques da Al-Qaeda, em 11 de setembro de 2001, contra os Estados Unidos.
5 de julho - Coincidência ou premeditação? (1)
Nesse dia Adélio posta na sua página do Facebook uma mapa informando sua localização: Clube e Escola de Tiro .38, em Florianópolis (SC). O mesmo clube do qual os filhos de Jair Bolsonaro, Carlos e Eduardo, são sócios.
No clube, Adélio, preenche uma ficha cadastral e faz uma instrução de tiro por uma hora. Os cursos desta escola custam entre R$689,00 e R$1.890,00. A viagem de ônibus de Montes Claros para Florianópolis sai por cerca de R$190,00. Não se sabe onde ele se hospedou.
Esse não parece ser um típico programa de recreação de um homem pobre e desempregado, especialmente numa quinta-feira.
Essa viagem, um mês antes do atendado, foi uma coincidência ou possível premeditação?
23 de agosto - Coincidência ou premeditação? (2 e 3)
Adélio compra uma passagem de ônibus, por cerca de R$190,00 e percorre 689 km de Montes Claros para Juiz de Fora. O calendário da campanha de Jair Bolsonaro previa sua chegada nessa cidade no dia 6 de setembro.
Essa viagem, duas semanas antes do atendado, foi uma coincidência ou possível premeditação?
Em Juiz de Fora ele se hospeda numa pensão, pagando adiantado R$400 em dinheiro, por um mês de estadia no melhor e mais caro quarto individual. Esse valor não incluía alimentação. A pensão fica a apenas 1 km do local onde o criminoso esfaquearia Bolsonaro, ou seja, quinze minutos de caminhada a pé.
A localização da pensão foi uma coincidência ou possível premeditação?
6 de setembro - Mais indícios da ação de uma alcateia e não de um lobo solitário
Há um mês das eleições, Adélio passa a ostentar no seu currículo o infame título de terrorista urbano. Pouco depois das 15hs ele caminha para o calçadão da Rua Halfeld e desfere um golpe de faca no abdômen de Jair Bolsonaro. A cena grotesca é filmada e fotografada por várias pessoas que estavam no local, e choca o Brasil.
Ao se analisar detalhadamente os vídeos do atentado, começam a aparecer detalhes que levantam a suspeita de participação de terceiros, como o de um homem que troca um objeto com uma mulher, a pouco mais de um metro de Adélio, momentos antes do atentado.
Assim que ele é preso e levado da cena do crime, uma nova suspeita de que Adélio não agiu só aparece. Nos vários vídeos do ataque a Bolsonaro que circulam livremente na internet, existe um que mostra Adélio algemado e sentado no chão de uma Delegacia, que contém o seguinte diálogo entre uma autoridade Policial e o réu confesso:
Policial - “Quem te mandou fazer isso?”
Adélio - “Ninguém”
Policial - “Não foi isso que você falou antes. Quem te mandou fazer isso?”
Adélio - “Eu não disse que ninguém mandou, quem mandou foi o Deus aqui em cima”
O criminoso percebe que caiu em contradição. Logo ao ser preso, no questionamento inicial da Polícia antes de chegar na Delegacia, ele nomeia um mandante. Na Delegacia, ele muda de ideia e decide por a culpa em Deus.
Os advogados de Adélio reforçam essa versão, ao dizer que seu cliente alegou motivações religiosas, e que a intenção da facada era apenas para ferir. Mais tarde, Adélio e seus advogados alteram mais uma vez o discurso, passando a dar ênfase na motivacão do crime como sendo política.
Incrivelmente, em apenas 24 horas surgiram três suspeitos de colaborar ou motivar o atentado: 1) O mandante secreto, citado inicialmente, 2) Deus, e por fim 3) Divergências políticas.
No mesmo dia do atentado a Polícia Federal conduz uma busca no quarto da pensão que Adélio ocupava, e se depara com itens surpreendentes. Lá é encontrado um cartão de crédito internacional do banco Itaú, dois cartões (conta corrente e poupança) da Caixa Econômica Federal, extratos impressos dos dois bancos, um extrato do FGTS, quatro celulares, três chips de celulares e um notebook.
No dia 12 de setembro a Polícia Federal apreendeu seis discos rígidos de uma lan house que Adélio frequentou diariamente, do dia 29/8 até o dia do atentado, duas vezes por dia, de manhã e de tarde.
O que um desempregado, sem acesso a recursos financeiros, fazia com todo este esse material, se conectando diariamente na internet, esperando a chegada de Bolsonaro com duas semanas de antecedência?
7 de setembro - Um dia após o atentado e os indícios de uma alcateia se acumulam
Menos de 24 horas após o atentado contra a vida de Bolsonaro, uma banca advocatícia composta por quatro defensores de renome aparece em Juiz de Fora para representar o criminoso.
Dois deles, Zanone Manuel de Oliveira Junior e Fernando Costa Oliveira Magalhães, chegam num avião particular, para encontrar seus colegas Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa e Fernando Costa Oliveira Magalhães.
Essa não é uma banca qualquer. Esses advogados trabalharam em casos de grande repercussão nacional como o do goleiro Bruno e da missionária americana Dorothy Stang.
A quantidade e qualidade desses advogados, e a rapidez com que chegam à cena do crime levanta questionamentos imediatos. Zanone declara para a imprensa o motivo pelo qual assumiram o caso: “por questões humanitárias, e por compadecimento com a saúde mental de Adélio”. Mas a pergunta persiste: quem está pagando os serviços desses advogados?
Na tentativa de explicar e sanar essa dúvida, os advogados dão duas infelizes declarações, que produzem o efeito contrário ao desejado, e complicaram ainda mais a vida do criminoso.
A primeira declaração foi a divulgação da fonte pagadora. Zanone disse que os advogados foram contratados por Igrejas Evangélicas de Montes Claros, ou por pessoas ligadas a elas. Só que não. Todas Igrejas citadas negaram qualquer ligação com os defensores. Veja o posicionamento delas:
- Igreja do Evangelho Quadrangular: "A Igreja não reconhece o senhor Adélio como membro desta Igreja. A Igreja informa que não pagou absolutamente nada de custas processuais dos advogados do senhor Adélio”, afirmau o pastor e superintendente Antônio Levi de Carvalho.
- Testemunhas de Jeová: "O senhor Adelio Bispo de Oliveira e sua família não são Testemunhas de Jeová. Também esclarecemos que as Testemunhas de Jeová não são responsáveis e não possuem qualquer relação com a contratação de advogados para a defesa do senhor Adelio". Estes religiosos avaliam a possibilidade de ingressar na Justiça contra Zanone Oliveira Junior.
A segunda declaração infeliz do advogado, que gerou mais pontos de interrogação, foi o pedido para a Justiça conduzir uma avaliação psiquiátrica do criminoso, alegando que ele faz “uso permanente de medicamentos controlados de tarja preta, e possui um histórico de consultas com médicos psiquiatras e neurologistas". Só que não. De novo.
Durante sua audiência de custódia Adélio entrega uma versão diferente daquela apresentada pelos seus eus advogados, ao afirmar para a Juíza que não usa mais remédios psiquiátricos: “Nesse momento não faço uso regular desses medicamentos”. Dos três remédios que ele disse ter usado no passado, lembrou-se de apenas um.
Contrariando as intenções dos advogados de classificar seu cliente como doente mental, a Procuradora Zani Cajueiro, diz: “No que tange à lucidez, no curso da oitiva na audiência de custódia, o raciocínio do preso era absolutamente coeso, sem lacunas. Externalizou que discordava do candidato Bolsonaro em vários pontos. Não demonstrou a princípio nenhum sinal de insanidade mental”
Para azedar de vez a estratégia de Zanone em atenuar a situação criminal do seu cliente, no dia 12 de setembro o Juiz Bruno Savino, da 3ª Vara da Justiça Federal de Juiz de Fora, negou o pedido do teste de insanidade mental de Adélio, dizendo:
"Até o presente momento, não há elementos de informação que sustentem a existência de dúvida relevante e plausível sobre a higidez mental do investigado"
Esses foram dois importantes gols contra da defesa:
- A versão de que os custos dos advogados foram pagos por Igrejas é pulverizada.
- A estratégia de classificar o criminoso como não responável pelos seus atos é demolida.
Siga o dinheiro
A quantidade de “coincidências” e situações gritantes não explicadas no atentado contra a vida Jair Bolsonáro, faz com que algumas perguntas sejam feitas e demandem respostas rápidas e muito convincentes. Até esse momento, a lista inclui os seguintes questionamentos:
- Por que um indivíduo pobre e desempregado decide viajar para Florianópolis e fazer instrução de tiro, no mesmo clube que os filhos de Bolsonaro frequentam, um mês antes do atentado?
- Quem pagou as despesas de transporte, hospedagem, alimentação e da instrução de tiro em Florianópolis?
- Por que o mesmo indivíduo decide viajar para Juiz de Fora, duas semanas ante do atentado, e se hospeda numa pensão a 1km do local do crime?
- Quem pagou as despesas de transporte, hospedagem e alimentação em Juiz de Fora?
- Como este criminoso mantinha um cartão internacional, e cartões de conta corrente e conta poupança? Quem efetou depósitos nessas contas? Quem eram os beneficiários dos pagamentos dessas contas?
- Por que Adélio não se conectava online usando seu notebook, e preferia ir diariamente a uma lan house local?
- Que pesquisas ele fez na lan house? Quais sites visitou? Trocou e-mails? Ele acessou a agenda eleitoral no site da campanha de Bolsonaro?
- Em relação aos quatro celulares e três chips, para quem Adélio ligou? Com que trocou mensagens? Qual o conteúdo das mensagens? Quais imagens estão salvas? Ele navegou por quais sites?
- Esses celulares e chips estão no nome de quem? Suas contas são pagas por quem?
- A quem Adélio se refere inicialmente como mandante do crime, mas quando foi filmado na Delegacia, muda a história e diz que foi Deus?
- Quem contratou tão rapidamente a banca de quatro advogados, dois dos quais chegaram em avião particular, para defender um lobo solitário?
- Quem está mentindo? Os advogados que disseram ter sido contratados por Igrejas, ou estas que desmentiram isso publicamente?
- Quem é o homem e a mulher que trocam um objeto, próximo de Adélio, segundos antes do atentado? Que objeto é esse?
- Por que Adélio usou com frequência o pronome “nós” durante seus depoimentos para a Justiça? Será que o estílo conversácional deste terrorista urbano inclui o uso habitual do plural majestático? Ou será que o "nós" significa exatamente o que ele é: mais de uma pessoa.
- De onde veio a faca do crime? O criminoso a comprou em Juiz de Fora? Roubou da pensão? Recebeu de alguém?
Quando existem fatos e indícios indicando a possibilidade de um crime ter sido premeditado e fruto de uma consiparção, e não cometido por um lobo solitário, uma estratégia de solução que costuma ser muito eficiente é seguir a trilha do dinheiro.
Junte a isso a enorme quantidade de pegadas eletrônicas deixadas pelo criminoso e a Polícia Federal possui farto matérial para identificar todos os membros desta alcateia raivosa que tentou matar Bolsonaro e atacou a nossa democracia.
Finalizo alertando para um fato óbvio. Se a possibilidade de Adélio ter agido como parte de um grupo for levada a sério, a missão desses conspiradores falhou e o próximo capítulo dessa história de terror é um velho conhecido: a queima de arquivo com a ordem de assassinar Adélio Bispo dos Santos .