Sete dos candidatos à Presidência da República participaram de um debate na TV Aparecida, na noite desta quinta-feira (21). Os presidenciáveis Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede) compareceram ao evento.
Os candidatos Cabo Daciolo (Patriota) e Jair Bolsonaro (PSL) também foram convidados para participar do debate
. O primeiro negou o convite, alegando incompatibilidade de agenda, enquanto o segundo não pode participar, pois s egue internado se recuperando
após levar uma facada em um comício.
O evento foi marcado por uma postura combativa dos candidatos e por uma série de trocas de acusações entre eles, em especial, entre Geraldo Alckmin e Fernando Haddad – relembrando a já conhecida polarização PT x PSDB. Também chamou a atenção o discurso de reforma dos pleitantes ao Palácio do Planalto.
Bloco a bloco do debate na TV Aparecida
A primeira pergunta feita à todos os candidatos foi se eles acreditavam que poderiam fortalecer a democracia no Brasil. Como tem sido de praxe nos últimos debates, os candidatos aproveitaram a maior parte do tempo para se apresentar ao eleitorado. Lembrando de suas histórias na vida pública.
Henrique Meirelles, Alvaro Dias e Marina Silva recordaram que não respondem processos. Fernando Haddad, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin propuseram novas medidas para combater a corrupção.
No segundo bloco, os candidatos fizeram perguntas uns aos outros. A decisão de quem questionava e quem respondia foi feita através de um sorteio. O primeiro embate foi entre Alvaro Dias e Guilherme Boulos. O ex-governador do Paraná debateu com o psolista sobre reforma política.
O próximo sorteio colocou Marina e Ciro frente a frente. A candidata da Rede questionou o adversário sobre acesso aos remédios. O pedetista disse que pretende desburocratizar licitações e produzir mais remédios. "O Brasil precisa investir na indústria nacional da saúde e ter autonomia na produção de remédios", disse.
O sorteio manteve o embate entre Ciro e Marina, agora com o ex-governador do Ceará perguntando sobre o plano da acreana para a saúde. A ambientalista ressaltou sua alianças com seu candidato à vice, Eduardo Jorge (PV). "Tenho a felicidade de ter a pessoa que aprovou a lei dos genéricos ao meu lado", disse Marina, que prometeu mais investimento para a saúde pública e a contratação de mais médicos generalistas.
Depois, Fernando Haddad perguntou para Geraldo Alckmin sobre as posições do adversário sobre a reforma trabalhista e a PEC do teto de gastos. O tucano disse que era favorável à reforma. "A reforma acabou com o cartel dos sindicatos. Agora teremos sindicatos legítimos. A reforma trabalhista modernizou as relações de trabalhos", disse. Ele ainda prometeu novas reformas e atacou os governos de Lula e Dilma.
"Treze milhões de desempregados são herança dos governos do PT. Não precisaria da PEC do teto se não fosse o vale-tudo do PT", atacou o ex-governador de São Paulo, que ainda disse que os erros do governo Temer são culpa do PT, uma vez que ele foi escolhido pelo partido como vice de Dilma Rousseff.
Na réplica, Haddad prometeu revogar a reforma trabalhista e trabalhar contra a terceirização e o teto de gastos. Ele também devolveu o ataque. "Não fosse o apoio do PSDB ao impeachment, Temer não estaria aí", retrucou.
Alckmin seguiu no centro do debate, agora perguntando para Henrique Meirelles sobre medidas para melhorar a segurança pública. O ex-ministro da Fazenda falou sobre evitar a entrada de drogas nas fronteiras. Na réplica, Alckmin concordou e prometeu um trabalho firme nas fronteiras, mas também disse que pretende tratar o vício em drogas como um problemas de saúde pública. "Vamos dar a mão aos jovens", explicou.
Na tréplica, Meirelles também afirmou que o desemprego e a falta do ensino integral também levam os jovens para o crime organizado.
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Meirelles perguntou para Fernando Haddad sobre medidas econômicas. No início de sua resposta, o petista preferiu voltar à pergunta anterior, criticando a reforma trabalhista e a PEC do teto de gastos, dessa vez criticando não apenas o PSDB, mas também o próprio Meirelles, que é ex-ministro de Michel Temer. "A exclusão social é que gera desigualdade e o enfraquecimento da economia", disse.
Meirelles lembrou de seu tempo à frente do Banco Central e do crescimento do País neste período. Na tréplica, Haddad lembrou que o sucesso de Meirelles foi durante o governo do PT e chamou o adversário de "ingrato".
No bloco seguinte, jornalistas fizeram perguntas de tema livre para os candidatos. Fernando Haddad foi o primeiro sorteado e respondeu sobre sua política de migração. O petista afirmou que vai seguir a "tradição brasileira de acolhimento" e disse que, em seu governo, pretende combater a intolerância. "O Brasil tem que plantar paz para colher paz", filosofou.
Meirelles foi o próximo sorteado e teve que apontar um "culpado" para a crise de desemprego do Brasil. O ex-ministro disse que a culpa é de "uma série de medidas econômicas equivocadas feitas pelo governo Dilma". Segundo o candidato do MDB, o aumento da dívida pública obrigou as empresas a demitirem e impediu a criação de novas vagas. Novamente, ele lembrou de sua época à frente do Banco Central. "Criei 2 milhões de empregos", disse.
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Alvaro Dias foi questionado sobre propostas para segurança pública e prometeu mais financiamento e programas de capacitação de policiais. Ele ainda disse que vai recuperar a "autoridade" das forças de segurança.
A pergunta seguinte, sobre urbanização, foi direcionada a Ciro Gomes. O pedetista disse que vai promover uma reforma urbana e impedir o esvaziamento dos centros das cidades. "Há muito dinheiro no mundo disponível para esses projetos", analisou.
A próxima pergunta foi sobre violência contra a mulher e foi endereçada a Marina Silva. A candidata da Rede disse que pretende aumentar a fiscalização para impedir a desigualdade e investir nas delegacias da mulher. "A sociedade brasileira não pode mais continuar no conceito oco enquanto mulheres pobres estão sendo assassinadas", afirmou.
Geraldo Alckmin foi sorteado e respondeu sobre a reforma política. "É necessária. Nós temos um sistema completamente falido. Não podemos ter 35 partidos", disse o candidato, que também afirmou defender o voto facultativo.
O candidato ainda prometeu que fará quatro reformas se assumir à presidência. "Política, tributária, com a implementação do imposto único, da Previdência e do tamanho do Estado. Vamos apertar o cinto do estado para não apertar o da população", listou.
O quarto bloco voltou a colocar os postulantes ao Palácio do Planalto frente a frente. Boulos questionou Ciro sobre o controle estatal da mídia. "Não temos convergência política para fazer um controle estatal da mídia diante de um Congresso reacionário. Isso seria jogar capital político fora", analisou.
No entanto, o ex-governador do Ceará prometeu incentivar sindicatos, igrejas, grêmios estudantis e demais instituições a produzir conteúdo.
Ciro foi sorteado para perguntar para Haddad e questionou o adversário sobre como resolver o sistema tributário brasileiro. "Quanto mais pobre você é, mais imposto você paga em proporção à sua renda. Isso tem que mudar", analisou o petista, que prometeu simplificar os impostos para facilitar a vida dos mais pobres.
Por outro lado, ele afirmou que pretende aumentar as taxas dos "milionários". "Vamos fiscalizar o imposto sobre grandes patrimônios e aumentar o imposto sobre heranças", prometeu.
Ciro alfinetou o PT, dizendo que o partido não colocou essas medidas em pauta em 14 anos no governo. Haddad retrucou, o disse que Lula fez a "maior reforma tributárias às avessas da história do País", pois o ex-presidente "colocou os pobres no orçamento".
Na questão seguinte, Henrique Meirelles perguntou para Marina Silva o que a candidata pensava da reimplementação da CPMF. A ex-ministra seguiu Haddad e prometeu uma reforma tributária "simplificadora". Ela também se disse contra a CPMF. Em sua réplica, o candidato do MDB concordou com a adversária e afirmou que o segredo não é aumentar impostos, mas cortar despesas estatais.
Geraldo Alckmin questionou Henrique Meirelles sobre medidas para educação. O ex-ministro voltou a bater na tecla que o Brasil precisa, primeiro, recuperar a confiança econômica para poder ter recursos para investir. "Precisamos atacar a raiz de todos os problemas", disse.
Alckmin voltou a atacar o governo de Michel Temer, falando que o MDB "fracassou" desde que assumiu o poder.
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Haddad perguntou para Alvaro Dias suas medidas para o fortalecimento da família. O candidato do Podemos usou o seu tempo para atacar o PT, dizendo que o partido seria um agente do "caos e do fracasso". Haddad retrucou, dizendo que o adversário não entende a "realidade brasileira" e citou programas como o Bolsa Família e o ProUni para dizer que os governos de seu partido fortalecem as famílias.
Alvaro Dias e Alckmin fecharam o bloco debatendo sobre medidas econômicas. O ex-governador do Paraná prometeu combater a corrupção no setor público, enquanto o tucano disse que vai dar mais crédito para pequenos empreendedores e vagas em cursos profissionalizantes.
No bloco final, os bispos foram chamados e fizeram perguntas para os candidatos. Haddad foi primeiro sorteado e respondeu sobre segurança pública. O petista prometeu um sistema federal de segurança e uma reorganização de responsabilidades. "Os estados estão sobrecarregados", disse o candidato.
Ciro foi o escolhido para responder sobre a agricultura familiar e o agronegócio. O pedetista disse que pretende aumentar o crédito dos agricultores e dar mais recursos técnicos para os pequenos produtores. Sobre o agronegócio, Ciro disse que o foco deve ser a exportação.
Marina foi questionada sobre como ela pretende lidar com povos tradicionais como indígenas e quilombolas. A candidata disse que o governo Dilma/Temer foi o que menos demarcou terras indígenas e ainda atacou as posições do candidato Jair Bolsonaro em não demarcar "um centímetro" de terra indígena.
Alckmin voltou a falar sobre investimentos públicos e novamente criticou os governos do PT e de Michel Temer. O tucano ainda disse que, na educação, vai priorizar a educação básica e não nas universidades. Já na saúde, afirmou que pretende se focar nos jovens dependentes químicos e na qualidade de vida dos idosos.
Meirelles foi sorteado na sequência e respondeu sobre a legalização do aborto. O candidato se posicionou "pela vida, mas também pelo direito das mulheres". Ele ainda disse que, dentro do princípio da liberdade, também defende o direito das igrejas de defenderem sua fé e atacou os radicalismos.
Nas considerações finais, Guilherme Boulos se posicionou contra o que chamou de retrocesso. Haddad falou que está "ao lado de Lula" e chamou o colega de partido de "maior estadista do Brasil". Alvaro Dias atacou a extrema esquerda e a extrema direita.
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Ciro, ao fim do debate , cumprimentou os colegas e pediu mudanças. Meirelles voltou a falar em recuperar a confiança. Marina se colocou como a candidata que vai unir o Brasil e Alckmin voltou a atacar o PT e também citou a candidatura de Bolsonaro, clamando um "esforço conciliatório".