Uma série de imagens que mostra o flagrante da entrega de propina aos indicados do senador afastado Aécio Neves (PSDB) e do presidente Michel Temer (PMDB) – denunciada durante a delação do proprietário da JBS, Joesley Batista, para a Operação Lava Jato – foram divulgadas na tarde desta quinta-feira (18).
Leia também: STF afasta Rocha Loures, deputado acusado de receber dinheiro a pedido de Temer
As informações são do jornal O Globo , e as cenas mostram o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), orientado por Temer para tratar com o empresário da JBS, pegando R$ 500 mil em propina, referentes à primeira parcela do total de R$ 480 milhões prometidos.
A Polícia Federal também gravou o primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros (conhecido como Fred), pegando R$ 1,5 milhão em propina a mando do parente. Fred foi diretor da Cemig, e também um dos coordenadores da campanha presidencial do tucano em 2014.
Esse dinheiro representava três quartos dos R$ 2 milhões pedidos pelo tucano a Joesley, quando não sabia que estava sendo gravado pelo empresário, no dia 28 de abril de 2017. Na ocasião, Aécio disse que a quantia seria usada para contratar o advogado Alberto Toron, que faria sua defesa na Lava Jato.
Quem levou a verba para Fred foi o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, um dos sete delatores. As entregas foram feitas em “parcelas”, sendo R$ 500 mil em cada uma, com três delas sendo filmadas pela PF. Confira a cena abaixo com a primeiro encontro que resultou na entrega da propina, em 12 de abril deste ano.
A gravação mostra que, assim que teve o dinheiro em mãos, Fred repassou a quantia, ainda em São Paulo, para Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar do senador Zeze Perrela (PMDB-MG). Mendherson foi, de carro, até Belo Horizonte com a propina. A PF seguiu o secretário durante o trajeto.
As investigações apontaram que esse dinheiro não foi destinado ao advogado indicado por Aécio. Na verdade, o assessor negociou para que a verba fosse repassada para a Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella, filho de Zeze Perrella.
As chamadas “ações-controladas” feitas pela Procuradoria-Geral da República e pela Polícia Federal foram importantes para que o flagrante do crime funcionasse como prova.
Leia também: Fachin autoriza abertura de inquérito para investigar Michel Temer
Cade
Joesley Batista contou a Rocha Loures que precisava do Cade em Brasília, quando aconteceu o primeiro contato entre os dois. O motivo é que a Petrobras e a JBS estão disputando o preço do gás fornecido pela estatal à termelétrica EPE desde o ano passado, e as empresas estão dependendo da decisão do órgão.
O empresário explicou que o problema da EPE é que a Petrobras compra o gás natural da Bolívia e acaba repassando por valores abusivos. Segundo ele, sua empresa acaba perdendo “R$ 1 milhão por dia” com essa situação.
O pedido de Joesley era que a Petrobras revendesse a substância pelo preço de compra ou então, deixasse que a EPE negociasse diretamente com os bolivianos. O empresário ofereceu 5% como propina e o indicado de Temer sinalizou que “tudo bem”.
Sendo assim, Loures entrou em contato com o presidente do Cade, Gilvandro Araújo, explicando o caso e pedindo que a solicitação de Aécio fosse atendida. No entanto, não há provas de que Araújo tenha realizado esta ação.
O encontro entre Rocha Loures e Ricardo Saúde, diretor da JBS e também delator, aconteceu em São Paulo, para combinar o pagamento de R$ 500 mil semanais por 20 anos, durante a vigência do contrato da EPE.
Isso significaria, em duas décadas, o total de R$ 480 milhões. Loures prometeu levar a proposta a alguém superior e Saud menciona o presidente da República duas vezes. A entrega do dinheiro entre Loures e Saud foi filmada pela PF. A remessa de R$ 500 mil aconteceu depois de percorrerem por diversos locais de São Paulo, em uma pizzaria no Jardim Paulista. Mesmo com o acordo semanal, até o momento, apenas esse montante foi entregue.
Leia também: Bomba no governo: dono da JBS gravou Temer aprovando compra de silêncio de Cunha