A Justiça de São Paulo realiza nesta terça-feira (25) a primeira audiência para decidir um possível júri popular dos policiais envolvidos na Tragédia de Paraisópolis, três anos após o ocorrido.
O caso ocorreu em 2019 quando nove jovens, com idades entre 14 e 23 anos, foram vítimas de asfixia, após uma operação policial com 31 agentes militares, supostamente realizada para dispersão do público que frequentava um famoso baile funk "DZ7" .
- As famílias das vítimas retrucam argumento da polícia e alegam que a PM operava em retaliação contra os moradores após um policial ser morto na comunidade dias antes.
O juiz Ricardo Augusto Ramos decidirá nesta terça-feira (25) se doze policiais militares acusados de envolvimento na "Chacina de Paraisópolis" serão julgados pela morte dos nove jovens em 2019 — entre os 31 oficiais envolvidos na ação, 19 já foram inocentados.
O incidente ocorreu em dezembro de 2019, mas somente este mês aconteceu a fase de produção de provas do processo criminal relacionado à tragédia. A primeira audiência está marcada para as 13 horas no Fórum Criminal da Barra Funda , em São Paulo.
As mães e familiares das vítimas realizaram um ato em frente ao local da audiência, reivindicando a reversão da absolvição dos 19 policiais militares e exigindo que os 31 envolvidos no Massacre sejam levados a júri popular. As famílias também pedem que a Secretaria da Segurança Pública conclua as investigações administrativas contra todos os agentes de segurança envolvidos no episódio.
Em um pronunciamento de movimentos sociais e nas redes, os parentes dos nove jovens afirmam que "19 membros das forças de segurança não foram acusados ou foram prontamente absolvidos". Na mensagem, declaram, ainda, que "é necessário descartar a alegação de homicídio culposo", sustentando que, dias antes do incidente, a Polícia Militar havia começado a ocupar a Favela de Paraisópolis após a morte de um sargento na região.
Relembre o caso
Em 2019, a operação policial encurralou os participantes do baile funk com o uso de bombas e tiros. A PM alegou, em depoimento do subtenente Leandro Nonato, que a equipe foi cercada pela multidão que arremessava garrafas e pedras. Por isso, outros policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo e "efeito moral", além de tiros de bala de borracha e cassetetes para se protegerem e controlar a situação.
De acordo com o laudo médico, nove jovens morreram por asfixia durante a ação. São eles: Marcos Paulo de Oliveira dos Santos (16), Denys Henrique Quirino da Silva (16), Dennys Guilherme dos Santos Franco (16), Gustavo Cris Xavier (14), Gabriel Rogério de Moraes (20), Mateus dos Santos Costa (23), Bruno Gabriel dos Santos (22), Eduardo da Silva (21) e Luara Victoria de Oliveira (18). No entanto, o relatório final do processo não confirmou as ações alegadas pela corporação.
Os 12 policiais investigados estão respondendo em liberdade. São eles: tenente Aline Ferreira Inácio, subtenente Leandro Nonato, sargento Joao Carlos Messias Miron, cabo Paulo Roberto do Nascimento Severo, soldado Marcelo Viana de Andrade, soldado Marcos Vinicius da Silva Costa, soldado Matheus Augusto Teixeira, soldado Gabriel Luís de Oliveira, soldado Luís Henrique dos Santos Quero, soldado Rodrigo Almeida Silva Lima, soldado José Joaquim Sampaio e soldado Anderson da Silva Guilherme.
Atuação do Ministério Público e Defensoria Pública
À época do caso, o Ministério Público de São Paulo (MPSP), responsável pela denúncia contra os policiais militares envolvidos na operação tentou amenizar a tensão entre as forças de segurança e os moradores em uma mediação promovida pelo MPSP entre o público frequentador dos bailes funks, os moradores das comunidades e as autoridades, visando acalmar a situação.
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo chegou a divulgar um relatório com 187 páginas . A instituição destacou inconsistências na versão apresentada pela Polícia Militar e apontou evidências, como vídeos, que indicam que os policiais encurralaram os jovens em uma viela da comunidade.