Kathlen de Oliveira Romeu estava grávida e foi vítima de bala perdida
Reprodução/redes sociais
Kathlen de Oliveira Romeu estava grávida e foi vítima de bala perdida

Há exatos 365 dias, a designer de interiores Katlhen Romeu, de 24 anos, grávida de 14 semanas, passava por um viela da comunidade do Lins de Vasconcelos, no bairro do mesmo nome, na Zona Norte do Rio, onde havia ido visitar uma avó materna. Ela caminhava e lia uma mensagem de uma cliente, recebida no seu telefone, quando tiros foram disparados e uma bala atingiu o seu tórax. Katlen não resistiu e morreu junto com a criança que esperava. Há um ano, a família da designer ainda não sabe quem foi o autor do disparo que tirou a vida da jovem e de seu bebê.

Um inquérito da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) encontrou indícios de que disparos teriam sido feitos por pelos menos dois PMs , mas não se sabe ainda qual deles foi o autor do tiro que matou Katlhen. A demora em encontrar o responsável pelo disparo que tirou a vida designer prolonga o sofrimento da família. Nesta quarta-feira, às 19h, uma missa que será celebrada ás 19h, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no Méier, vai lembrar a morte da jovem. Luciano Gonçalves, de 44, pai de Kathlen, já escolheu o que pedirá na celebração.

"Depois do dia 8 de junho de 2021, toda terça-feira parece ser o dia em que ela morreu. Não comemoramos mais nada. Minha esposa chora sempre. Eu vejo sempre minha filha sendo velada. Tem sido muito difícil viver assim, sempre esperando justiça. Nada vai trazer minha filha de volta, mas o mínimo que queremos é Justiça. Esperamos que a Justiça julgue e condene os PMs por homicídio. Há provas para isso. Nesta quarta-feira, vai acontecer a missa de um ano da morte da Kathelen. Se eu pudesse, pediria a volta dela e que tudo isso fosse só uma mentira. Mas não dá. Quero pedir então a Deus que a Justiça seja feita e que os policiais sejam penalizados", disse o pai de Kathlen.

De acordo com a investigação do caso, policiais militares supostamente alteraram o local onde a jovem foi morta, retirando material antes da chegada da perícia. E ainda acrescentaram 12 cartuchos de fuzil para tentar forjar a ocorrência de uma troca de tiros, que segundo moradores, nunca existiu. A 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria Militar denunciou cinco policiais por fraude processual, entre eles um oficial e quatro praças.

No dia 16 de maio, os PMs começaram a ser julgados mas a ausência de uma testemunha fez com que uma nova audiência de instrução e julgamento fosse marcada para o dia 27 de junho. Sobre o homicídio, o MPRJ disse ainda aguardar a conclusão do inquérito e o relatório do caso que será feito pela DHC.

"É Uma afronta, uma falta de respeito, um descaso total. Quero estar enganado se os constantes adiamentos não são uma estratégia para não esclarecer o óbvio. De quem foi que fez e como fez (o disparo). Não entendo a dificuldade em penalizar as pessoas más da polícia, as atrocidades feitas pelo Estado. Há provas indicando quem fez. A dificuldade em esclarecer o caso chega a ser humilhante. É muita demora, é inaceitável, é inexplicável. Incomoda não saber quem fez o disparo. Pra justiça foram os maus policiais que fizeram. Para família, quem fez o erro tem que pagar", disse Luciano Gonçalves, pai de Kathlen.

Gabriel Siqueira, diretor da Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj), e amigo de Kathlen, disse que a não punição do assassinato da designer de interiores

"A gente aqui da Faferj considera a morte da Kathlen como um caso emblemático. Se não houver justiça para o caso dela, há risco de isso também acontecer em outros casos. Quando é o estado que mata não se indicia quem está no comando das operações", disse Siqueira.

Segundo o MPRJ, a 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria da Justiça Militar denunciou, no dia 13 de dezembro último, um capitão , um sargento e três cabos por modificarem a cena no local onde a jovem Kathlen de Oliveira Romeu foi morta, no dia 8 de junho, no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Segundo a denúncia, o sargento e os cabos retiraram, antes da chegada da perícia, o material que lá se encontrava, acrescentando 12 cartuchos calibre 9mm deflagrados e um carregador de fuzil 556, com 10 balas intactas, que foram apresentados mais tarde na 26ª Delegacia de Polícia, no bairro de Todos os Santos. Ainda de acordo com a denúncia, o capitão, estando no local dos fatos e podendo agir como superior hierárquico para garantir sua correta preservação, omitiu-se quando tinha por lei o dever de vigilância sobre as ações de seus comandados.

Procurada, a Polícia Militar disse que os PMs permanecem afastados das ruas. Abaixo, a íntegra da nota enviada pela corporação.

"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que o Inquérito Policial Militar (IPM) relativo ao caso está em andamento junto ao Ministério Público da Auditoria Militar. Os policiais militares envolvidos na ação continuam afastados do serviço nas ruas."

Também procurada, a Polícia Civil disse que a investigação doo caso está em fase final. Abaixo, a íntegra da nota.

"A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) está analisando detalhadamente toda a documentação produzida ao longo das investigações para encerramento do inquérito, que está em fase final de conclusão."

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