Gabriel, empurrado, chutado e imobilizado pelo joelho do agressor Jhonattan, enquanto a dentista Ana Paula Vidal incentivava a agressão: 'Eu achei que iria morrer'
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Gabriel, empurrado, chutado e imobilizado pelo joelho do agressor Jhonattan, enquanto a dentista Ana Paula Vidal incentivava a agressão: 'Eu achei que iria morrer'

“O declarante informa que deseja usar todos os canais legais para denunciar as agressões que qualifica como racismo e por ter sido caluniado quando chamado repetidamente de ladrão, e acredita que se fosse branco não teria sofrido tais agressões”.

Estes são os trechos finais do depoimento prestado por um homem negro de 23 anos agredido e sufocado no pescoço por um casal enquanto tentava entrar no seu carro, estacionado em frente ao edifício onde mora. O caso foi noticiado no domingo pelo Fantástico, da TV Globo.

A violência contra Gabriel da Silva Nascimento foi em Açailândia, no Maranhão, cidade de 113 mil habitantes a 567 km de São Luís, em 18 de dezembro. Recepcionista de uma agência da Caixa Econômica Federal, Gabriel organizava seus pertences no carro para ir ao trabalho por volta das 6h30 quando foi abordado por duas pessoas que estavam em um veículo de luxo, identificadas como o empresário Jhonnatan Silva Barbosa e a dentista Ana Paula Vidal.

Segundo o depoimento de Gabriel, Jhonnatan caminhou em sua direção e após perguntar o que ele fazia dentro do carro, passou a acusá-lo de estar roubando o veículo. O recepcionista relatou que reiterou ser o dono do automóvel e mostrou que a chave estava na ignição, mas foi chamado diversas vezes de ladrão, como confirmam imagens gravadas por câmeras de segurança de uma loja na mesma rua.

Após ser acusado tanto por Ana Paula quanto por Jhonnatan, Gabriel foi derrubado, levou chutes, tapas e foi imobilizado pelo empresário, que pôs o joelho em seu pescoço — uma cena que lembrou o caso do norte-americano George Floyd, morto pelo policial Derek Chauvin em maio de 2020, em um caso que gerou diversas manifestações do movimento Black Lives Matter nos EUA.

O ataque só parou depois de um vizinho dizer que o rapaz era morador do condomínio e proprietário do carro. Na descrição a uma equipe jurídica de apoio, Gabriel acrescentou que precisou sair de casa por temer novas agressões não consegue mais dormir. Ele também disse temer represálias, porque foi informado que a dentista é “de uma família influente”.

“Perspectiva subjetiva”

A agressão foi registrada em 19 de dezembro na Polícia Civil, e é investigada delegado Saniel Trovão Brito, do 1° Distrito Policial de Açailândia. De acordo com o investigador, há indícios de que houve tentativa de homicídio, mas formalmente a investigação ainda não levou à conclusão do crime de racismo.

"Não desconheço que haja essa possibilidade (da identificação do crime de racismo). Entendo a posição do Gabriel quando ele diz que foi julgado e agredido por conta da cor dele, mas essa é uma perspectiva dele, subjetiva. Eu reafirmo, no entanto, que não descarto essa possibilidade" , disse o delegado.

O inquérito será concluído até o dia 18, e os depoimentos de Jhonnatan e Ana Paula serão tomados ainda esta semana. O vizinho que interrompeu a agressão também será ouvido.

“Enquanto o declarante tenta se levantar do chão, Jhonnatan vai empurrando com agressão o declarante em direção ao outro lado da rua, onde o declarante foi derrubado novamente. Naquele momento, Ana Paula diz: ‘Pisa no pescoço dele e enforca ele até a polícia chegar’”, registra o depoimento. Neste momento, Gabriel já estava com tontura e sangrando pelos dois supercílios feridos.

Para o advogado Márlon Reis, que assumiu a defesa de Gabriel, o caso foi de racismo.

"Se fosse uma pessoa branca tentando ligar o carro, sem conseguir, talvez os agressores do Gabriel parassem para perguntar se queria ajuda. É desprezo que só pode ser explicado pela cor, pela aparência, pelo formato do nariz, pelo cabelo ", afirma Reis.

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