Quatro dias depois da operação policial que culminou na morte de nove homens no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio , o governador Cláudio Castro (PL) comentou a letalidade da ação. Castro apoiou que os policiais que participaram da troca de tiros sejam investigados por eventuais condutas delituosas. No entanto, disse que as vítimas "não estavam fazendo coisa boa no local" quando foram mortas.
"Temos trabalhado todos os dias para melhorar a ação das nossas polícias. Eu discordo de quem diz que ações como essa ou a do Jacarezinho, realizada em maio (que deixou 28 mortos), são recorrentes. No Jacarezinho, o que se viu foi o cumprimento de uma ação judicial. No Salgueiro , vamos uma operação da Polícia Militar. Não apoiamos erros e, se alguém errou, será punido. Mas, aqui ninguém é criança. Sabemos que ninguém vai camuflado para um mangue com a intenção de trocar tiros de air soft (esporte que simula ações de combate com bolinhas no lugar de munições) com policiais. Se o sujeito foi lá, não foi para fazer coisa boa no local", afirmou.
Em relação ao retorno do julgamento da ADPF 635 (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), conhecida como "ADPF das Favelas", pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Castro afirmou que o Governo se esforça para cumprir as exigências estipuladas para realizar operações policiais em regiões conflagradas. Essa decisão prevê restrições à realização de operações policiais em comunidades do Rio durante a pandemia.
"Estamos, através da Procuradoria Geral do Estado (PGE), debatendo esses temas. Já compramos as body cams para os uniformes dos agentes de segurança e, em breve, apresentaremos nosso programa de enfrentamento à violência nas comunidades", afirmou.
Policiais já identificados
O Ministério Público (MP) já sabe quem foram os policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que participaram da ação. A 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Niterói e São Gonçalo recebeu informações com as escalas das equipes nos dias 20 e 21 de novembro. A investigação é sigilosa e não serão fornecidas informações sobre o teor dos documentos, diz o órgão. Os depoimentos serão agendados assim que as peças técnicas forem juntadas aos autos.
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Em um relatório interno da Polícia Militar, a corporação aponta que 75 PMs do Bope participaram da operação. De acordo com informações da corporação, desse total de PMs, oito agentes participaram da troca de tiros no Salgueiro. Assim, 8 fuzis, sendo 4 Colt cal. 556 e 4 AR10 cal. 762, serão entregues na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI).
O documento de número 3239, intitulado “Relatório de Término de Operação Policial”, foi assinado eletronicamente pelo major Carlos Eduardo da Silveira Monteiro, do Bope. O material foi direcionado ao Comando de Operações Especiais (COE). Assinado eletronicamente às 7h10 de domingo, 21, ou seja, ainda durante a operação policial. O documento só chegou ao COE na terça, por volta das 9h.
O major da polícia de elite destaca ainda que tornou-se "imperiosa a atuação" para "restabelecer a ordem na área conflagrada", com objetivo de identificar e prender os autores pela morte do colega e para retirar da comunidade policiais que permaneceram ali após o ataque.
O documento afirma ainda que duas equipes do batalhão participaram da ação: Charlie e Delta. Para justificar as medidas estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que determina diversos cuidados a serem adotados durante uma ação militar, a PM diz que estava com dois veículos blindados, além de uma ambulância para qualquer eventualidade "caso fosse necessário, salvaguardando a vida sempre". No entanto, moradores desmentam a versão oficial. Horas após a saída dos militares, na noite de domingo, oito corpos foram encontrados em um manguezal da região. A Polícia Civil só conseguiu fazer a para a perícia na manhã de segunda-feira.