A defesa do ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, de 38 anos, entrou no último sábado com um pedido de Habeas Corpus (HC) no Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região. A solicitação de liberdade foi assinada por uma banca de advogados. Também ex-pastor da Igreja Universal, Glaidson está preso há mais de uma semana suspeito de fazer parte de uma organização criminosa responsável por fraudes bilionárias envolvendo criptomoedas na Região dos Lagos. Ele é investigado pela Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF) em um inquérito de lavagem de dinheiro, organização criminosa e crimes contra o sistema financeiro.
O TRF-2 ainda não informou quem será o desembargador responsável por julgar o pedido de soltura do empresário. Na última sexta-feira (27), o juiz federal Vitor Barbosa Valpuesta, da 3ª Vara Federal Criminal manteve a prisão preventiva de Glaidson durante audiência de custódia.Após a audiência de custódia, o advogado Thiago Minagé, que defende Glaidson, disse que recebia a decisão da manutenção de sua prisão preventiva “de forma respeitosa”, porém, discorda veementemente de todos os fundamentos utilizados”. Ao GLOBO, Minagé disse que, durante a audiência de custódia, apresentou documentações comprovando que seu cliente não deixaria o país, como salienta a Polícia Federal.
"O juiz manteve a prisão preventiva embora eu tenha apresentado toda a documentação comprovando que não havia nenhuma intenção de fuga. (Havia) Passagens de ida e volta com data marcada, reserva em um resort com check-in e check-out. Haveria nos dias 25, 26, 30 e 31 de agosto uma convenção da GAS em Punta Cana (na República Dominicana) com seus consultores. As pessoas iriam para lá para isso e retornariam. O próximo passo é impetrar o pedido de HC (habeas corpus)", disse Minagé.
Apesar das alegações de Minagé, segundo a PF, o ex-garçom planejava deixar o Brasil na mesma data em que foi capturado. A informação consta no relatório da investigação, obtido pelo GLOBO. Para os policiais, uma ligação interceptada com autorização da Justiça é a prova de que Glaidson, que até 2014 trabalhava como garçom na Região dos Lagos, tinha a intenção de fugir.
O telefonema aconteceu na tarde da última segunda-feira, dia 23 de agosto, às 14h30. No diálogo, Michael de Souza Magno, apontado pela PF como um importante operador financeiro no esquema montado por Glaidson, conversa com um homem não identificado pelos investigadores. "Porque ele já sabia que ele tinha que sair do país rápido", afirma o interlocutor para Michael, referindo-se, segundo a PF, ao ex-garçom. Pouco depois, o próprio Michael diz: "Já era pra ter ido embora, cara, pra 'tá' bem longe daqui. Aí fica no Rio, fica indo em resenha, fica indo não sei aonde, vai pra festa".
Em outro trecho, os dois citam o fato de que Glaidson só estaria com a identidade civil como documento, enquanto aguardava a emissão de um passaporte com visto americano. O homem não identificado afirma, então, que daria as seguintes orientações ao empresário: "Que que 'cê' tem que fazer? Cem países que 'tão na' Mercosul, que você 'tá' só com a identidade, então. Pega sua identidade e vaza daqui pra lá. Quando o seu passaporte sair, você manda o seu piloto vir buscar o seu passaporte'.
No relatório, os investigadores escrevem que a ligação "deixa clara a movimentação da organização criminosa para a fuga de Glaidson dos Santos, possivelmente na próxima quarta-feira (dia 25/08/2021), passando por países do Mercosul, tendo em vista que o investigado está aguardando a liberação de seu passaporte com o visto americano". Os policiais alegam ainda que a decisão de deixar o Brasil veio depois que o programa "Fantástico", da Rede Globo, exibiu reportagens que citavam o ex-garçom, nos dias 15 e 22 de agosto.
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A preocupação da PF e do Ministério Público Federal sobre uma possível fuga era tanta que os pedidos de prisão, assinados pelo procurador da República Douglas Santos Araújo e pelo delegado federal Guilhermo de Paula Machado Catramby, foram enviados à 3ª Vara Federal Criminal às 8h56 do dia 24 de agosto, menos de 24 horas após a conversa interceptada. Na mesma noite, a Justiça expediu os mandados, permitindo que a Operação Kryptos fosse desencadeada na manhã seguinte.
A possibilidade de que o empresário deixasse o Brasil junto a dezenas de outras pessoas ligadas à G.A.S, aliás, foi motivo de preocupação para Michael na ligação monitorada pelos agentes. "Ele já 'tá' chamando a atenção, ele tem que passar em 'OFF', não pode ir com todo mundo, com cachorro. Com periquito e papagaio. Entendeu? Ele não pode, pô", reclama o operador para o outro homem, que concorda.
O relatório da PF também destaca a situação da venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, esposa de Glaidson, que também teve a prisão decretada pela Justiça, mas encontra-se foragida. De acordo com os investigadores, ela tomou um voo de Cabo Frio para o Rio de Janeiro, "sob forte esquema de segurança", no dia 23 de junho.Após uma semana no apartamento do casal, na Barra da Tijuca, Mirelis embarcou, em 30 de junho, rumo ao México. Depois, partiu para Miami, utilizando um visto de estudante. E lá permaneceu. Thiago Minagé, advogado de Glaidson, também nega que a esposa do cliente fugiu do país. Segundo o defensor, ela apenas viajou para os Estados Unidos, e de lá encontraria o marido no Caribe.
A localização da esposa do ex-garçom também virou tema da conversa interceptada."Então a gente fica numa situação em que a melhor coisa é ele meter o pé 'pros' Estados Unidos e ficar lá, some, fica lá quietinho com a Mirelis", disse o homem não identificado para Michael na ligação. Por nota, a assessoria da GAS informou que Glaidson acredita que "tudo vai ser esclarecido".