O ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, de 38 anos, preso há uma semana pela Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MPF) suspeito de comandar um esquema de pirâmide financeira com criptomoedas , começou a investir em bitcoins em dezembro de 2014. De acordo com relatório que embasou o pedido de prisão dele à Justiça Federal, na ocasião ele fez seu cadastro na empresa Foxbit Serviços Digitais S.A, "então a maior plataforma de negociação de bitcoins do país”. A inscrição foi feita pouco antes do fim do contrato de Glaidson com o restaurante no qual trabalhava como garçom. Pouco mais de três anos após o cadastro, a conta acabou cancelada por suspeita de fraude.
Logo que fez seu registro na Foxbit, ainda em 2014, Glaidson movimentou R$ 120 mil, de acordo com as investigações. No ano seguinte, o homem fez transações que somam mais de R$ 1 milhão. Para os investigadores, apenas em 2015 o ex-garçom passou de fato a operar criptomoedas. Em 2016, sua movimentação financeira foi semelhante à de 2015, sendo R$ 624.695,77 a crédito e R$ 640.759,44 a débito, diz a Receita Federal.
Segundo os investigadores, Glaidson passou a operar com tamanha frequência que a Foxbit Serviços Digitais S.A estranhou o montante movimentado por ele. Em 16 de fevereiro de 2018, a empresa comunicou ao ex-garçom que estava encerrando sua a conta por ele não apresentar comprovação da renda utilizada nas operações com criptomoedas, além de sempre enviar “mensagens de e-mails diversos do cadastrado”.
Com o encerramento de sua conta na Foxbit, o ex-garçom migrou para a Vivar Tecnologia da Informação LTDA, em março de 2018. Estranhando as transações exorbitantes de Glaidson, a Vivar passou a comunicar as suas operações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Os auditores chegaram então à conclusão de que, “possivelmente, Glaidson passou a operar de forma mais intensa com a Vivar por ter sua conta na Foxbit encerrada”.
“De acordo com a informação da Vivar, pode-se constatar um elevado aumento nas operações de Glaidson, que também se refletiu em sua movimentação financeira, que passou em 2018 a ser de R$ 96.402.693,56 a crédito e de R$ 98.318.035,66 a débito, mais de dez vezes o valor do ano anterior. Ressalte-se que mesmo tendo alterado o nome de sua empresa e tendo Felipe (José Silva Novais) como sócio, as operações eram feitas nas contas bancárias da pessoa física de Glaidson, uma vez que a GAS apenas teve como movimentação financeira em 2018, R$ 1.321.040,00 a crédito e R$ 1.318.623,71 a débito”, diz o documento.
Antes de cancelar a conta de Glaidson, em um processo de compliance, a Foxbit solicitou que o empresário informasse a origem dos valores transacionados. O documento é datado de 15 de fevereiro de 2018 e foi enviado para o e-mail pessoal do ex-garçom. O auditor da empresa escreveu: "Gostaria de entender um pouco mais da origem desses bitcoins. Você está fazendo arbitragem internacional? Mineração? Comprou no início e está liquidando agora? É apenas day-trade?" pedia a empresa, que ainda solicitou o imposto de renda o ex-garçom. Uma segunda tentativa aconteceu no dia seguinte, horas antes do encerramento da conta.]
Glaidson se esquivou da pergunta e insistiu no recebimento de valores das operações que tinha solicitado: “Eu sou o usuário yosemir, um dos pioneiros aqui na Fox! o Joao canhada me conhece e sabe que faço Trader Day e por isso preciso do meu aumento de limite por exemplo tenho deposito desde o dia 9 de fevereiro do valor de 52 mil reais que ainda não foi confirmado, mais os de 10 mil me confirma menos os de valores maiores, meu perfil é antigo mais já foi verificado com documentos e etc... agora por favor me confirma os meus deposito por favor. outra coisa meu saque está nível 3 baixo para nível 2 por favor! aumente para mim muito obrigado”.
Nesse mesmo dia, Glaidson queria sacar três valores: R$ 52 mil, R$ 35 mil e R$ 40 mil, respectivamente. No entanto, precisava enviar a documentação pedida pela empresa.
Para pressionar a Foxbit Serviços Digitais S.A, a mulher do ex-garçom, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, que é considerada foragida e está na lista da Interpol para a extradição, entrou no circuito junto à corretora para emitir ordens de compra e venda, "o que comprova que não só estava ciente do esquema, como atuava de maneira ativa", diz a PF.
Zerpa escreveu em espanhol: “Hola Rafael, habla la esposa de Gladson disculpa mi españal, yo soy extranjera. Ali le envie o travez el correro que el envio desde su correo personal. Estamos esperando vários depositos desde al dia 9-02-2018 y no se han confirmado", diz a mulher, que envia cinco número de controles de resgate e pede três retiradas em dinheiro vivo que somados chegam a R$ 135 mil.