O homem tem 49 anos e não teve seu nome divulgado
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O homem tem 49 anos e não teve seu nome divulgado


O homem identificado como o 140º neto recuperado pelas Avós da Praça de Maio reencontrou sua irmã biológica após quase cinco décadas .

O caso ocorre em meio à desarticulação de políticas de memória no governo Javier Milei e foi possível por meio de testes de DNA comparados com dados do Banco Nacional de Dados Genéticos.

O homem tem 49 anos e não teve seu nome divulgado. Ele foi retirado de sua mãe, Graciela Alicia Romero, sequestrada grávida de cinco meses em 16 de dezembro de 1976, junto com o companheiro Raul Eugenio Metz, em Cutral Có, na província de Neuquén.

Ambos foram vítimas da repressão militar argentina. Graciela foi mantida viva até o parto e assassinada em seguida. Raul desapareceu. A filha mais velha do casal, Adriana Metz, tinha um ano e meio e foi criada pelos avós.

Hoje integrante do comitê executivo das Avós da Praça de Maio, Adriana participou diretamente do reencontro com o irmão.

Durante a primeira conversa, ele revelou que foi criado como filho único e desconhecia a origem biológica.

O reencontro foi possível graças à coleta e análise de material genético comparado a amostras arquivadas desde os anos 1980.

As Avós da Praça de Maio foram fundadas em 1977 com o objetivo de localizar crianças sequestradas durante a ditadura militar de 1976 a 1983. A repressão resultou em cerca de 30 mil desaparecimentos.

Estima-se que 500 bebês foram retirados de prisioneiras políticas e entregues a famílias ligadas ao regime. O objetivo era eliminar vínculos políticos e biológicos com os opositores.

Segundo Estela de Carlotto, presidente da entidade, ainda há cerca de 300 netos desaparecidos.

A dirigente, de 94 anos, afirmou que a busca é coletiva e continua. Ela declarou que os netos "estão entre nós", em referência à possibilidade de que muitos vivam sem saber de sua origem.

Desde 2021, o governo argentino havia enviado kits de DNA para consulados no exterior, com o objetivo de alcançar filhos de desaparecidos que vivem fora do país.


Ainda assim, a busca enfrenta dificuldades, como o tempo decorrido e a ausência de registros. Pessoas com idade entre 45 e 49 anos são o foco da identificação atual.

O caso ocorre em um contexto de tensões entre grupos de direitos humanos e o governo Javier Milei, empossado em 2023. Desde então, medidas têm sido adotadas que impactam diretamente os mecanismos de busca e identificação.

Entre elas, estão o fechamento da unidade especial de investigação da Comissão Nacional pelo Direito à Identidade, o desfinanciamento do Banco Nacional de Dados Genéticos e a dissolução da equipe de análise de arquivos das Forças Armadas.

Além disso, há registros de restrição de acesso a documentos oficiais nos ministérios da Defesa e da Segurança.

Em resposta, em maio, representantes das Avós da Praça de Maio se reuniram com autoridades da União Europeia em Bruxelas, buscando apoio institucional para manter e ampliar os testes de DNA.

Em março de 2024, milhares de pessoas participaram da marcha pelo Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça, realizada anualmente na Praça de Maio, em Buenos Aires.

O evento reafirmou o compromisso com a busca pelos desaparecidos e com a preservação da memória das vítimas da repressão militar.

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