
Um papa de sensibilidade social, de um grande acervo de humanidade e com experiência missionária, que surpreende já na escolha do nome papal. Assim, o padre Marcial Maçaneiro SCJ, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, analisa o papa Leão XIV, a pedido do Portal iG.
O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, nascido em Chicago, nos Estados Unidos, conhecido pelo perfil discreto e por ser alinhado ao estilo reformista de Francisco, com ampla formação teológica e domínio do direito canônico, foi anunciado no Vaticano na tarde desta quinta-feira (8), como novo líder da Igreja Católica, sucedendo o papa Francisco, falecido no último dia 21 de abril.
Para o padre Marcial, sua eleição foi surpresa para aqueles que, como ele, esperavam um papa europeu ou de raízes na Europa. “Como o cardeal [Pierbattista] Pizzaballa, que estava em Jerusalém, mas é italiano. Mas eu acreditava também que os cardeais poderiam escolher um nome menos mencionado, porque alguns favoritos, sobretudo os italianos, estão muito bem posicionados. Então, eles poderiam adotar uma outra configuração estratégica e inteligente de eleger um outro papa capaz de trabalhar melhor com eles onde eles já estão. Ou seja, um papa que tivesse o [Pietro] Parolin na Secretaria de Estado e que pudesse confiar em Pizzaballa, em Jerusalém”, analisou o teólogo, mencionando dois cardeais italianos que figuravam entre os favoritos neste conclave.
Ainda de acordo com o padre Maçaneiro, o papa Leão XIV não é simplesmente um Papa dos Estados Unidos.
“Seu nome vem de origem francesa, então ele tem uma raiz também no velho continente e é uma figura que passou pela América Latina. Tanto é que ele se expressa em espanhol e tem muitos anos trabalhando no Peru ”, acrescentou.

Nome surpreendeu
Para o padre Maçaneiro, o que surpreendeu foi o nome papal escolhido pelo cardeal norte-americano.
“O papa Leão XIII, no finalzinho do século XIX, foi o primeiro grande pontífice que inaugurou, por assim dizer, o diálogo da Igreja Católica com o mundo moderno, antes já do Conselho Vaticano II. Modernidade no sentido de dialogar com o movimento operário, a social democracia, que ainda não era partido, mas que já tinha muita influência com operários, com industriais cristãos. Havia projetos também de uma universidade católica que pensasse a expressão social do Evangelho”, destaca o teólogo.
Ele enfatiza que Leão XII foi o papa que lançou o primeiro documento com esses temas sociais.
“Isso revela que a paz, o mundo do trabalho, a vida social e os migrantes estão na agenda da Igreja. E aí, o cardeal Prevost é eleito e faz uma homenagem a um papa que tocou nesses temas, há muito tempo e que talvez fosse esquecido”, ressalta.
Padre Maçaneiro pontua também o simbolismo do nome Leão.
“Significa um papa corajoso, que se faz ouvir. Leão, na tradição judaica , lembra a tribo de Judá, é símbolo da realeza de Davi, é um símbolo messiânico, bonito, de esperança. É um papa que diz, pelo seu nome, que vai cuidar dos elementos sociais, que vai voltar a dar muita atenção ao ensino social da Igreja, que vai ter um olhar para o Hemisfério Sul, a América Latina, Ásia, África.
Me parece que vai estar à altura de uma bonita missão”, avalia Padre Marcial.
Papa de continuidade e novos passos
Em relação ao legado deixado pelo papa Francisco, padre Marcial acredita que Leão XIV venha a ser um papa de continuidade nos aspectos principais do seu antecessor, sobretudo a agenda social.
“Mas não um xerox do Papa Francisco. É um homem que tem suas convicções, seu aprendizado, sua trajetória. E o nome Leão XVI talvez o ajude a se inspirar nas bem-aventuranças, no encontro da Igreja com a modernidade. Vejo continuidade, mas eu vejo também muito espaço para uma agenda própria, criativa, talvez dando novos passos. É um papa de sensibilidade social, de um grande acervo de humanidade e com experiência missionária. Ele expressa confiança e, com essa escolha também do nome Leão XIV, ele expressa um projeto”, conclui o padre Marcial Maçaneiro.