O regime Talibã no Afeganistão , que voltou ao poder em agosto de 2021, elabora e propaga, pela força, o que foi definido pela ONU como apartheid de gênero . As medidas adotadas contra os direitos das mulheres no país receberam um novo acréscimo no final de 2024.
Hibatullah Akhundzada , líder do Emirado Islâmico do Afeganistão , assinou um decreto proibindo a construção de janelas em prédios residenciais que tenham vista para áreas usadas por mulheres, como pátios e cozinhas. As janelas já existentes devem ser bloqueadas ou vedadas.
Ao todo, a lista de restrições se ramifica e ergue barreiras que tiram o acesso à educação, ao emprego e à liberdade das afegãs. "Ver mulheres trabalhando em cozinhas, em pátios ou coletando água de poços pode levar a atos obscenos", justificou o porta-voz do governo Zabihullah Mujahid no X.
Restrições às mulheres
Em outra decisão, o regime determinou que as ONGs, nacionais ou estrangeiras, sejam encerradas caso dêem emprego às mulheres afegãs. O ano de 2024 ficou marcado no país pela emissão de ordens restritivas às mulheres, que tiveram salários reduzidos em cargos do governo, foram proibidas de cantar e falar em voz alta em público, de receber treinamento de saúde e de ser atendidas por médicos do sexo masculino.
O Talibã retornou ao poder há três anos, prometendo manter os direitos conquistados pelas mulheres durante a ocupação americana. O tom moderado foi substituído rapidamente pela radicalização dos costumes e pela imposição de sua interpretação estrita da lei islâmica, a exemplo da primeira vez que o grupo controlou o país.
Mudanças em três anos
O uso da burca voltou a ser obrigatório no Afeganistão. As emissoras de rádio pararam de transmitir vozes femininas e a educação de meninas ficou limitada ao ensino fundamental. Ao silenciar as mulheres, o regime se isolou e não é reconhecido pela ONU. Alguns países, como Rússia, China, Paquistão e Emirados Árabes Unidos, mantêm relações com o Talibã.
O Tribunal de Justiça Europeu considera as mulheres do Afeganistão como um grupo sujeito à perseguição. Um estudo realizado pelas Nações Unidas no início de 2024 constatou que 67% das afegãs acreditam que a sua situação se agravará se o Talibã for reconhecido formalmente como governo.
Volker Turk, o chefe de direitos humanos da ONU, se disse alarmado com a decisão do regime de revogar as licenças das ONGs que empregarem mulheres e resumiu com uma frase a sua condenação: "Nenhum país pode progredir — política, econômica ou socialmente — enquanto exclui metade de sua população da vida pública".