O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta terça-feira (19) no encerramento da Cúpula de Líderes do G20 no Brasil. O evento aconteceu no Rio de Janeiro e terminou com a passagem do bastão da liderança para a África do Sul.
O Brasil, no último ano, foi responsável por coordenar o G20, e a cúpula da última semana discutiu ideias para o desenvolvimento sobre “perspectivas que interessam à vasta maioria da população mundial.”
No discurso, Lula relembrou como este foi o terceiro de quatro anos nos quais “a liderança do G20 coube a países em desenvolvimento.” Anteriormente, Indonésia e Índia assumiram a liderança; agora, África do Sul fecha o cortejo.
Discurso de Lula
Lula aproveitou o encerramento para relembrar os principais tópicos discutidos durante a liderança do Brasil: mudança climática, luta contra fome e pobreza, e taxação de grandes riquezas (o presidente chamou este de “debate inédito”).
Na ideia de passar o bastão para a África do Sul, o Brasil trabalhou a ideia de economia e endividamento, assim como desenvolvimento e maior transparência em bancos.
A violência de gênero também foi pauta importante do ano. Como explicou o presidente: “Instalamos o Grupo de Trabalho sobre Empoderamento das Mulheres e propusemos um décimo oitavo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável para promover a igualdade racial.”
Passagem do bastão para África do Sul
Lula, durante o discurso, passou o bastão para Ramaphosa, presidente da África do Sul. Com a transferência, fechou-se um ciclo no qual todos os países do G20 tiveram oportunidade de exercer a liderança do grupo.
O presidente do Brasil disse que, com o passado, há possibilidade de avaliar perspectivas e entender pontos de melhoria: “É com essa esperança que passo o martelo da presidência do G20 para o presidente Ramaphosa.”
Lula acrescentou:
“Esta não é uma transmissão de presidência comum – é a expressão concreta dos vínculos históricos, econômicos, sociais e culturais que unem a América Latina e a África. Agradeço a todos os que contribuíram com a presidência brasileira, em especial as pessoas que trabalharam para viabilizar os resultados que alcançamos. Desejo ao companheiro Ramaphosa todo sucesso na liderança do G20. A África do Sul poderá contar com o Brasil para exercer uma presidência que vá além do que pudemos realizar.”
Leia o discurso de Lula no G20 na íntegra:
"O Brasil completa hoje a penúltima etapa de uma sequência de quatro anos em que a liderança do G20 coube a países em desenvolvimento.
Indonésia, Índia, Brasil e, agora, África do Sul trazem à mesa perspectivas que interessam à vasta maioria da população mundial.
Partindo de Bali, passando por Nova Délhi e chegando ao Rio de Janeiro, buscamos promover medidas com impacto concreto sobre a vida das pessoas.
Lançamos uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e iniciamos um debate inédito sobre a taxação de super-ricos.
Colocamos a mudança do clima na agenda dos Ministérios de Finanças e Bancos Centrais e aprovamos o primeiro documento multilateral sobre bioeconomia.
Fizemos um Chamado à Ação por reformas que tornem a governança global mais efetiva e representativa e dialogamos com a sociedade por meio do G20 Social.
Lançamos um roteiro para tornar os bancos multilaterais de desenvolvimento melhores, maiores e mais eficazes e demos voz aos países africanos na discussão sobre o endividamento.
Instalamos o Grupo de Trabalho sobre Empoderamento das Mulheres e propusemos um décimo oitavo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável para promover a igualdade racial.
Definimos princípios-chave sobre comércio e desenvolvimento sustentável e adotamos o compromisso de triplicar a capacidade global de energias renováveis até 2030.
Criamos uma Coalizão para a Produção Local e Regional de Vacinas e Medicamentos e decidimos expandir o financiamento para infraestruturas de água e saneamento.
Sediamos eventos da Rodada de Investimentos da Organização Mundial da Saúde, por acreditar que mais recursos são necessários para uma resposta coletiva a novos e persistentes desafios sanitários.
Aprovamos uma Estratégia para Promover a Cooperação em Inovação Aberta contra assimetrias na produção científica e tecnológica e decidimos estabelecer uma força tarefa sobre a governança da inteligência artificial no G20.
Neste ano, realizamos mais de 140 reuniões em 15 cidades brasileiras.
Voltamos a adotar declarações consensuais em quase todos os grupos de trabalho.
Deixamos a lição de que, quanto maior for a interação entre as trilhas de sherpas e de finanças, maiores e mais significativos serão os resultados dos nossos trabalhos.
Trabalhamos com afinco, mesmo cientes de que apenas arranhamos a superfície dos profundos desafios que o mundo tem a enfrentar.
Depois da presidência sul-africana, todos os países do G20 terão exercido, pelo menos uma vez, a liderança do grupo.
Será um momento propício para avaliar o papel que desempenhamos até agora e como devemos atuar daqui em diante.
Temos a responsabilidade de fazer melhor.
É com essa esperança que passo o martelo da presidência do G20 para o presidente Ramaphosa.
Esta não é uma transmissão de presidência comum – é a expressão concreta dos vínculos históricos, econômicos, sociais e culturais que unem a América Latina e a África.
Agradeço a todos os que contribuíram com a presidência brasileira, em especial as pessoas que trabalharam para viabilizar os resultados que alcançamos.
Desejo ao companheiro Ramaphosa todo sucesso na liderança do G20. A África do Sul poderá contar com o Brasil para exercer uma presidência que vá além do que pudemos realizar.
Lembro as palavras de outro grande sul-africano, Nelson Mandela, que disse: é fácil demolir e destruir; os heróis são aqueles que constroem.
Vamos seguir construindo um mundo justo e um planeta sustentável. Muito obrigado."