Em outubro de 2023, quando o mundo já estava lidando com todo o impacto da invasão russa à Ucrânia há mais de um ano e meio, a comunidade internacional foi arrebatada pela eclosão de uma guerra declarada por Israel contra a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas .
A atenção da comunidade internacional está toda voltada ao Oriente Médio, diante dos impactos da invasão de Israel em Gaza após o ataque realizado pelo grupo extremista Hamas, que já deixou mais de 12 mil mortos - além de milhares de desabrigados, feridos e refugiados.
Contudo, a triste realidade é que as guerras de Israel e da Ucrânia não são as únicas em curso no mundo neste momento - mas nem todos os confrontos acabam ganhando a mesma atenção internacional.
Essa preocupação costuma crescer baseada em diversos fatores: o risco de escalonamento do conflito e o envolvimento de grandes potências com poderes nucleares, por exemplo, acabam gerando mais apreensão da comunidade internacional.
Conheça, a seguir, outros confrontos armados que estão em curso, mas vêm recebendo menos atenção internacional:
Burkina Faso
É um país africano limitado a oeste e a norte pelo Mali; a leste pelo Níger; ao sul pelo Benim, Togo, Gana e Costa do Marfim. A guerra de Burkina Faso é a frente mais violenta de um conflito mais amplo na região do Sahel, no norte da África, e afeta áreas de outros nove países: Mauritânia, Senegal, Mali, Níger, Nigéria, Chade, Sudão, Eritreia e Etiópia.
O conflito começou em 2016, com confrontos brutais entre o governo local e grupos insurgentes islâmicos, como o Ansarul Islam, que tem ligações com a Al Qaeda e o Estado Islâmico no Sahel (ISS).
O ano mais mortal dessa guerra foi 2022, quando foram registradas as mortes de 1.418 civis, segundo a Base de Dados de Eventos de Locais de Conflitos Armados (ACLED). A Anistia Internacional estima que pelo menos 46 locais em Burkina Faso estavam sob cerco de grupos armados até julho deste ano.
Mianmar
Uma nação do sudeste asiático com mais de 100 grupos étnicos, que faz fronteira com Índia, Bangladesh, China, Laos e Tailândia. Em 2021, o país sofreu um golpe militar seguido de forte repressão a opositores políticos do regime.
Assim, deu-se início a uma guerra civil, com ataques cada vez mais violentos entre os militares e grupos organizados de civis armados conhecidos como Força de Defesa do Povo.
Pesquisadores independentes citados pela ONU estimam que mais de 13 mil crianças morreram, e 1,3 milhão de pessoas foram deslocadas de suas casas em Mianmar devido ao conflito.
Sudão
Esse país africano fica limitado a norte pelo Egito; a leste pelo Mar Vermelho, por (fronteira com a Arábia Saudita), pela Eritreia e pela Etiópia; ao sul pelo Sudão do Sul; e a oeste pela República Centro-Africana, Chade e Líbia.
Já faz sete meses que o Sudão vivencia uma guerra entre o exército e grupos paramilitares , em meio a uma disputa pelo poder entre dois generais que lutam pelo controle do país: o líder militar Abdel Fattah al-Burhan; e o comandante das Forças de Apoio Rápido, Mohamed Hamdan Dagalo, que atuaram juntos para derrubar o presidente sudanês deposto Omar al-Bashir em 2019.
Após o golpe militar em 2021, ambos passaram a disputar quem assumiria o controle das Forças de Apoio Rápido, que seriam parte do plano para reintegrar um governo civil no país.
Sem uma decisão amigável sobre quem seria o comandante e quem estaria subordinado, começou o conflito que já acendeu o alerta na comunidade internacional para o risco de um genocídio.
Após sete meses de guerra, em meio à recente intensificação dos combates, Clementine Nkweta-Salami, coordenadora humanitária da ONU no país, disse que a situação no Sudão se assemelha “ao mal absoluto” na última sexta-feira (10).
"Francamente, nos faltam palavras para descrever os horrores que estão acontecendo no Sudão", disse ela em uma coletiva de imprensa. A alta comissária também afirmou que há relatos de violência sexual e de gênero, de desaparecimentos forçados, prisões arbitrárias e graves violações dos direitos humanos e das crianças no país.
Até então, cerca de 9 mil pessoas foram mortas, 25 milhões (mais da metade da população) passou a depender de ajuda humanitária e quase seis milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas.
Iêmen
O Iêmen é um país árabe que ocupa a extremidade sudoeste da Península da Arábia. Com boas condições geográficas no que diz respeito à água e terras férteis, o país baseia sua economia na agricultura e na exportação de petróleo.
Contudo, enfrenta diversos problemas socioeconômicos, como desemprego e pobreza em níveis altíssimos, agravados pelo conflito que começou como uma guerra civil, mas cresceu alimentado por rivais regionais, cada um escolhendo seu lado.
Enquanto a Arábia Saudita apoia o governo internacionalmente reconhecido do Iêmen (ainda que enfraquecido), o Irã apoia o movimento Houti, conhecido como Ansar Allah (“Apoiadores de Deus”).
Em setembro de 2014, os Houtis tomaram a capital Sanaa e expulsaram o governo. Depois, uma coalizão liderada pela Arábia Saudita decidiu intervir com apoio do Reino Unido e dos EUA.
Oito anos depois, os Houtis ainda controlam a capital e os combates deixaram o país à beira de uma crise de fome que afeta milhões de pessoas, segundo a ONU.
Somália
A guerra civil da Somália se intensificou no começo dos anos 2000, com a ascensão do Al Shabaab, grupo que tenta derrubar o governo local com apoio de países do ocidente para estabelecer seu próprio governo, com leis baseadas numa interpretação radical da lei islâmica.
Segundo a ONG Human Rights Watch, o Al Shabaab conduz “ataques indiscriminados e direcionados contra civis e recruta crianças à força" na Somália.
Dados do Uppsala Conflict Data Program, programa sueco de coleta de dados sobre violência organizada sediado na Universidade de Uppsala, na Suécia, a violência na Somália cresceu em 2022, chegando ao patamar mais alto de mortes desde o início da década de 1990.
Nigéria e Síria
Os conflitos internos na Síria e na Nigéria já deixaram quase mil mortos em combate cada. Com esse grau de violência, os confrontos já estão próximos de serem considerados guerras (mesmo que não haja uma declaração explícita) pelo UCDP, de acordo com dados preliminares.
A Nigéria é palco de violência exercida por grupos organizados desde sua independência, no ano de 1960. Atualmente, a maior parte do problema é causado pelas batalhas entre forças do governo e grupos radicais islâmicos que almejam controlar o território.
Por sua vez, a guerra civil na Síria começou por meio de protestos contra o governo do presidente Bashar al-Assad, em março de 2011. O conflito envolve grupos rebeldes e grandes potências estrangeiras, como a Rússia (que invadiu a Ucrânia), a Turquia (país de maioria muçulmana, que chamou de volta seus diplomatas em Israel), a Arábia Saudita, o Catar, e os Estados Unidos (os três envolvidos envolvidos na negociação para repatriação de estrangeiros na Faixa de Gaza).
Rússia contra a Ucrânia
A crise que culminou no conflito armado em curso começou em 2014, quando a Rússia anexou o território ucraniano da Crimeia, num movimento não reconhecido pela comunidade internacional.
Em fevereiro de 2022, a Rússia invadiu grande parte do território da Ucrânia, o que causou um novo fluxo de refugiados aos milhões e dezenas de milhares de mortos. Falando apenas dos civis, formalmente a ONU contabiliza 9,9 mil mortos, mas ressalta que o número real certamente é maior.
O presidente russo, Vladimir Putin, passou a apoiar separatistas pró-Rússia que enfrentam militares ucranianos na região fronteiriça de Donbass.
Atualmente, a Rússia controla cerca de 17,5% do território internacionalmente reconhecido como sendo da Ucrânia.
No início deste mês de novembro de 2023, a Ucrânia informou que quase 120 áreas do país foram bombardeadas num intervalo de 24 horas, no que configura o maior ataque individual russo desde o início do ano.
Isso, somado à saída da Rússia do tratado internacional contra testes nucleares , reforça o temor de uma escalada de violência muito perigosa na região.