O líder mafioso Matteo Messina Denaro, chefe da Cosa Nostra que passou quase 30 anos foragido, morreu aos 61 anos de idade em um hospital de L'Aquila, no centro da Itália. O falecimento foi anunciado na madrugada desta segunda-feira (25), noite de domingo no Brasil, e marca o fim de uma era na poderosa máfia siciliana.
Messina Denaro lutava contra um tumor no cólon havia três anos e estava internado desde agosto, cercado por um forte esquema de segurança. Na última sexta (22), os médicos declararam que ele havia entrado em coma irreversível.
Com base no testamento biológico deixado pelo chefão da Cosa Nostra, o hospital suspendeu a alimentação intravenosa, já que ele tinha expressado sua contrariedade à persistência terapêutica quando não houvesse mais possibilidade de reversão do quadro.
O "padrino" passou por quatro cirurgias e diversos ciclos de quimioterapia desde 2020, inclusive quando ainda estava foragido. Em janeiro passado, foi preso em um hospital privado de Palermo, na Sicília, onde fazia tratamento sob uma identidade falsa.
Logo após a captura, os médicos da penitenciária de segurança máxima de L'Aquila para onde Messina Denaro foi levado constataram que o quadro de saúde era grave. Inicialmente, o mafioso passou por sessões de quimioterapia na cadeia, em uma cela com enfermaria, enquanto cumpria pena de prisão perpétua em regime de isolamento total por associação mafiosa, homicídios, atentados e posse e transporte de explosivos.
Em agosto, sua condição piorou, e ele foi levado para um hospital, de onde não sairia mais com vida. Antes de perder a consciência, reconheceu a paternidade e deu o sobrenome para sua filha Lorenza, nascida durante seu período como foragido.
A herdeira do ex-homem mais procurado da Itália passou os últimos dias ao lado do leito do pai, assim como a sobrinha Lorenza Guttadauro, advogada do mafioso.
Messina Denaro era tido como o último representante da "era dos massacres" da Cosa Nostra, período entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 em que a máfia cometeu atentados nas principais cidades italianas. Dois deles, ambos em 1992, custaram as vidas dos juízes antimáfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino.
O líder mafioso era considerado o "chefe dos chefes" da Cosa Nostra desde a prisão de Bernardo Provenzano (1933-2016), o sucessor do sanguinário Salvatore "Totò" Riina (1930-2017), em 2006. Messina Denaro ficou foragido entre 1993 e janeiro de 2023 e procurou tirar a máfia siciliana dos holofotes, também diversificando os investimentos para lavar o dinheiro obtido com atividades criminosas.
Além disso, ficou conhecido pelo estilo mulherengo e playboy, com inclinação por marcas de luxo, e pela crueldade contra inimigos. Ele se gabava de ter assassinado pessoas suficientes para "lotar um cemitério", porém investigadores acreditam que ele nunca conseguiu reconstruir a estrutura unitária da Cosa Nostra, que se fragmentou após a era dos massacres.
Messina Denaro deve ser sepultado no jazigo da família em Castelvetrano, na Sicília, após um funeral não religioso, vontade deixada por escrito pelo líder da Cosa Nostra.