O evento reúne líderes das nações com as 20 maiores economias do mundo
Alexey Struyskiy/Shutterstock
O evento reúne líderes das nações com as 20 maiores economias do mundo


Neste fim de semana (dias 9 e 10 de setembro) será realizado em Nova Délhi, na Índia, o próximo encontro do G-20, o Grupo dos 20 países com maior desenvolvimento econômico do mundo, reunindo 85% da produção econômica global, 75% do comércio mundial e dois terços da população. 

O encontro contará com a presença e participação especial do presidente Lula (PT), pois o Brasil assumirá a presidência do grupo a partir de dezembro, ocupando o posto por um ano. Em 2024, o encontro do G-20 será realizado no Rio de Janeiro.


O que faz o G-20?

Atualmente, o G-20 é formado por 19 países (Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Türkiye, Reino Unido e Estados Unidos), mais a União Europeia. Os países convidados deste ano foram Bangladesh, Egito, Ilhas Maurício, Holanda, Nigéria, Omã, Singapura, Espanha e Emirados Árabes Unidos.

Criado em 1999, o objetivo do G-20 ao promover encontros entre os chefes de Estado é discutir questões financeiras globais e coordenar políticas de interesse mútuo. Desde 2008, as reuniões passaram a ser anuais, discutindo não apenas questões macroeconômicas amplas, mas também comércio, desenvolvimento sustentável, saúde, agricultura, energia, meio ambiente, mudanças climáticas e políticas anticorrupção. 

Como o grupo não tem um secretariado ou pessoal permanentes, a Presidência do G-20 é rotativa, mudando de país sempre no final de novembro. O próximo país a assumir a liderança será o Brasil, que será responsável por reunir a agenda do grupo, em consulta com outros membros e em resposta à evolução da economia global. 

Desfalques 

Vladimir Putin em reunião remota com o Presidente da China, Xi Jinping
Kremlin - 30.12.2022
Vladimir Putin em reunião remota com o Presidente da China, Xi Jinping


A reunião não contará com a presença do presidente da Rússia, Vladimir Putin (que teve um pedido de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional em março por crimes de guerra cometidos na Ucrânia), e da China, Xi Jinping, que tem relações estremecidas com o país anfitrião. 

É a primeira vez desde 2008 que um presidente chinês falta a uma cúpula do G-20. Sem uma justificativa formal para a ausência de Xi Jinping, sobram especulações e questionamentos se a indiferença do presidente chinês se dirige à Índia ou ao grupo como um todo. 

De acordo com o internacionalista e professor Leandro Consentino, embora a China tenha enviado representantes à reunião da cúpula, a ausência do presidente de um país de economia tão grande é simbólica e “desprestigia, de alguma forma, esse foro”.

O motivo da ausência ainda não está claro, mas de antemão, Leandro explica a necessidade e o desafio que os membros do G-20 terão para manter a relevância de uma cúpula que não tem o mesmo prestígio de outrora.

“Cabe aos países como o Brasil, que vai assumir a presidência dessa cúpula, equilibrar-se entre os interesses do Ocidente de um lado, e dos blocos não ocidentais do outro, sobretudo China e Rússia, tentando entender como se pode manter essa equidistância”, disse o  doutor em Ciência Política.

Pauta de debates

Representantes de cada país do G20
Reprodução: commons - 18/04/2022
Representantes de cada país do G20


O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, anunciou que Nova Délhi iniciará o debate sobre a adesão da União Africana (UA), grupo de 55 países que promove a integração no continente africano, ao G-20. Caso isso ocorra, será a primeira adesão de novos membros ao grupo desde a sua criação.

A Índia também deve dar atenção especial na agenda do encontro ao trabalho de digitalização de serviços que o país vem desenvolvendo. A expansão da prestação de serviços digitais, com atribuição de identificação única para cada cidadão e a obtenção de uma conta bancária para transferências e uso de dinheiro digital para reduzir a utilização de moeda serão alguns dos temas centrais no debate econômico.

O enfrentamento ao aquecimento global também é um tema de suma importância que faz parte dos debates da cúpula. Durante o encontro, é esperada uma nova cobrança de países em desenvolvimento para que as nações mais ricas apoiem financeiramente iniciativas em prol da sustentabilidade. 

Para além disso, o internacionalista, doutor em Ciência Política pela USP e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER), Leandro Consentino, aponta a expectativa de que Brasil, Estados Unidos e Índia para montarem um grupo de trabalho voltado à discussão sobre o uso de biocombustíveis. 

De acordo com Leandro, apesar da falta de entendimento entre nações ricas e países em desenvolvimento sobre a responsabilidade e dever de cada nação ao contribuir para custear as mudanças na matriz energética, o mais importante é que os líderes se atenham mais ao futuro que ao passado. 

“Os países em desenvolvimento dizem ‘bom, essa contribuição que vocês estão pedindo chegou justo na hora em que a gente precisa do nosso desenvolvimento, e vocês utilizaram a largo o desenvolvimento sujo'.” 

Leandro alerta que se os líderes das nações seguirem melindrando essas questões, “pensando só nas responsabilidades históricas e travar discussões por conta do que já foi, a gente vai ter problemas que não vai equacionar num prazo curto”, disse o internacionalista.

Na visão dele, é importantíssimo que as nações tenham responsabilidades compartilhadas, e que quem tiver mais recursos, colabore mais, “se não, vamos ficar parados na briga sobre assumir responsabilidades, para que a gente possa ter encaminhamentos efetivos”.

Mantendo essa postura de inação, “com o desenvolvimento ainda atrelado ao petróleo, quando o futuro certamente é verde - e precisa ser”, disse o internacionalista.

Principais desafios

Para Leandro Consentino, o maior desafio do G-20 hoje é equilibrar os diferentes interesses das potências que o compõe, visto que no presente “há diferenças muito sensíveis entre o Ocidente e países não-alinhados ao Ocidente”, que exigem habilidade política e “uma de boa dose de pragmatismo para conversar com ambos”.

Nesse contexto, também se insere o desafio econômico e ambiental no que diz respeito à transição energética, visto que há um lobby muito pesado das indústrias dos combustíveis fósseis. 

Para o especialista, não é nada fácil mudar essa realidade e vai ser preciso “uma habilidade muito grande para transformar a matriz energética mundial”, visto que os desastres naturais já são uma realidade e matam pessoas em todo o mundo ano após ano.


Discordâncias

Além dos desfalques, divergências entre líderes que compõem o G-20 podem ficar nítidas no texto de declarações finais do encontro, especialmente no que diz respeito ao tom empregado pelo grupo para falar sobre a invasão russa ao território da Ucrânia.  

Enquanto os Estados Unidos pretendem tentar emplacar uma declaração final com tom mais crítico e duro contra a guerra na Ucrânia, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, diz que Moscou não aceitará uma declaração conjunta que contrarie seus interesses.  Como Nova Délhi tem uma longa relação com a Rússia, é esperado que haja uma tentativa de evitar uma declaração enfática.

Sobre a guerra que preocupa todo o mundo - e especialmente a Europa - Leandro alerta que o Brasil sairia perdendo se a pauta da cúpula fosse “sequestrada” pelas discussões sobre a invasão russa à Ucrânia, mas pode obter ganhos significativos se “equilibrar a balança”, trazendo a discussão mais para perto do debate sobre a política ambiental e energética. 

Para isso, será importante e necessário “manter certa distância dos dois pares e ter o pé no chão para colocar a cúpula mais ligada ao seu interesse nacional e a questão do desenvolvimento sustentável do que tentar se envolver de maneira subserviente em qualquer um dos lados”.

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