Estudantes brasileiros promoveram uma manifestação contra a xenofobia na Universidade de Lisboa nesta terça-feira (16). O caso foi motivado por um episódio de discriminação ocorrido em abril e que está sendo investigado pela Faculdade de Direito da instituição.
Segundo as denúncias, um dos alunos da instituição, Hélder Semedo , que é português, teria insinuado que os brasileiros não possuem capacidade intelectual, e que tais estudantes deveriam ser apedrejados. Semedo atua como conselheiro no Conselho Geral da Universidade de Lisboa .
A advogada e mestranda em Ciências jurídico-políticas da FDUL, Maria Elena Leal, que esteve presente na manifestação, explicou que a o ato surgiu a partir da "sensação de impunidade", uma vez que a associação não se pronunciou sobre o caso e, num primeiro momento, não quis nem autorizar que as falas do aluno estivessem em ata. "Nós ficamos bastante indignados com isso, [pois] para que conseguisse de fato fazer um processo disciplinar que obtivesse frutos, nós precisávamos que aquilo tivesse em ata".
Leal
diz que além da reunião presencial, houve uma outra realizada de maneira remota. Nessa segunda reunião, foi decido que a associação iria se pronunciar acerca do caso – mas, novamente, nada ocorreu, o que despertou um sentimento de que o caso seria esquecido. "Resolvemos marcar a manifestação, para que a associação tomasse alguma providência e fizesse valer os nossos direitos enquanto alunos que não merecem ser violentados".
As falas de Semedo teriam ocorrido durante uma assembleia-geral dos alunos, e foi exposta em uma carta entregue à comitiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando visitou Portugal. A fala do aluno foi registrada em ata pública da Reunião Geral dos Alunos (RGA). Segundo Leal, o objetivo da reunião era levantar pautas sobre políticas públicas que que poderiam ser impementadas em prol dos estudantes brasileiros .
O documento aponta a seguinte frase: "As pessoas que escreveram isto acho que de fato mereciam levar com uma pedra". Além disso, o aluno faz apontamentos sobre a forma como a carta havia sido escrita, dizendo ter "erros crucias", como chamar o presidente de "Lula" ao invés de "Luiz Inácio". Semedo foi suspenso da reunião pelo presidente da RGA, António Cortês.
Em entrevista ao portal Portugal Giro, Semedo negou que tenha sido xenofóbico e disse que os alunos agiram de forma "leviana". Ele argumentou que jamais discriminaria um brasileiro, pois tem "familiares no Brasil".
Além do caso de xenofobia , os brasileiros tentavam mostrar as dificuldades que os estudantes estrangeiros vem tendo no país. Vale ressaltar que este não é o primeiro episódio de xenofobia contra os estudantes brasileiros que ocorreu na faculdade. Em 2019, um grupo teria colocado uma caixa cheia de pedras no saguão do prédio com os dizeres: "grátis para atirar em um zuca". A ocasião foi chamada por Semedo de "brincadeira" em seu ponto de vista.
Até o momento, a Faculdade de Direito não se pronunciou sobre o caso, nem sobre a manifestação. Ela ocorreu às 17h no horário local, se estendendo por uma hora no lado de fora da universidade. "A gente organizou tudo conforme a lei. A polícia foi lá para auxiliar na manifestação, e tudo ocorreu perfeitamente bem."