Putin em reunião com membros permanentes do Conselho de Segurança
Kremlin - 10.10.2022
Putin em reunião com membros permanentes do Conselho de Segurança

Nesta quinta-feira (27), durante uma reunião anual de um centro de estudos ligado ao Kremlin , o presidente russo Vladimir Putin declarou que o mundo vive sua década mais “crucial” e “perigosa” desde a Segunda Guerra Mundial , e fez duras críticas ao que chamou de “modelo ocidental” de governança.

" O Ocidente é incapaz de governar de maneira unilateral, não importa o quanto tente", disse o mandatário russo, que disse que o domínio do Ocidente “está chegando ao fim”.

"Estamos diante de um ponto de virada histórico. Provavelmente o mais perigoso e imprevisível, na década mais importante desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O Ocidente não é capaz de governar sozinho a humanidade, mas está tentando desesperadamente fazê-lo, e a maioria dos povos do mundo não quer mais aturar isso."

Putin fez uma analogia entre o movimento de placas tectônicas e a situação geopolítica atual, onde há um antagonismo evidente entre China e Rússia e os países ocidentais.

"No primeiro momento, tudo está muito calmo, essas placas estão em um movimento constante e então elas se encontram, as tensões incrementam e um terremoto acontece", afirmou. "Essas tensões costumavam acontecer no passado. Mas agora novos centros de poder estão emergindo, e não sou o único a dizer isso. Essas mudanças estão acontecendo por razões objetivas."

Putin continuou defendendo o que chama de “operação militar especial” na Ucrânia - uma guerra que se arrasta há mais de oito mesese trouxe consequências estruturais e econômicas para ambos os países.

Em meio a argumentos conhecidos, disse que “o Ocidente nos levou até esse ponto”, e afirmou que o Leste ucraniano, parcialmente dominado por separatistas pró-Moscou desde 2014, “não sobreviveria” sem sua incorporação à Rússia.

"Precisamos decidir o que fazer com Donbass [Leste da Ucrânia] porque as pessoas lá viviam sob fogo cruzado há oito anos. Precisávamos reconhecer sua independência", disse Putin, repetindo o conceito de que “russos e ucranianos são um só povo”, e sugerindo que o Estado ucraniano moderno é uma “criação artificial” herdada dos tempos soviéticos.

O mandatário russo afirmou que todas as vezes em que mencionou o arsenal nuclear russo, foi em resposta ao que considerou ser uma ameaça desse tipo feita por nações ocidentais. Ele disse que “enquanto existirem armas nucleares, sempre existirá o risco de que sejam usadas”.

"Nunca dissemos nada de forma proativa sobre o possível uso de armas nucleares pela Rússia. Apenas mencionamos isso em resposta a declarações feitas por líderes ocidentais", disse Putin. "Liz Truss [ex-premier britânica] disse isso abertamente, que o Reino Unido é uma potência nuclear, e que ela estava preparada para fazer isso, e ninguém reagiu da mesma forma com ela."

A fala no Clube Valdai, que se estendeu por mais de duas horas, foi uma oportunidade usada pelo presidente russo para discorrer sobre o a emergência de um modelo “alternativo” ao que considera ser o domínio da ordem controlada pelo Ocidente. Para ele, as regras impostas por esse domínio são um jogo “perigoso e sujo”, e ajudam a acirrar tensões globais.

"Eles [o Ocidente] estão incitando a guerra na Ucrânia, escalando as provocações ao redor de Taiwan e desestabilizando os mercados de alimentos e energia", disse Putin. "Sobre o último [mercado de energia], pelo que saiba, não foi algo deliberado, não temos dúvidas quanto a isso, foi graças a erros sistêmicos."

Putin mencionou ainda a “cultura do cancelamento” em relação à valores conservadores. Ele citou que autores russos estão sendo deixados de lado por causa da invasão russa da Ucrânia, e comparou a situação à queima de livros promovida na Alemanha nazista.

"[A cultura do cancelamento] aniquila tudo que está vivo e é criativo" , disse Putin. "Ela limita o crescimento do pensamento livre."

Putin ainda afirmou que as nações ocidentais são livres para introduzir seus próprios valores em sua sociedade, mas advertiu para que não faça o mesmo em outros locais, muito embora alguns digam respeito à dignidade das pessoas.

"Se as elites ocidentais acreditam que podem incutir nas mentes de seu povo, suas sociedades, tendências estranhas, na minha opinião, mas novas, como dezenas de gêneros e paradas do orgulho gay, então que assim seja, deixe-os fazer o que quiserem. O que eles definitivamente não estão certos é exigir que outros sigam na mesma direção", afirmou o presidente russo.

Apesar das críticas, Putin disse que não é um inimigo do ocidente, mesmo considerando que as nações ocidentais querem “destruir e apagar do mapa” a Federação Russa.

"Os novos centros da ordem global e o Ocidente precisam começar a ter uma conversa sobre o futuro. Quanto mais cedo, melhor", disse o presidente. "Mas as propostas da Rússia para o fortalecimento da confiança foram deixadas de lado."

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