O presidente da Rússia , Vladimir Putin , realizou a cerimônia de anexação unilateral das regiões ucranianas de Donetsk , Lugansk , Zaporizhzhia e Kherson nesta sexta-feira (30) e exaltou a história da União Soviética e a "vontade popular" para justificar a medida.
"Não há mais a URSS e você não pode voltar ao passado. Mas não há nada mais forte do que o desejo das pessoas de que sua cultura e linguagem serem partes da Rússia. Eles tinham o desejo de retornar para a pátria-mãe. O amor pela Rússia é um sentimento indestrutível [...] O povo fez sua escolha, uma escolha limpa", afirmou aos presentes.
Segundo os dados oficiais divulgados por Moscou , o "sim" para a anexação foi vitorioso de maneira quase unânime em Donetsk (99,23%) e em Lugansk (98,42%), ambas na área do Donbass. Os percentuais foram elevados também em Zaporizhzhia (93,11%) e em Kherson (87,05%), mas líderes internacionais dizem que a consulta foi fraudada para dar o resultado desejado pelos russos.
Putin ainda disse que queria que seu discurso fosse ouvido "em Kiev, no Ocidente: as pessoas que vivem em Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia virarão nossos cidadãos para sempre". O mandatário ainda acusou o Ocidente de fazer uma "guerra híbrida" na Ucrânia e as "elites" desses países de serem "colonialistas".
Nenhum país internacional de grande porte ou organização internacional, como as Nações Unidas, reconhecem os referendos feitos por Moscou nas quatro áreas ucranianas e afirmam que não há nenhuma base legal para as anexações.
Assim como fez durante o anúncio da mobilização parcial, que convocou centenas de milhares de russos para a guerra, o chefe do Kremlin destacou que a "nossa terra será defendida com todos os meios à nossa disposição". A fala também foi usada por um dos principais aliados de Putin, o ex-presidente Dmitri Medvedev, para dizer que os russos podem usar armas nucleares no território vizinho.
Também como já fez em diversos pronunciamentos desde o início da invasão na Ucrânia, em fevereiro deste ano, o mandatário voltou a dizer que a Rússia "reconquistou seu espaço no mundo" sob seu governo após os "trágicos anos 1990".
Em outro ponto do longo discurso, Putin disse que a Ucrânia deve "fazer um cessar-fogo do conflito iniciado em 2014" e que Moscou "está pronta para voltar à mesa de negociações". "Mas, a escolha da anexação não está mais em discussão", alertou, dizendo que a cerimônia de hoje é "o único caminho para a paz".
A Rússia está fazendo as maiores anexações forçadas na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Além das quatro áreas desta sexta-feira, Moscou já havia feito processo semelhante com a Crimeia, em 2014, logo no início dos primeiros confrontos separatistas na Ucrânia.
A decisão, somada à nova mobilização de soldados, é considerada uma nova escalada no conflito e pode causar ainda mais danos ao território ucraniano. Isso porque cada nova contraofensiva de Kiev para recuperar áreas controladas pelas tropas russas será considerada um ataque contra a Rússia - o que justificaria o uso de armamentos ainda mais pesados.
Durante o discurso, inclusive, Putin voltou a falar sobre as armas nucleares, dizendo que os EUA "abriram um precedente" ao usar esse tipo de armamento "por duas vezes" durante a Segunda Guerra no Japão em 1945.
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